segunda-feira, 29 de novembro de 2010

a coincidência

Tem coisas que só acontecem com o Roger. Aquelas histórias cinematográficas de Hollywood, aqueles dramalhões das novelas mexicanas. Tudo acontece na vida dele, ao acaso.
Esses dias saiu com um casal de amigos. Reclamava para o casal que nenhuma mulher olhava para ele naquela festa. Foi orientado a olhar para as mulheres certas, aquelas dispostas a reciprocidade. Certamente, sempre tem alguém para alguém nesse mundo, disseram. As vezes demoramos a encontrar, ou não percebemos. Cito o único poeta que leio e gosto:

da felicidade
"Quantas vezes a gente,em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão,por toda parte,os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!"

Mário Quintana

Voltemos a essa história difícil de contar, de tão improvável. Naquela festa, invicto, imperceptível e intocável, Roger escorou-se no balcão, para bebericar a última e derradeira ceva. Foi quando uma moça se aproximou e disse:
- Oi. Minha amiga quer saber teu nome.
- Qual amiga? - perguntou ele descrente e amargurado.
- Não posso dizer. - esquivou-se a amiga-correio.
- Então diz pra ela que sou o João. - inventou, antes de retirar-se da festa.
No dia seguinte, habitué de seus afazeres, perambulou pelo Orkut dos amigos, até encontrar uma amiga de um deles, uma menina linda, e que tinha seu sobrenome. Era raro encontrar alguém com seu sobrenome. Curioso, tomou coragem de invadir o espaço da provável parente. Olhou as fotos, encantou-se, mas voltou a sua navegação normal.
No dia seguinte, observou que a menina que tinha o mesmo sobrenome havia retribuído a visita no seu Orkut. Interessante saber quem fuxica no seu Orkut, não é? Retribuiu e certificou-se da sua beleza. Era bonita mesmo, a ponto de ter vontade de visitar suas fotos diariamente. Saiu, torcendo para que ela retribuísse novamente a visita. No dia seguinte, correu para a internet. Bingo! O Orkut apontava nas visitas recentes o nome dela. Era a hora do bote. Não havia mais como protelar. Adicionou com a seguinte frase de adição:
“oi. vi seu orkut, através de amigos em comum. acho que jah te vi em alguma festa. resolvi add. Bjs”
Fazendo jus ao sobrenome, simpaticamente, ela aceitou o convite. De imediato, ele pediu o MSN, já que precisava manter contato. Mas, o tempo protelou um encontro casual e concomitante na internet. Por cerca de uma semana, aguardou pela moça do mesmo sobrenome, conectado e atento ao entra e sai do MSN.
A insistência deu resultado e finalmente puderam conversar. Conversa de protocolo, daquelas formais de apresentação. Ele já havia adicionado. Evidentemente ela sabia de seus interesses, que saliento, não era relacionado aos laços consangüíneos.
- Quando vais deixar eu te conhecer? - atacou o aguerrido Roger.
- Quando você quiser.
- Agora! - cravou.
A teoria diz que devemos tomar decisões incisivas, demonstrar iniciativa, deixar claro que não estamos para brincadeiras, afinal, somos homens ou um saco de batata? Sei da teoria, é claro, pois acho que sou um saco de batata.
Encontro marcado, hora combinada. Finalmente ele iria encontrar a moça do sobrenome idêntico. Não eram parentes, é bom que se diga. Sem dúvida ela fazia parte da uma casta mais embelezada da família, talvez qualificada durante a eugenização do sobrenome. Linda, simpática e com um bom papo, a moça fez uma revelação, que dá nome a esse texto:
- Eu só não entendo como você me adicionou no Orkut.
- Como assim? - questionou, pois já havia explicado que fora através de amigos em comum.
- O que eu não entendo é como você sabia que eu havia pedido para a minha amiga perguntar o seu nome naquela festa em que você estava escorado num balcão. Ou não sabia?
- Hã! Não acredito nisso! Juro que não sabia. É muita coincidência.
- Pois é. Também não entendi o porquê você mentiu o seu nome, não é Seu João?!

domingo, 7 de novembro de 2010

lembranças de um guri

Quando era guri, fui apaixonado por uma colega minha. Uma coleguinha de aula. Não digo na lata de quem se trata, pois hoje é uma mulher casada, vários filhos e as carnes já não são mais as mesmas. Infelizmente.
Costumava homenageá-la diariamente. As vezes, mais do que diariamente. Ao acordar, antes de dormir. Lembro de uma vez, quando ela foi com uma saia rodada, tipo colegial. Subi a rampa do colégio atrás dela, e juro por Deus, foi sem querer, acabei vendo as nádegas dela. As bochechas das nádegas. As duas. Emudeci. Ensurdeci. Naquela manhã, bati uma no banheiro do colégio. A vontade que eu tinha era de correr atrás dela e apalpar aquela bunda redonda. Seria bom se a nós pudéssemos fazer tudo o que temos vontade, não é?
Na verdade, se ao menos ela soubesse da minha existência. Mas, ela não me enxergava. Estudamos na mesma classe, mas ela não fazia idéia de quem eu era. Eu não jogava futebol de salão, eu não jogava basquete, eu não jogava handebol. Não tocava violão, nenhum tambor, não tinha fama nem nada. Só tocava punhetas em homenagem a ela. Eu era um ninguém naquele colégio. Apenas mais um a comer a merenda.
Nas minhas fantasias, ela fazia o melhor sexo do mundo. Não sei como poderia saber disso, diante da minha virgindade notória. Mas, pelo que via nas revistas, ela era a melhor, a mais completa, a mais cheirosa, um retrato da perfeição. E eu era um virgem, tímido e cheio de acne. Teve uma vez que ela falou comigo. Que voz suave, macia. Ela disse:
- Dá licença, baixinho! Que saco! - e passou, deixando aquele aroma de talco no ar. É, as pessoas usavam talco naquela época.
Era uma mulher feita, mesmo na pré-adolescência. Tinha seios grandes e firmes, coxas angulosas. Fumava alguma coisa com o pessoal da grêmio estudantil, escondidos. Dizem que ela transava com o presidente do grêmio, mas na verdade, saía com o capitão do time de basquete. Talvez saísse com os dois. Ou com o time inteiro de basquete. Era bem safadinha, o que, além do corpaço, a diferenciava das outras. E isso nos alucinava.
Quando ela passava, todos se cutucavam. Era a aluna mais conhecida do colégio inteiro, juntando-se todos os turnos. E despertava inveja das outras, lânguidas, miúdas, sem seios e sem bunda. Falavam poucas e boas dela. Diziam cada coisa, que eu desejava muito que fosse verdade todas as noites antes de dormir.
Esses dias esbarrei com ela na balada. Ela me olhou. Já não era a mesma, menos da metade do que era, mas a reconheceria sob qualquer circunstância. A chamei pelo nome. Ela perguntou de onde eu a conhecia. Disse que não importava, e menti dizendo que ela estava cada vez melhor. Ela continuava fumando. Tragou e me olhou de cima a baixo. Eu sabia que ela havia engravidado cedo, nova. Sabia que sua vida noturna dava inveja ao Romário. Bebia parelho com o Pagodinho. E imaginei, continuava safada como fora na escola. Peguei, foi fácil. Transei, foi bom. Ela tinha algumas manias, nada bizarro. Gostava olhar no espelho. Olhou do início ao fim. Tinha prazer se olhar no espelho. Depois fomos embora. Ficamos de nos encontrar por aí, a esmo. Nunca mais a procurei. Preferi ficar com a lembrança das minhas punhetas, onde tudo era perfeito.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

nosso lar?

Esses dias fui ao cinema, assistir Nosso Lar. Sou aficionado em cinema nacional, precisava relaxar e tinha cinco reais sobrando. Decidi arriscar. Digamos que foi um forte exercício assistir ao filme espírita, visto que sou um ateu convicto.
Sei que a religião é um tema polêmico e temo ser mal interpretado. Enfim, o País me permite não ter religião e não tenho. Assim economizo meu dinheiro. Opa, já criei polêmica! Enfim, ganho tão pouco dispensariam meu dízimo, bastava apresentar meu extrato bancário.
Para não dizer que eu não acredito em nada, digo que acredito na importância da igreja, embora ainda as ache menos importantes do que os times de futebol. Se bem que as empresas igrejas dão mais lucros do que as empresas times de futebol. Talvez por serem melhores administradas, ou por terem isenção de impostos.
Como ia dizendo, vejo que as igrejas amparam milhares de famílias, lhes dão esperanças e alentos. Isso é importante, já que o combalido governo é ineficaz nessa área. Ademais, elas aproximam os fiéis daquilo que chamam de Deus, com capslook acionado.
Dias atrás fui numa igreja. Na verdade, era um santuário. O que mais me encanta na Igreja Católica são as igrejas. Que opulência! Que acústica! Aliás, o que mais gosto numa igreja é o silêncio. Adoro ouvir o silêncio dentro das igrejas. É o silêncio que dá aquela sensação de paz, ao menos para mim. Tem gente que acredita que é a presença Dele.
O filme? Que filme? Ah, o filme espírita. Nosso Lar é um filme baseado num livro psicografado por um médico que encarnava (posso assim dizer?) no Chico Xavier. O livro eu não li, pois para determinadas coisas sou um analfabeto pleno e a leitura me dá sono. Sobre o filme, trata-se de uma realidade que os espíritas querem ver. Apenas isso, penso eu. O filme em si, e não falo da história, mas de cenários, de figurinos e de fotografia, é uma merda! Uma grande merda! Também, não poderia ser diferente, um filme espírita com luxúrias, grandes investimentos, seria no mínimo contraditório. Colocaria no hall dos filmes que não precisavam existir, não fossem os empregos que geraram. Algo do tipo 'Sérgio Malandro e o Inspetor Faustão', que espero que ninguém tenha visto.
Quanto a história do Nosso Lar, tem passagens bizarras. O passeio que o personagem principal, o Dr. André Luis, faz numa espécie de táxi aéreo/balão mágico é uma das coisas mais imaginativas que já vi. As cenas do purgatório, ou algo com mesmo significado e outro nome, são da dar dó. Enfim, geraram empregos, movimentaram a economia. E não vou morrer por cinco pila. Agora, se morresse, não iria gostar daquele meu lar noutra esfera.
Não sou um cara curioso. Sei que vim dos meus pais, que vieram dos meus avós, que por sua vez, vieram dos meus bisavós. E foi através do sexo, não se deixem enganar por costelas. Não vou muito adiante, pois não responderia todas as minhas dúvidas, que confesso, não chegam a uma ou duas. Não frequento a igreja, não sigo nenhuma religião e não acredito em deus. Soará como arrogância, eu sei, mas não preciso, tenho meus amigos, oras!, e agradeço a Deus por isso. Ops, me perdi.
Percebo que um ateu pode fazer bem aos outros e a si mesmo, tanto quanto e as vezes até mais do que um religioso. Qual minha contribuição para a sociedade? Bem, eu doo centavos das faturas dos meus cartões de crédito para que uma ONG plante árvores. Árvores são reais, me dão sobra, viram chalés, estantes, algodão, papel. Árvores são reais. Por outro lado, os ateus costumam respeitar mais a religião dos outros, pois aceitamos as diferenças, exatamente por que não aceitam nosso ceticismo. E teimam em me assustar:
- Um dia tu vais acreditar Nele!
Ou então:
- Quando você precisar Dele, você vai acreditar.
Dias depois, assisti Tropa de Elite, o segundo filme. Trata-se de um filme sobre o que a sociedade não quer ver, mas é real como um paralelepípedo arremessado contra a nossa têmpora. Exatamente o oposto do fantasioso filme espírita.


Nota de rodapé: assisti ao filme do Chico Xavier. Filmaço! Recomendo. Chorei, é claro. Pois, surpreendam-se, os ateus também choram.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

os curtas

Num cinema de uma cidade turística do interior, havia uma amostra de três premiados curtas-metragem internacionais. A cidade estava lotada de turistas, e no pequeno cinema do município histórico não era diferente. O Roger estava lá, acompanhado de uma amiga. Chegaram atrasado, pois bebiam cerveja antes de entrar no cinema. Não sabiam sequer, o que iriam assistir. De certo isso não importava.
O cinema estava lotado. Logo na entrada, o lanterninha avisou que só havia lugar disponível nas cadeiras, localizadas numa espécie de camarote sem divisórias, que ficavam ao lado das cadeiras. Sentaram bem ao fundo desse corredor superior, escondidos atrás de balaustres postos a cada vinte centímetros um do outro. Mais a frente, outras pessoas também estavam sentadas em cadeiras, próximas ao parapeito. As pessoas que estavam sentadas nas cadeiras do cinema, enxergavam quem estava nesse camarote, pelos vãos existentes dentre os balaústres, principalmente quando a luz da tela assim permitia.
O primeiro curta foi o único que viram. Ainda sim, não por completo. A amiga do Roger sentou-se a sua frente, mas colocou a cadeira um pouco ladeada, para que a sua mão pudesse acariciá-lo. Já no final do primeiro curta, ela abaixou a bermuda do rapaz, para sentir em sua mão direita o seu pau, começando a tocar uma punheta. Roger, mudo e imóvel, apenas fechou os olhos e escorou-se no parapeito para sentir o vai e vem da mão da moça, que volta e meia interrompia a masturbação para cuspir na sua mão e manter os movimentos de forma mais lubrificada.
A masturbação diminuiu de forma gradativa, ao acabar o segundo curta que foi seguido de aplausos pelos entusiasmados turistas cinéfilos ali presentes. Sem sobressaltos, iniciou o terceiro curta da noite. Roger não soube me dizer do que tratavam, mas não haviam intervalos. Era o filme e os créditos. Nesse ínterim, os aplausos. Pausa que servia para a amiga lambuzar os dedos e a palma da mão.
As vezes, Roger abria os olhos, olhava a sua direita e percebia que o cinema estava lotado. Percebia olhares desconfiados, de rabo de olho, nos clarões provocados pela tela do cinema. Era possível sim, que alguém estivesse vendo. Misturou a sensação de medo com o tesão, e seguiu o conselho da amiga, que aumentava a velocidade dos movimentos:
- Goza!
Roger fechou os olhos, pensou na loucura que era aquela situação e concentrou no atrito suave que a mão da amiga causava ao passar pela glande em alta velocidade e gozou, na mão da amiga, escorrendo esperma pela bermuda e respingando na camiseta. Fechou os olhos, e aguardou os aplausos. Havia acabado o terceiro curta da noite.