quinta-feira, 17 de março de 2011

um veterano

Todo guri sonha em ser jogador de futebol. Somente após ser reprovado em peneirões amadores que a ficha cai, e passamos a acordar para as mulheres. Isso ocorria - na minha época - lá pelos dezessete anos, aproximadamente. Já as mulheres, acordam bem antes.
Eu, particularmente, fui precoce. Descobri que não jogava nada desde cedo. Outrora comentei que jogo bem sem a bola, tenho visão de jogo, sei me posicionar. O problema é que vez que outra a bola rola em minha direção, e aí não consigo enganar nem a mim mesmo. Nasci com dois pés esquerdos tratando-se de futebol. Daí minha dificuldade de chutar uma bola, enquadrar o corpo. Não driblo um cone!. E meu preparo físico sempre deixou a desejar. Sempre me movimentei bem quando estava parado.
Por vezes pensei em praticar outro esporte. Porém, a vida me foi injusta quando não me deu a altura necessária para jogar vôlei ou basquete. Aliás, sugiro que existam modalidades que limitem as características físicas. O boxe, por exemplo, dividiu por peso. Peso pena, peso pesado, meio ligeiro, peso galo. Por que o vôlei não pode ter uma rede mais baixa para quem tem menos de um metro e oitenta? Com uma rede daquela altura, ou com uma tabela longe do chão, o voleibol e o basquete são esportes que servem para exclusão na nossa sociedade. E o esporte, vangloria-se, é uma porta para a inclusão. Inclusão de quem? De quem é alto? Muito alto? Porta de saída deve ser... Sorte ter me livrado das drogas.
***
Por volta dos meus vinte anos comecei a observar os jogos dos veteranos. Imaginei que teria a oportunidade de relembrar os velhos tempos, onde não fazia feio nas escolinhas de futebol de salão do colégio. Nos veteranos a movimentação é mais lenta, jogam pelos atalhos do campo. Pensei que com trinta e cinco anos, estaria no auge do meu futebol de veterano, e que poderia ser um craque no meio de outros veteranos barrigudos e com reumatismo.
Esses dias fui convidado para jogar um torneio, lá com o pessoal do clube. Joguei de atacante, no ápice dos meus trinta anos. Eles pensaram que eu era rápido e arisco, como um velho ponteiro direito do passado. Fui pro ataque, com a camisa 7 às costas. Até me vi voando em campo, passando fácil por aqueles grisalhos do time adversário. Pela primeira vez pensei que poderia ser o goleador de um campeonato. Seria meu auge futebolístico, até porque, de posse da medalha, não contaria para ninguém que tinha enfrentado senhores aposentados e pensionistas do INSS. Fui marcado por um senhor com quase sessenta anos. Digamos que fui bem marcado. Terá sido um profissional aquele senhor? Não sei dizer. Não fui o goleador do campeonato. Tampouco fui às redes. Percebi que mesmo que mudem as regras, mesmo que baixem a altura da rede de vôlei ou da tabela de basquete, terei sérios problemas enquanto o tema for esporte. Espero que daqui há cinco anos meu preparo físico melhore consideravelmente para que eu possa passar voando por aquele, até lá, setentão que um dia me marcou tão bem.

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