quinta-feira, 26 de abril de 2012

quase memórias

Teve uma vez que o Roger conheceu uma guria. Linda, novinha, tinha uns 17, o que perante os seus 25 anos era uma idade um tanto ultrapassada. Era linda de corpo, mas ele não conseguiu me descrever o rosto. Isto porque fodeu bêbado. Na verdade não estava nada bêbado quando a convidou para subir até o seu apartamento enquanto ele trocava de roupas. O convite era para um chope amigo ao sair do trabalho, mas antes que ele trocasse de roupas abriu uma cerveja filha única que tinha na geladeira e ofereceu à moça para que ela molhasse a palavra. Aproveitou que a cerveja era de litro e tomou uma ducha. Quando voltou, mais apresentável, ofereceu uma cachaça que havia ganho de um amigo na sobra de um churrasco. A cachaça de segunda linha atendia pela alcunha de Fogo Paulista.
E neste parágrafo em que eu deveria descrever a foda, descrevo apenas que eles, na sala mesmo, dançaram um pagode do nível da canha que bebiam e que acordam no outro dia, as sete da manhã. Transaram bêbados a noite toda. Não!, não transaram a noite toda. Permaneceram alcoolizados a noite inteira. Ele acha que transou por dedução. Pela falta de traje e pelo cheiro de sexo, mas não poderia afirmar com convicção. Taí duas coisas que são difíceis de descrever: transar e correr embriagado. Alguém já bebeu demais e saiu correndo? O bebum tem a convicção que se sair correndo consegue atravessar o mundo a passos largos, mas antes de dois minutos perde o fôlego e desiste do feito dando risadas. E o bebem que tenta trepar bêbado acha que serão horas de sexo intenso, mas parcos minutos depois desiste cansado e sem obter prazer algum, com a impressão que jamais conseguiria atingir ao orgasmo.
Então, ao observá-la pela manhã ele me descreveu o rosto da menina. Uma “indiazinha cor de cuia bem bonitinha e magrinha”, mas “com tudo no lugar”, frisou ele. No celular dela haviam onze chamadas de casa. Imaginem uma guria com 17 anos e 11 chamadas não atendidas durante a noite. Caso de polícia. Ela foi embora assim como veio, sem que ele soubesse de onde veio e para onde iria. Não conversaram. Ele não sabe nem o nome da descendente indígena. Ela tampouco. Mas, ao menos sabia onde ele mora. E que tinha péssimo gosto para etílicos.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

putaria escrita (vulgo contos eróticos)

Sempre quis agradecer a pessoa que deixou um encarte com classificados e contos da saudosa revista Ele & Ela, intitulados como Fórum, na rodoviária de Porto Alegre durante as férias escolares de 1989. Foi-me de muita valia conhecer o mundo da putaria através desse “presente” que achei enquanto esperava o ônibus que me levaria de volta pra casa.
Talvez quem deixou sem querer ou esqueceu intencionalmente aqueles contos eróticos não imaginava que um guri de 9 anos encontraria os papéis. Mas, saiba que aquelas histórias mudaram a minha vida.
Durante a viagem, sentado ao lado da janela, não pude folhear tais folhas, o que me deixou com a curiosidade mais aguçada. Não era comum um piá com nove anos ter acesso ao sexo no final dos anos 80. Foi a viagem mais longa da minha vida, embora tenha durado apenas 3 horas.
Talvez as histórias narradas pelo leitores tenham me influenciado, mais até do que a estimada coleção vagalume. Ali realmente tomei gosto pela leitura. Lia e relia, não queria parar de ler. Até que com as folhas amassadas e redobradas decidi que era a minha vez de mudar a vida de alguém. E lembrei de uma vizinha minha, a quem eu tinha prestado certas homenagens manuais.
Imaginei que ela estava cansada daquela vida pacata, onde as maiores aventuras eram as aulas de educação física no colegial. Onde os maiores problemas eram as notas abaixo de 9 que constavam no boletim escolar. Acreditei que ela precisava sair dessa rotina de provas e temas escolares. E dois anos depois estava pé por pé jogando o encarte da revista na janela do quarto da vizinha de vida insossa. Como não pude me aproximar da janela do seu quarto, me debrucei sobre o murou e atirei o chumaço de papel. As folhas voaram e bateram no peitoril da janela e fazendo uma pirueta caíram no pátio. Correi e me escondi nos arbustos. O que fazer?, pensei. Resolvi apertar a campainha, mesmo sem saber se era o certo a fazer, afinal eu só tinha 11 anos.
Foi quando a mãe da menina, vestindo um roupão rosa desbotado abriu a porta. Ela olhou para um lado, olhou para outro e curiosa foi em direção a janela. Agachou-se e pegou o encarte. Leu. Olhou para os lados. E guardou os escritos dentro do roupão, correndo para dentro de casa, com aquele olhar parecido com o que eu devia ter tido há dois anos atrás, na rodoviária de Porto Alegre. Difíceis aqueles tempos sem internet. Missão cumprida. Havia feito alguém feliz.

terça-feira, 3 de abril de 2012

textículos

Tudo tem um lado ruim
O marido chegou em casa as três da matina, um tanto trôpego e honestamente embriagado. Acordou a mulher que dormia o sono leve dos desconfiados. - Onde estaria o marido?, pensava ela, justo ele que andava com dificuldades intensas de honrar suas atribuições matrimoniais, ou num linguajar mais chulo, não comparecia, sexualmente falando.
- Querida! – gritou o beberrão, quase que ao acordar os bebezinhos no quarto ao lado. – Tenho duas notícias pra te dar.
Ela grunhiu, tentando fingir um sono profundo, mas demonstrando pouca disposição ao diálogo.
- A primeira é que não sou mais broxa.
Ela abriu os olhos e inclinou o pescoço observando o esposo desequilibrado que tinha dificuldades em desvestir as calças.
- E a segunda é tu fostes traída.

***

O cravo
O cravo deve ter brigado com a Rosa ou com quer que seja quando ela tentou esmagá-lo com as suas unhas. É um direito de qualquer cravo nascer, crescer até secar e morrer no corpo de qualquer homem. Li na constituição dos cravos e espinhas.
Pois dias desses senti um cravo sendo furuncado em minhas costas. Primeiro uma unha, raspando e o fazendo sofrer, quem sabe até sangrar. Depois senti outra unha solidária tentando esmagá-lo, numa demonstração feroz de covardia: duas garras compridas e afiadas apertando com unhas e dentes um pobre cravinho.
Doeu. Doeu muito. Somos sensíveis a dor.
Do pseudo cravo levantou um naco. Na verdade uma casquinha, que parecia um casco. O cravo pulsava. Foi quando a dona da unha foi observar o último suspiro do cravo esmagado:
- Ops! Não era um cravo. Era um sinal.
Quem tem namorada com garras não precisa marcar hora com dermatologista para arrancar um sinal.