Em determinado período da sua curta e bem vivida vida, Roger tornou-se um comedor de casadas. Nenhum outro termo seria mais adequado, apesar da deselegância, do que este, acreditem. O interessante de comer mulher casada é que elas nunca tem tempo de sobra. Principalmente as com filhos. Então, sempre que a mulher chegava no seu apartamento, logo que fechava trancava a porta, ele perguntava:
- Quanto tempo eu tenho?
Era fundamental que tivesse controle do tempo. Precisava administrá-lo visando a satisfação das senhoras. Costumava dizer que dividia o tempo da seguinte forma: de 35% a 40% do tempo dedicado as preliminares, e dependendo da mulher, até mais, já que segundo elas os “maridos tem preguiça de chupar xoxota”. A administração do tempo era fator importante, e variava de acordo com os interesses sexuais das senhoras. Nada de posições do Kamasutra, impensável posições cinematográficas, nada interminável. Sexo objetivo. As vezes nem conversavam, pois “conversar a gente conversa pelo telefone” ou "conversinha eu tenho em casa", afirmavam as comprometidas.
Certa vez uma casada ligou:
- Roger, to livre das nove e trinta as dez e quinze!
- Justo tu, que não perdes a novela? - imaginando tratar-se do horário nobre.
- Que nada, nesse horário ta passando a Ana Maria Braga!
Quarenta e cinco minutos, logo sem muito espaço para drinks ou conversinhas para boi dormir. No caso, o boi estava trabalhando. Complicado mesmo era ficar olhando no relógio em meio as estocadas.
Até que o Roger conheceu uma casada fiel. Ela exclavama depois que o viu na webcam:
- Quero te dar!
Aquele sotaque da fronteira com o Uruguai mexia com ele, que incrédulo respondia:
- De que jeito! Fiel igual a ti não existe!
- Vou falar com ele...
Anos se passaram. Ela repetindo sempre “quero te dar”, mas ainda não havia convencido por completo o marido. “Ainda estou convencendo ele a aceitar, mas "vou te dar!”, dizia com a convicção de quem está conhece o marido há vinte anos. Meus amigos, mulher quando quer uma coisa, faz o tempo parar:
- Amanhã vou matar aula.
- Sério!?
- Aham. Sete horas chego aí.
Reparem que o amante é um ser que sempre tem de estar disponível. Elas não perguntam se ele pode, quisá se ele quer. Apenas informam, avisam. E aparecem.
Enquanto ele girava à esquerda a chave da fechadura da sala, logo tascou:
- Quanto tempo eu tenho?
- Bastante.
Era uma reposta inesperada vindo de uma casada com filhos. Evasiva demais para quem acostumou-se a trepar com uma ampola na cabeça:
- Tu tá solteira?
- Hoje sim!
Foderam. Recuperaram o tempo perdido.
- Tenho que ir.
- Tudo bem. Valeu a pena esperar. Quer que eu te leve? – perguntou solícito.
- Não te preocupa, ele vem me buscar.
- Ele quem?!
- Ele... - disse apontando para a aliança na mão esquerda.
- Ele sabe que tu tá aqui?!
- Sabe.
- Ainda bem que tranquei a porta.
- Falei para ele que ou ele deixava ou eu viria sem ele deixar. Aí ele me trouxe. E agora vem me buscar.
- Bem, então por segurança, não vou te acompanhar até a frente.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
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