quarta-feira, 20 de outubro de 2010

minha nudez

Lembro, como se fosse hoje, da primeira vez que uma mulher me viu nu. Não preciso dizer que estava vermelho. Ela, por sua vez, estava tranqüila, lidando com algo natural e rotineiro. No princípio, eu estava com os olhos fechados, mas lembro que ela tinha mãos fortes. Ainda me fez chorar, aquela enfermeira.
Pode ser que ela não fosse um modelo convencional de beleza, mas convenhamos, foi a primeira mulher que vi. Continuando na minha regressão, o que lembro é de um lugar pequeno e escuro. Ouvia vozes, mas não via ninguém. O lugar era melequento, gelatinoso. Por ali, tive de me acomodar durante nove longos meses. E sem internet, o que dificultou muito as coisas. Lembro que no dia em que conheci a enfermeira, já não havia mais espaço físico para eu continuar ali naquela bola de meleca quentinha. Estava exausto de ficar contorcido, tentava me acomodar, mas definitivamente, ou aquela bola crescia ou teria de sair dali, conhecer o mundo lá fora.
Foi nesse dia que me um cidadão enfiou um dedo na minha orelha. Apalpou. Depois enfiou outro dedo no meu olho, escorregou pro queixo. E do nada, me arrancou daquela da bolota em direção a uma luz. E que luz! Havia holofotes apontados para aquele túnel que percorri puxado pelo pescoço. Esse cidadão, que utilizava uma máscara - talvez para não ser identificado por mim no futuro - me entregou a tal enfermeira. Demorei a conseguir abrir os olhos, já que na esfera gosmenta vivi numa penumbra total por nove longos meses. O que facilitou minha visão, foram as lágrimas que correram após me baterem covardemente. A enfermeira, bastante ágil, segurou numa tacada só, meus dois pés pelos tornozelos. Imóvel e indefeso, me deram palmadas. Chorei como nunca havia chorado, para alegria de uma senhora de pernas abertas e felicidade dos vários mascarados que assistiam a tudo.
Lembro da enfermeira mascarada, que me deitou num pano branco e começou a retirar aquela gelatina que havia no meu corpanzil. Esfregava um pano úmido no meu corpo. Lembro do pano atrás das minhas orelhas. No meu suvaco, na virilha. Ai, como era bom na virilha. Talvez fosse imperceptível, mas meu tico ficou duro na hora. Ela continuou a esfregar as dobrinhas que havia nas minhas partes íntimas. Foi meu primeiro sorriso. Ela percebeu, e para se vingar, enfiou aquele pano na minha bunda. Imediatamente parei de sorrir. Acredito que devo ter sido identificado, já que ela colocou uma pulseira. Não pude ler, mas acho que dizia algo do tipo “macho”. Depois ela me apresentou àquela senhora que estava com as pernas abertas. Depois, pelo vidro, me exibiu a um senhor. Foi a última vez que vi aquela senhora mascarada, que abusou de mim no hospital, e depois sumiu da minha vida. Talvez seja ela a responsável pelas minhas fantasias com enfermeiras.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

a mulher fiel

A mulher fiel passou pela vida do Roger. Poderia ter passado e sumido, assim como passam várias diariamente. Mas, a internet os aproximou. Quando se conheceram tiveram o mesmo interesse, a vontade recíproca, trocaram olhares, aquela coisa toda, mas nada. Ela era fiel, casada, religiosa. E carioca! E as mulheres cariocas, dizem, são as melhores. Conheceram-se ao acaso. Conversaram e tal. Ela era linda, tinha um sotaque gostoso, carregado, era simpática. Mãe, mas com o corpo intacto. Não era alta, pelo contrário. E fiel, mesmo diante das crises que antecedem as separações.
Ela foi embora, para sua cidade. Perderam contato. Ele deixou de lembrar dela, no entanto, sem esquecê-la. Até que recebe um convite, pelo site de relacionamento no qual participava. Bem útil essas ferramentas tecnológicas que permitem esse tipo de aproximação entre as pessoas.
- Lembra de mim? - dizia ela no comentário da adição.
Lembrava. Tanto que deu vontade de revê-la. Mas, como? Se ela ao menos ela estivesse solteira. Conversaram mais algumas vezes, por outro programa de conversação, desses que todo mundo tem. Acredito que ainda no meio deste século registrarão as crianças com um nome e sobrenome, com RG, CPF e MSN. Todos os dados estarão registrados no mesmo cartão de identificação.
Ela estava casada ainda. Não havia se separado, porque sua filha era pequena e talicoisa. Mas, estava cada vez mais abandonada, carente. Roger não gostava de mulheres casadas. Contudo, solidarizava-se com as carentes. Preferia as solteiras que são menos complicadas. Mas, era impossível não gostar dessa. Um risco excitante, uma mulher apaixonante. Resolveu arriscar. Uma mulher fiel é algo que atraí. O perigo atraí, e mulheres fiéis são cada vez mais raras. Além disso conquistar uma mulher com princípios, convencê-la a mudar de idéia é um desafio, um desafio para um Roger.
- Tenho férias pra tirar no mês que vem. - comenta despretensiosamente.
- Vem pra cá? - provoca ela.
- Até iria, se tu não fostes fiel.
- Sei...
- Iria mesmo. Não duvide.
- Nunca vou trair meu marido com outro homem. Jamais! Enquanto for casada, serei fiel.
- Tenho onde ficar. Uma amiga mora aí. Mas, somente iria se valesse a pena.
- Então vem. Você não vai se arrepender.
Roger blefou. Não tinha grana. Como iria sair do extremo sul do Brasil e atravessar o Brasil? Era louco o suficiente, mas precisava de uma carona. Assim foi.

Comenta com um, depois com outro e conseguiu uma carona. Iria de caminhão, na primeira semana de férias. Teria de juntar dinheiro pra volta. Combinou com a amiga a hospedagem, arrumou a mala e foi. Nunca tinha andado de caminhão. Foi apresentado aos caminhoneiros no dia do embarque.
- Temos que carregar o caminhão, numa cidade do interior e depois vamos subir. Vai até aonde? Tem hora pra chegar lá? - pergunta o dono do caminhão.
- Não tenho pressa. Vamos indo e vejo onde vou descer. - diz Roger.
Poucas vezes sentiu-se tão confortável na estrada. Foi na janela, na carona. O ajudante do caminhoneiro, foi dormindo, na cama que existia na cabine.
- Pode colocar os pés no painel. Fica a vontade que a viagem é longa. - oferece o caminhoneiro. - Vai até aonde mesmo?
- Longe. - disse o Roger, com o pensamento na capital fluminense.
- Nós vamos até Jacareí, pode ser?
- Ótimo. - disse ele, sem sequer fazer a menor idéia de que Jacareí ficava em São Paulo.
Viagem longa, troca de motorista e uma viagem quase tranqüila. Tentava permanecer acordado o tempo todo, e o temporal que passara por Santa Catariana não o deixou cair em sono profundo. Na BR 101, pode observar os estragos do temporal, daqueles temporais que destroem tudo por lá. Árvores na estrada, casas destelhadas. A lua cheia iluminava à noite na estrada, o que facilitava a visão da destruição. Viajaram a noite inteira. Sonolento, acordou com o barulho estranho, já pela manhã. Leu nas placas: Curitiba. Algum problema havia ocorrido com a Scania. O dono do caminhão acordou também:
- Entra naquele posto. Tem uma oficina ali. - disse ele.
Roger não entendia nada de mecânica. Ficou na volta, de curioso. O mecânico disse que tinha de trocar uma peça. Só seguiriam viagem as duas horas depois. Antes, foram tomar café.
- Vamos chegar a noite em Jacareí - disse um deles.
O café foi reforçado. Não parariam para almoçar. A próxima parada seria a noite, em São Paulo. Troca de motoristas e seguiram rumo a grande São Paulo, onde chegaram tarde da noite. Antes de partir, Roger tomou um outro banho e saboreou mais um Prato Feito, chamado de PF. Agradeceu a carona e foi embora. Gostou de viajar de graça. Chegou na rodoviária pós meia noite:
- Para o Rio só as 7 horas da manhã.
- Bah! Pode ser, então. Que horas chega no Rio?
Comprou a passagem. Depois ligou para sua amiga, informando que chegaria por volta do meio dia. Teria de passar a noite na rodoviária. Receoso, não quis conhecer a cidade. Pediu água quente no único bar aberto e preparou seu chimarrão.

No Rio, conseguiu um final de tarde livre, para encontrar a mulher fiel:
- Pega o metrô e desce em Botafogo. - determinou ela, de forma objetiva.
Ao descer em Botafogo teve uma surpresa. A mulher fiel estava acompanhada de uma outra moça, uma loira bonita e simpática. Aliás, não existe carioca antipático.
- Essa é uma amiga minha. Vai nos acompanhar no motel. - explicou ela.
- Sabia que tu não irias me decepcionar, carioca. - vibrou ele.
Desceram até o metrô e embarcaram para a Glória:
- O motel que descobri, aceita que três entrem num quarto, mas cobram duas diárias...
- Eu pago! - gritou ele, dentro do metrô lotado.
Na recepção, sentiu pela primeira vez o prazer de ser invejado. Duas gatas o acompanhavam. A recepcionista do hotel olhou para ele, ensaiou um “pois não?“, mas quando observou as duas mulheres que o acompanhavam, deve ter relembrado da ligação feita a tarde, e logo alcançou a chave, esclarecendo que “seriam cobradas duas diárias”. Conversavam e bebiam no quarto, intercalando a ducha de chuveiro. Quando o Roger voltou do banho e viu a mulher fiel chupando a amiga carioca, achou que a mulher fiel não era tão fiel assim. Quando ela percebeu que ele estava escorado no marco da porta, observando a cena, ela disse:
- Ela tá pronta. É toda sua.
Roger consegui transar com uma carioca. A mulher fiel manteve-se ao lado, observando de perto a foda. Permaneceu ao lado do casal, acariciando-os. Mas, conforme havia prometido ao seu esposo ausente perante as leis da sua igreja, jamais, enquanto estivesse casada, o trairia com outro homem.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

o meu mundo utópico

No meu mundo utópico, não há proibições. Não se faz necessário criar regras ou leis proibindo algo. Isso porque no meu mundo utópico as pessoas se respeitam tanto que escrever leis é desnecessário. Rasgamos a nossa Constituição!
Por isso, no meu mundo, foi liberado o uso da maconha. Eu nem fumo, embora tenha pra vender ali na esquina. Também não me importo com isso, eis que quem fuma não me incomoda com seus devaneios e sua fumaça. Eles não fumam em locais fechados, embora a lei anti fumo tenha sido revogada, pois no meu mundo utópico, os fumantes sabem que a fumaça incomoda aos outros.
O governo desse meu mundo, manteve poucas leis, totalmente desnecessárias, grifo eu. O tal Código de Trânsito, estudamos na escola, e nos basta para que nos tornemos todos condutores gentis, cordiais, e todos os motoristas cumprem a sinalização que orienta o fluxo e a prioridade do trânsito é a vida. Arquivamos o antigo Código de Trânsito! Esses dias tivemos um desentendimento, após uma colisão entre dois veículos.
- A culpa foi minha, desculpe. - disse um condutor.
- Negativo! Quem errou fui eu. Eu pago tudo! - disse o outro.
Aliás, o governo é uma mera formalidade, uma exigência da ONU, talvez. O voto não é obrigatório. Aliás, nada é obrigatório. Ficou em desuso obrigar alguém a fazer alguma coisa. Mesmo assim, quase todos votam, pois somos um povo politizado. Os próprios candidatos são muito preparados. Políticos corruptos são coisa do passado. Eles assumem o cargo por interesse em participar desse mundo utópico. O grande desafio deles é melhorá-lo. Esses tempos um palhaço se candidatou a deputado, coitado. Voltou pro circo.
Não há poluição visual, já que ninguém comprava em lugares que poluíam. Também não há poluição sonora, cada um escuta a sua música sem atrapalhar a música do outro. E a jogatina? Liberada, óbvio. Gerou empregos, impostos que são convertidos em melhorias para a população e lucros para o turismo. Antes, íamos apostar em cassinos de países vizinhos, nos divertíamos no exterior, uma evasão de divisas desnecessária. Todos sabem que são jogos de azar, mas não vamos para enriquecer, mas sim para nos divertir. Gostamos de perder moedas em caça-níqueis. É um direito nosso.
No futebol, não há brigas de torcidas. Quem ganha vibra, pula. Quem perde, dá risada, afinal é apenas futebol, um esporte. O casamento de homossexuais é permitido, obviamente, já que não temos preconceitos nem restrições.
Mas, falo do meu mundo utópico, pois esses dias estive no Brasil. Lá no Brasil, percebi um alvoroço. Falavam sobre o aborto. Época de eleição, imprensa agitada, e o aborto era o assunto. Na verdade, não era o aborto o assunto. O assunto era a religião: o olhar da religião sobre o aborto. Propaganda eleitoral, capas de revistas, sites na internet, todos só falavam nisso.
Então resolvi comentar aqui, o que se passa no meu mundo utópico. Lá, as mulheres se reuniram e decidiram. Nós homens só acatamos. Homem não tem útero, não tem ovário, não menstrua, então não tinha direito a voto. O Estado é laico, então não sofreu influência religiosa. Lá, prevaleceram os interesses da mulher. Algumas são religiosas e entendem que o aborto como a morte de um feto. Mas, elas respeitam as opiniões contrárias. Outras mulheres não compartilham das mesmas idéias. Por isso, criamos clínicas modernas, que visam atender as mulheres que optam fazer o aborto, com médicos capacitados. Desde a maioria decidiu pela livre escolha, não morreram mais mulheres em ocorrências abortivas. O governo deu a liberdade para as mulheres e suas famílias escolherem o que quiserem, por que não cabia mais ao governo impor o futuro das mulheres. De uns tempos pra cá, a clínica anda vazia. A recepcionista me disse que não lembra quando foi feito o último aborto. Também, pudera, não há estupros, não há filhos não planejados. Acho que não saio tão cedo do meu mundo imaginário.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

metas abusadas

- Oi. Gostaria de encerrar a minha conta corrente. - disse o Roger à estagiária do banco.
- Tudo bem. Em nosso banco, o encerramento ocorre pelo telefone. Vou fazer a ligação e repassar ao senhor.
- Ok...
- Eles irão tentar persuadi-lo, e se o senhor resistir, eles imprimem o termo de encerramento. - disse ela sorrindo.
- Ok.
Ela faz a ligação, identifica-se com nome, sobrenome, matrícula e função. Roger se apropria das informações por ora repassada ao funcionário do setor de encerramento. Dessas informações apenas posso dizer que tratava-se de uma estagiária, de nome bonito. Das outras informações, divago aqui: era uma loira, 1,68kg, 64kg, com olhos cor de mel. Usava aparelho, o que a deixava mais jovial. Tinha um sorriso lindo e era simpática, como só as estagiárias dos bancos privados conseguem ser. Usava um terno claro, que a tornava mais respeitável. A maquiagem e as jóias eram um fechamento perfeito àquela obra feita com carne tenra. Ou quase, já que esqueci de comentar sobre o perfume que inebriava os clientes.
- Seu Roger...
- Saiba que sou mais novo que a senhora... - interrompeu. Nunca havia sido chamado de senhor. Ademais, poderia ser colega de faculdade dela.
- Desculpe. Nosso funcionário irá atendê-lo. - disse meigamente, ao entregar o fone.
- Senhor Roger, boa tarde.
- Tarde...
- Sou o funcionário Marcos, e vou estar providenciando a sua solicitação. - disse o rapaz, chiando na letra S, o que indicava sua "carioquês".
- Ok.
- Então o senhor pretende encerrar a sua conta corrente?
- Sim.
- Vejo que o senhor tem uma conta universitária, com custos baixos. O senhor também possuí um cartão internacional, que o senhor pode estar usando no exterior.
- Hum. - disse empolgado com a obviedade dos argumentos.
- Qual o motivo do encerramento?
- Sou funcionário de outro banco. Não pago tarifas, tenho melhores juros e vantagens. - disse orgulhoso, olhando nos olhos da loirinha estagiária, tentando impressioná-la.
- Entendo. Eu posso estar lhe oferecendo uma isenção nos valores do seu pacote de serviços. Posso estar solicitando um cartão de outra bandeira, com tarifa grátis por doze meses.
- Já tenho. - disse enfático e incomodado com o gerundismo. - Aliás, tenho três bandeiras de cartão de créditos, sem custos.
- Também posso estar lhe disponibilizando uma carteira de alberguista, que estamos disponibilizando aos nossos clientes universitários, e que é aceita em todos os albergues do mundo.
- Hum... Interessante, mas não tenho interesse.
- O senhor tem conta corrente em outro banco, além do banco em que o senhor trabalha?
- Não.
- O senhor acha interessante manter suas aplicações em apenas em um banco. O aconselhável é diversificar investimentos, assim como trabalhar com mais de uma instituição financeira. Nunca carregue os ovos na mesma cesta, não é?
- Marcos... É Marcos, não é?
- Sim senhor.
- Não tenho investimentos, quisá aplicações. - disse sussurrando, olhando para trás e com a mão tapando o som, para que a estagiária não ouvisse nada sobre sua falta de posses momentânea.
- Não compreendi. O senhor pode repetir mais alto?
- Nada, deixa pra lá. Só quero encerrar a conta.
- Então o senhor vai deixar de trabalhar com um banco internacional, com mais de três mil agência espalhadas pelo mundo, com mais de quinze mil pontos...
- Sim. Vou. - interrompeu monossilabicamente.
- Ok, então peço que o senhor aguarde alguns instantes enquanto estarei procedendo o encerramento da sua conta corrente, para depois estar imprimindo o termo. Meu nome é Marcos e qualquer coisa é só me chamar.
No fundo, Roger estava gostando daquela situação. Sentado numa cadeira confortável, aproveitando o ar condicionado e admirando uma deusa em forma de estagiária. Excetuando o jingle do banco, que tocava no 0800, todo o resto era interessante. Olhou em volta e percebeu a beleza daquelas funcionárias do banco privado.
- Para as feias tem concurso público. - sussurrou.
- Senhor Roger...
- Sim...
- O senhor é bancário, sabe que temos que cumprir metas.
- Sei bem como é isso.
- Pois então. Vou ser direto. Usei quase todas minhas propostas de retenção para mantê-lo conosco. Sinceramente, há alguma coisa que eu possa fazer para mantê-lo nosso cliente?
- Cara, a única forma de continuar cliente é se essa estagiária loira que tá aqui na minha frente passar uma noite de sexo comigo. - blefou.
- Senhor Roger... - disse o funcionário após um breve intervalo. - Então... Por gentileza, o senhor pode estar passando a ligação pra ela?

sábado, 2 de outubro de 2010

ficha limpa

Em agosto, postei uma crônica chamada 'democracia?', que tratava da chamada lei da ficha limpa. Manifestei meu repudio a tal lei, bem como a quem a defende, como se ela fosse a solução para nossos problemas. Pois na véspera da eleição, um recurso impetrado pelo candidato "ficha suja" do DF, Sr. Joaquim Roriz, foi julgado no STF. Em suma, cinco magistrados votaram a favor, que a lei já valesse para essa eleição e que fosse retroativa, e cinco magistrados votaram contra a lei, a julgando inconstitucional e talicoisa. O voto de minerva, estava prejudicado, visto um Ministro do STF estar adoentado, impossibilitado de julgar. Enfim, o candidato do DF retirou o recurso, e anunciou numa coletiva que para o seu lugar, concorreria ao cargo distrital a Sra. Roriz, sua esposa.
Quando escrevi a crônica, defendi que de nada adianta uma lei ficha limpa, se os eleitores votarem errado. Hoje, dia 02 de outubro, véspera da eleição, reafirmo que nada adiantou a não candidatura do Joaquim Roriz, caso seja eleita sua esposa, uma espécie de marionete em forma da candidata. Reafirmo que devemos nos preocupar com a eduação. Educação é a palavra chave para bons eleitores e bons governantes. Se todos fossemos educados e cordias, as leis seriam meras regras da nossa sociedade.
Segue link para o conto, que considero a melhor coisa que já escrevi na vida. Também, lhes apresento a Sra. Weslian Roriz, esposa ficha limpa do ex Governador ficha suja Joaquim Roriz. Os vídeos, grifo eu, são hilários:

http://contosdoroger.blogspot.com/2010/08/democracia.html








Cara!! De que adianta a ficha limpa se o DF votar nela?? Quem vai governar o DF é ela, que tem a ficha limpa, ou o esposo, que tem uma vasta ficha suja? Lei besta essa. Aplaudida por todos. Os Roriz, vejam bem, os Roriz sabiamente burlaram a lei. Cabe aos eleitores do DF decidirem, democraticamente escolherem quem vai governar o Distrito nos próximos quatro anos. E se escolherem o pior candidato de todos, democraticamente devemos acatar e fiscalizar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

a carta

Morar em apartamento é algo interessante. Em condomínios então, nem se fala. Roger morou num prédio, em determinada ocasião. Era um prédio com cinco andares. Cada andar, oito apartamentos. Tentou fazer dos corredores o pátio da sua casa. Mas, era bastante gente. Muitos vizinhos. Pela proximidade, achou interessante envolver-se com uma vizinha, principalmente para ter o que fazer nos dias de chuva. Todo dia encontrava uma vizinha, tentava uma troca de olhares. Em vão, sem sucesso.
Uma vez, estava saindo pra jogar o futebolzinho da semana, quando uma vizinha de corredor sai na frente, junto com uma amiga. Moravam no quarto andar. Começaram a descer as escadas. As duas conversavam alegremente, enquanto Roger ouvia, atento:
- Hoje, até recebi uma proposta de casamento. - disse a vizinha.
- Sério? De quem? - pergunta a amiga da vizinha.
- De um cara lá de São Luis do Maranhão. Queria que eu fosse pra lá. - disse ao atingir o segundo andar.
- E tu vais?
- Imagina! Não vou não. Quero casar, mas aqui, em Bagé mesmo.
- Hum...
- Ainda mais agora, que o inverno tá chegando, nesse apartamento enorme, frio. Até queria alguém, mas aqui. - completa ao chegar no saguão do prédio, antes de ir em direção as caixas onde ficavam a correspondência. Nesse momento, a amiga parou e olhou para o Roger, devidamente uniformizado com calção, camiseta e meias arriadas. Ele não teve dúvidas: elas falavam pra ele ouvir. Era um recado. Foi jogar com essa idéia na cabeça. Ainda comentou com os amigos do futebol a respeito. Comentou com colega com quem dividia o apartamento. Quem era aquela vizinha que, até então, não havia visto no prédio?
Jogou com essa dúvida na cabeça, o que provavelmente deva ter afetado seu desempenho futebolístico. Após o jogo, precisou reidratar o corpo com o líquido dos atletas de meio de semana: cerveja! Muita cerveja gelada. Cada um paga uma, depois a segunda, depois começam as saideiras. Alguns foram embora, tinham de chegar cedo em casa. Outros ficavam bebendo mais um pouco. Depois, passando a meia noite, foram embora. Roger foi sozinho, cambeleando, já que seu colega de apartamento já havia ido embora mais cedo. Foi com a história da vizinha na cabeça.
- Ela falou pra mim! - pensava - Por que a amiga dela iria me olhar se não fosse pra mim? Claro que era pra mim.
Convencido pela sua própria embriaguez, chegou em casa, colhe um papel A4 na impressora, senta-se e sobre a mesa da sala e escreve uma carta, com a letra tremida:






Meses depois...

Era um dia como outro qualquer. Roger estava trabalhando, no atendimento. Atendia preferencialmente os idosos, o chamado atendimento prioritário. Já estava no final do expediente, e clicou no número de algum idoso, dentre tantos que aguardavam na fila. Nisso, levanta-se uma jovem senhora, trinta e poucos anos. Senta-se na frente do atendente Roger.
- Tudo bom? - disse ela.
- Tudo bem. A senhora pegou um ficha prioritária, reservada aos idosos. - recrimina ele a jovem senhora.
- Sim. Peguei uma ficha para minha mãe.
- Eu vou atendê-la, dessa vez. Mas, da próxima, a senhora não pode pegar uma ficha prioritária, mesmo que seja pra resolver um problema para sua mãe, ok?
- Ok, mas o que tenho pra resolver é jogo rápido...
O atendimento seguiu, normalmente. Até que ela faz um comentário, um tanto quanto maldoso, com um sorriso maroto no canto esquerdo da boca:
- Não é tu que moras nesse prédio aqui do lado, o branco, com cinco andares?
- Sim, sim. - responde ele sem tirar os olhos do monitor.
- Tu moras no quarto andar, né? - detalha com mais malícia.
- Sim... Moro. - responde ele, após deixar de olhar a tela, mas, ainda sem virar o pescoço.
- Tu moras no 304, não?
O sorriso malicioso dela daria inveja a Monalisa. Roger virou o pescoço para melhor observar quem era aquela jovem senhora que lhe causava embaraço. Voltou a olhar para o monitor, mas na tela passava um filme, idêntico ao do link acima. Esqueceu o serviço que estava prestando. Engoliu a seco a idéia de estar atendendo sua vizinha, a vizinha que havia recebido a carta. Ruborizou. Só poderia ser a vizinha da carta. Teve vergonha. Queria uma pá de corte para cavar um buraco e nele atender os demais clientes até o final da outra semana, se possível, mascarado. Até que ela, para seu completo vexame, esclareceu:
- Prazer. Eu sou a tua vizinha do 302.




Preciso agradecer..
ao Leonardo, bancário, economiário e câmera de celular
ao Gustavo, bancário, economiário, músico e editor de vídeos