O mundo moderno pode ser dividido entre antes das fotos digitais e depois das fotos digitais. Os sites de relacionamento só existem devidos digitalização de imagens. Imagina o cara tirando uma foto num ponto turístico do Rio de Janeiro, no Cristo, por exemplo. Meses depois, após voltar pra casa, o cidadão resolve revelar as fotos. Porém, ainda falta muito para a imagem parar na internet. Ainda faltaria a digitalização. Num scanner talvez.
Impossível imaginar algo demorado assim dar certo hoje em dia, nesse mundo agitado e dinâmico que vivemos. Zuckerberg não seria um bilionário.
Assim como as imagens mudaram o mundo moderno, vídeos de tudo e de todos fazendo tudo também mudaram e, principalmente, disseminaram o uso da internet pelo mundo afora. Fazem idéia de quantas pessoas procuram uma lan house para acessar sites de relacionamento? Quantas procuram a internet para utilizar programas de conversação? Nem eu.
Enfim, uma máquina digital nas mãos e podemos transformar o mundo. Ou nossas vidas. Por último, inventaram telefones celulares que tiram fotos e gravam vídeos. E todo mundo tem celular hoje em dia. Até o Roger.
Mais grosso que tornozelo inchado, Roger nunca teve telefone celular. Para que tu tenhas idéia o cara tem uma agenda de telefone de papel. E anda sempre atrás de um telefone público para fazer contato com a mulherada. Excepcionalmente, dias atrás teve que ficar com o celular da empresa. Ordem do chefe. Coincidência, quis o destino que no dia que portava um aparelho que filmava, Roger tinha um encontro. Uma foda, para ser mais específico.
Serelepe, posicionou o telefone na cômoda, aos pés da cama. Preparou a meia luz, preparou o play e esperou a campainha tocar. Quando tocou, não esperou muito na sala, onde não havia câmeras. A levou ao quarto.
Eu não vi o vídeo. Ninguém viu o vídeo. Roger excluiu a gravação na manhã seguinte, quando entregou o aparelho ao chefe. Apenas tinha a curiosidade de se enxergar. Uma espécie de espelho com memória.
O que ele não esperava era o fetiche da moça: ela ajoelhada na cama, de costas para a câmera. Ele deitado recebendo um boquete. De repente ela começa a percorrer com a língua os outros membros inferiores. A virilha, a coxa, o joelho. Dum lado, depois do outro. Lambeu cada naco de perna que havia. Tornozelos, inclusive. E deixou por último os pés. Para que vocês tenham idéia, o cara joga bola, trabalha de carpim o dia inteiro, unha com fungo e a podólatra lambeu tudo. Enfiava a língua no meio dos dedos. De todos os dedos, chupou dedo por dedo. Os onze dedos. Sim, o Roger tem hexadactilia, ou seja, onze dedos no pé, o que deve ser um plus para quem tem esse fetiche. Mordia o garrão do cara. Ele continha o riso. E depois que entregou o aparelho, com o vídeo excluído, se arrependeu de não ter um celular com câmera.
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