sábado, 6 de março de 2010

a mulher alface

Esses dias o Roger foi num boteco para assistir futebol no pay-per-wiew. Para não parecer abusado, pediu uma cerveja, já que não queria ficar assistindo a transmissão paga de graça. E cerveja gelada e futebol combinam com aperitivo. Até aí, tudo bem. Resolveu provar uma das especiarias da casa. Croquete de peixe. Croquete é bom, peixe é bom, fritura é bom. Quanto ’bons’ num petisco! Pediu!
- Quantos croquetes vem nesse prato?
- Vinte. Vinte mini-croquetes.
- Serve meia porção? - pergunta receoso.
- Não. Não servimos. - respondeu a moça com duas negativas taxativas na frase.
Não entendo por que não servem meias porções de algumas coisas. Como se fossem indivisíveis os croquetinhos.
- Posso levar pra casa o que sobrar? - questiona o mão-fechada.
- Pode. Eu embrulho pro senhor.
Embrulho: palavra mais feia que já digitei. Embrulhar. Palavra estranha. Tanto quanto a decoração do prato. Sob os croquetes de peixe fritados num óleo reutilizado pela enésima vez, uma linda folha de alface. A partir desse momento, ele perdeu o foco no jogo. Passou a admirar a cozinheira que na tentativa de dar uma função a alface a coloca como enfeite. As folhas da alface são bonitas mesmo. Porém a alface é pior do que o chuchu. Não tem gosto de nada, misturado com coisa alguma. Simplesmente uma verdura sem função. Imagino numa feira a cara de desdém do brócolis posicionado ao lado do alface. Ou então a onipresença das rúculas, preparando-se para, junto com o tomate seco, fazerem a diferença nas pizzarias da cidade. Ao lado, o alface, cabisbaixo. Em pouco tempo, não servirá de alimento, e será jogado para onde veio, para servir de adubo, talvez para uma rúcula, ou um brócolis.
Uma vez o Roger ficou com uma menina. Novinha, corpo durinho. Gostosa mesmo. Uma bunda que eram duas. Uma nádega melhor do que a outra. Alto relevo. Perfeita de corpo. Dezessete anos! Isso mesmo, dezessete. No show em que estavam, trocaram olhares, uma, duas, três vezes. Então o Roger fez algo simples, mas funcional. Com o dedo indicador apontou pra menina. Ela riu. Com o mesmo dedo apontou para sim mesmo. Ela sorriu. Com a cabeça, acenou algo. Ela acenou alguma outra coisa, como se consentisse. Aproximou-se. E fez aquele ritual de protocolo. Pegou. Beijos e tal. Foram para outra festa. Mais beijos, algumas cervejas. Daí cometeu um crime. Por que se a situação era consensual e aceita pela sociedade com relação ao sexo, dar bebidas alcoólicas a menores é crime e ponto final. Roger fora um criminoso naquela noite.
A levou pra casa. Estava ansioso para chupá-la. De olhos bem abertos para ver aquela menina contorcendo-se de prazer. E depois, quando esperava pela reciprocidade que geralmente ocorre nessas horas, ela disse que não fazia sexo oral. Não chupava. Achava nojento.
- Não faço isso. Não gosto. Acho nojento.
A menina era bonita, sexy, apertadinha. Mas, além de não terem assunto, ela não fazia sexo oral nele, embora gostasse de receber. Essa menina, sem orientação sexual, lembrou-me a alface, posta sob os croquetes, recebendo aquele óleo quente, que a fez murchar. Não serve para mais nada, além de embelezar alguma coisa, por que salada de alface sem gosto e mulher que não faz sexo oral não se deve comer.

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