quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

a sunga

Já comentei com vocês que existem dois tipos de mulheres? Primeiro existem as gaúchas, que odeiam sunga, assim como odeiam pochete e programa de debate esportivo após a rodada do campeonato gaúcho. E existem todas as outras mulheres, que acham normal usar sunga na praia, tal qual elas usam biquinis e protetor solar.
Percebi isso quando fui motivo de deboche, dias atrás. Aconteceu que fui pra Bahia e usei sunga. Apareceu na foto. Pronto! Pelado não teria recebido tantas gargalhadas. Expliquei que é inconcebível que homens utilizem bermudões até o joelho no calor baiano. Em vão, ao léu. Era tarde. Isso que evitei fotos desse tipo no orkut, já que meu senso crítico havia reprovado a cena horrenda. Mas, mesmo nas pastas mais escondidas do meu computador, fui alvo de piadas infâmes.
O debate é pertinente, visto a chegada do verão. Tenho ido à praia dia sim, dia também. Saio do trabalho e troco de roupas com o carro em movimento, para não perder tempo. E todos os dias lamento não usar minha sunga, que usei apenas no nordeste. As virilhas suam, clamam por ar puro. Meu saco não compreende o porquê de tantos panos lhe agasalhando em sol a pleno. Já não bastam os pentelhos!, esbravejam. Então, sozinho, explico a eles que não estamos na Bahia, e que as gaúchas não me perdoariam se andasse de sunga a luz do dia.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

a lésbica

Algumas pessoas tem objetivos na vida. Alguns buscam algum tipo de graduação, uma profissão. Outros formar uma família, ter filhos. Comprar uma casa própria é o sonho de muitos também. O Roger não. Estabeleceu um objetivo: fazer uma lésbica se apaixonar por ele.
Gostava de desafios. Queria entender o porquê uma mulher pode não gostar de homens. Não que fosse um crítico das pessoas que gostam de mulher. Ele próprio, era um aficionado em mulheres, por que outras pessoas, até mesmo mulheres, não poderiam ser? Compreendia que gostar desses seres cheirosos era algo normal. Entendia que babar por um gingado dos quadris de uma mulher era aceitável. Aliás, ele até incentivava que suas parceiras gostassem de outras mulheres. A dificuldade de compreensão era entender a ojeriza delas aos homens. Ele até entendia que era complicado gostar de seres peludos, mal cheirosos e com o cérebro do tamanho de uma ervilha. Mas, as outras mulheres gostavam, ou aceitavam, ou apenas precisavam de um pau duro. Por que algumas não precisariam?
Visando decifrar esse mistério, deu início a operação “Angelina”, em homenagem a Jolie, bissexual assumida. Não bastava fazer uma bissexual se apaixonar por ele. Isso seria mais fácil, mais simples. Teria de ser uma lésbica. Fazer com que uma lésbica passasse a gostar sexualmente de homens, também. Elaborou um mapa, dos possíveis locais onde poderia encontrar uma lésbica. Passou a ser presença contumaz em festas GLS. Um simpatizante focado em mulheres que gostam de mulheres. Era assediado por bichonas, mas logo tratava de deixar claro suas intenções ali, nunca deixando de ser simpático. Precisava agradar aos que ali estavam, sem preconceitos. Qualquer preconceito poderia seria uma barreira intransponível.
Porém, foi na faculdade que ele encontrou a mulher perfeita, ou melhor, a lésbica perfeita. Linda, olhos claros, cabelo emo, uma calça justa que iniciava mostrando a ausência de bunda e acabava nos all tars. Seios do tamanho de uvas italianas. Desconfiou que ali estaria seu alvo. Porém, só teve certeza quando viu a moça do cabelo emo correndo os olhos nos seios e depois nas pernas na mais loira mais gostosa da faculdade.
Descobriu tudo sobre a moça. O curso que fazia, onde morava, idade. E obteve a confirmação da total falta de contato com o sexo oposto. Era virgem. Virgem de pau. Só tinha tido algumas relações com algumas mulheres. Quem contou isso foi uma amiga bissexual, que já havia traçado a magrinha emo. Morava sozinha, era de outra cidade. Mas, receosa da reação da família tinha na discrição um dever zeloso.
O que Roger não compreendia eram os motivos pelos quais algumas mulheres não gostam de homem. Tinha uma teoria, que logo fora descartada: “são mulheres que foram decepcionadas por seus pais. Pais que traíram suas mães, e elas, solidárias às progenitoras passavam a não se envolver com homens.” Depois criou outra, mais aceitável, mas com pouca fundamentação: “são mulheres que foram abusadas enquanto crianças. Ou vizinhos, ou parentes. Assim, não se envolvem com homens.” Os exemplos da vida real o desmentiam. “São doentes! Tem algum distúrbio”, berrou algum preconceituoso. “Isso tudo é culpa da Coca Cola”, disse um fanático, acreditando que na fórmula do refrigerante haja uma substância química que modifique o interesse sexual das pessoas. Blasfêmia!
Sem embasamento teórico ou científico, Roger tratou de fazer amizade com a moça que usava tênis all star. Tratou de assuntos amenos, sobre a faculdade. Noutro dia sobre o tempo. Teve uma vez que demonstrou preocupação com a moça, vinda do interior, longe dos pais, sem amigos. Ofereceu ajuda, “desde uma xícara de açúcar, até um chimarrão no Quadrado”, que era um tradicional ponto de convívio nos entardeceres da cidade. Ela sorriu, mas não respondeu. Percebendo que a saída era a insistência, Roger refez o convite e exigiu uma resposta oficial, com data e hora marcada. Ela aceitou, um tanto acuada.
O mais canalha de todos a levou à praia, onde conversaram uma tarde inteira. Como bons amigos, apenas. Foi quando ele pode mostrar o seu lado sensível, carinhoso, amigo. A deixou em casa, trocaram um beijo no rosto. E mais nada. No final da noite, enviou uma mensagem dizendo que “a tarde foi ótima”.
A paciência era uma arte a ser desenvolvida por aquele rapaz, sempre tão afoito. Foram seis meses de amizade e encontros amistosos. Sabia que um avanço indevido no sinal ou passo em falso, e teria seus interesses repreendidos ribanceira abaixo. Ligou no dia do aniversário. A levou num free shop, dizia em todos os encontros que seus cabelos estavam lindos, estivessem vermelhos, ou com mechas azuis ou verdes.
No sexto mês, o celular desperta, com um lembrete. Era o centésimo octogésimo dia. O dia do abate. Tratou de ligar para a amiga lésbica e pedir um pouco de atenção, um pouco de carinho, já que estava sofrendo por alguém. Ela aceitou de pronto. Nessas alturas, é bom que se diga, a moça já estava achando o Roger um cara gay, de tão sensível e meigo. Nunca havia visto um homem assim, tão mulher.
Ela o recebeu na sua casa. Ele fez aquela conversinha de adolescente, dizendo que estava afim de alguém, mas esse alguém não gostava dele e talicoisa. Ela se fez de desentendida, protelou ao máximo perguntar quem era, até que ele a olhou nos olhos e tascou um beijo.
Tinha planejado que treinaria um beijo menos agressivo, menos viril. Não queria que a moça se assustasse. Nada de enfiar a língua boca adentro. Nada de barba por fazer, já que isso a lembraria que ele era um homem. Treinou com algumas amigas a melhor forma de fazer sexo oral. Não poderia ser pior do que as outras haviam sido. Precisava ser a melhor chupada da vida dela. Nem sabia como fazer para penetrá-la, pois não lembrava mais como tirar uma virgindade de uma mulher.
Para sua surpresa, ela aceitou o beijo, e tratou de abrir a sua camisa, depois a calça. O deitou na sua cama de solteira, e fez um sexo oral de fazer inveja a mulheres que gostam e estão acostumadas com um pau. Não contente, levantou e tirou a sua camisa xadrez, mostrando seus seios pequeninos. Depois, com um esforço enercúmeno tirou a calça jeans, mostrando a sua falta de bunda, numa calcinha em forma de cueca, com o desenho do frajola. Abismado, Roger a deitou na cama e tentou colocar em prática aquilo que havia treinado com as suas amigas. Depois, quando lubrificada, ela sussurrou algo do tipo, “sou virgem, mas quero que você seja o primeiro”. Lisonjeado, com algum esforço desvirginou a moça ex lésbica. Depois, dormiram abraçados até o meio da madrugada, quando Roger acordou. Com algum esforço, demorou a perceber onde estava. Aquela foto da Madonna do quarto o remeteu de volta dos sonhos, a vida real. A moça ex lésbica estava abraçada em seu peito. Ele levantou o lençol e pode contemplar aquela beleza esguia, para voltar para casa orgulhoso de si mesmo.
O que Roger não havia planejado era o que aconteceria depois. Não encontrava a moça na faculdade, tampouco na internet. Ela não respondia suas chamadas. O que ele havia feito de errado? Será o sexo oral, um tanto quanto inferior aos das mulheres. Ou teria sido a dor da primeira vez, que a teria assustado? “Amor de pica é o que fica”, diziam. Mas, ela havia sumido.
A reencontrou duas semanas depois, na cadeira que cursavam juntos. Ela estava monossilábica. Roger o puxou pelo braço e procurou entender o que estava acontecendo. Ela foi taxativa:
- Estou apaixonada. Por uma mulher.
A princípio Roger pensou em propor um ménage. Adorava essas putarias. Mas, dessa vez, sentiu ciúme. Correu atrás, queria saber quem era. Ela disse que estava saindo com a loira mais gostosa da faculdade. E como consolo, disse que ele havia sido muito bom, mas que ele não passava de um bom amigo. Era tarde, Roger estava apaixonado pela moça magra, que voltou a ser lésbica.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

a ilusão

Esses dias estive no Rio de Janeiro. Dentre as diversas atividades culturais que observei, me chamou atenção o festival dos mini curtas, feitos com um aparelho de celular. Ora, nada mais acessível que gravar um vídeo com um aparelho de celular. Todo mundo tem um celular, e quase todos gravam. Daí, basta tar uma boa idéia, apertar o play e gravar por um ou dois minutos. Pronto! Você é um diretor ou um ator de cinema. Fácil e barato!
Até aí tudo bem. O problema é arranjar uma boa história. Enfim, nem sempre vi bons filmes... nem sempre vi boas idéias...




o churrasco da empresa

- Amor, vou sair.
- Aonde você vai?
- Num churrasco...
- Que churrasco?
- Do pessoal da empresa.
- Quem vai estar lá?
- Que diferença faz?
- Toda. Quem vai estar lá?
- O pessoal da empresa, oras. Só nós homens.
- Preciso saber se terá algum solteiro lá.
- Por quê?
- Sabe como é homem solteiro... Adora uma festa.
- Os solteiros gostam de ir para as festas, querida. Os casados preferem os puteiros. O que tu preferes?
- Prefiro que você venha pra casa.
- Então, faz diferença se irão solteiros ou casados?
- Não. Desculpa. Era só uma curiosidade. Venha pra casa.
- Tudo bem. Beijo.

As quatro horas da manhã...

- Você demorou, amor.
- É. Os solteiros não foram.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

a coincidência

Tem coisas que só acontecem com o Roger. Aquelas histórias cinematográficas de Hollywood, aqueles dramalhões das novelas mexicanas. Tudo acontece na vida dele, ao acaso.
Esses dias saiu com um casal de amigos. Reclamava para o casal que nenhuma mulher olhava para ele naquela festa. Foi orientado a olhar para as mulheres certas, aquelas dispostas a reciprocidade. Certamente, sempre tem alguém para alguém nesse mundo, disseram. As vezes demoramos a encontrar, ou não percebemos. Cito o único poeta que leio e gosto:

da felicidade
"Quantas vezes a gente,em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão,por toda parte,os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!"

Mário Quintana

Voltemos a essa história difícil de contar, de tão improvável. Naquela festa, invicto, imperceptível e intocável, Roger escorou-se no balcão, para bebericar a última e derradeira ceva. Foi quando uma moça se aproximou e disse:
- Oi. Minha amiga quer saber teu nome.
- Qual amiga? - perguntou ele descrente e amargurado.
- Não posso dizer. - esquivou-se a amiga-correio.
- Então diz pra ela que sou o João. - inventou, antes de retirar-se da festa.
No dia seguinte, habitué de seus afazeres, perambulou pelo Orkut dos amigos, até encontrar uma amiga de um deles, uma menina linda, e que tinha seu sobrenome. Era raro encontrar alguém com seu sobrenome. Curioso, tomou coragem de invadir o espaço da provável parente. Olhou as fotos, encantou-se, mas voltou a sua navegação normal.
No dia seguinte, observou que a menina que tinha o mesmo sobrenome havia retribuído a visita no seu Orkut. Interessante saber quem fuxica no seu Orkut, não é? Retribuiu e certificou-se da sua beleza. Era bonita mesmo, a ponto de ter vontade de visitar suas fotos diariamente. Saiu, torcendo para que ela retribuísse novamente a visita. No dia seguinte, correu para a internet. Bingo! O Orkut apontava nas visitas recentes o nome dela. Era a hora do bote. Não havia mais como protelar. Adicionou com a seguinte frase de adição:
“oi. vi seu orkut, através de amigos em comum. acho que jah te vi em alguma festa. resolvi add. Bjs”
Fazendo jus ao sobrenome, simpaticamente, ela aceitou o convite. De imediato, ele pediu o MSN, já que precisava manter contato. Mas, o tempo protelou um encontro casual e concomitante na internet. Por cerca de uma semana, aguardou pela moça do mesmo sobrenome, conectado e atento ao entra e sai do MSN.
A insistência deu resultado e finalmente puderam conversar. Conversa de protocolo, daquelas formais de apresentação. Ele já havia adicionado. Evidentemente ela sabia de seus interesses, que saliento, não era relacionado aos laços consangüíneos.
- Quando vais deixar eu te conhecer? - atacou o aguerrido Roger.
- Quando você quiser.
- Agora! - cravou.
A teoria diz que devemos tomar decisões incisivas, demonstrar iniciativa, deixar claro que não estamos para brincadeiras, afinal, somos homens ou um saco de batata? Sei da teoria, é claro, pois acho que sou um saco de batata.
Encontro marcado, hora combinada. Finalmente ele iria encontrar a moça do sobrenome idêntico. Não eram parentes, é bom que se diga. Sem dúvida ela fazia parte da uma casta mais embelezada da família, talvez qualificada durante a eugenização do sobrenome. Linda, simpática e com um bom papo, a moça fez uma revelação, que dá nome a esse texto:
- Eu só não entendo como você me adicionou no Orkut.
- Como assim? - questionou, pois já havia explicado que fora através de amigos em comum.
- O que eu não entendo é como você sabia que eu havia pedido para a minha amiga perguntar o seu nome naquela festa em que você estava escorado num balcão. Ou não sabia?
- Hã! Não acredito nisso! Juro que não sabia. É muita coincidência.
- Pois é. Também não entendi o porquê você mentiu o seu nome, não é Seu João?!

domingo, 7 de novembro de 2010

lembranças de um guri

Quando era guri, fui apaixonado por uma colega minha. Uma coleguinha de aula. Não digo na lata de quem se trata, pois hoje é uma mulher casada, vários filhos e as carnes já não são mais as mesmas. Infelizmente.
Costumava homenageá-la diariamente. As vezes, mais do que diariamente. Ao acordar, antes de dormir. Lembro de uma vez, quando ela foi com uma saia rodada, tipo colegial. Subi a rampa do colégio atrás dela, e juro por Deus, foi sem querer, acabei vendo as nádegas dela. As bochechas das nádegas. As duas. Emudeci. Ensurdeci. Naquela manhã, bati uma no banheiro do colégio. A vontade que eu tinha era de correr atrás dela e apalpar aquela bunda redonda. Seria bom se a nós pudéssemos fazer tudo o que temos vontade, não é?
Na verdade, se ao menos ela soubesse da minha existência. Mas, ela não me enxergava. Estudamos na mesma classe, mas ela não fazia idéia de quem eu era. Eu não jogava futebol de salão, eu não jogava basquete, eu não jogava handebol. Não tocava violão, nenhum tambor, não tinha fama nem nada. Só tocava punhetas em homenagem a ela. Eu era um ninguém naquele colégio. Apenas mais um a comer a merenda.
Nas minhas fantasias, ela fazia o melhor sexo do mundo. Não sei como poderia saber disso, diante da minha virgindade notória. Mas, pelo que via nas revistas, ela era a melhor, a mais completa, a mais cheirosa, um retrato da perfeição. E eu era um virgem, tímido e cheio de acne. Teve uma vez que ela falou comigo. Que voz suave, macia. Ela disse:
- Dá licença, baixinho! Que saco! - e passou, deixando aquele aroma de talco no ar. É, as pessoas usavam talco naquela época.
Era uma mulher feita, mesmo na pré-adolescência. Tinha seios grandes e firmes, coxas angulosas. Fumava alguma coisa com o pessoal da grêmio estudantil, escondidos. Dizem que ela transava com o presidente do grêmio, mas na verdade, saía com o capitão do time de basquete. Talvez saísse com os dois. Ou com o time inteiro de basquete. Era bem safadinha, o que, além do corpaço, a diferenciava das outras. E isso nos alucinava.
Quando ela passava, todos se cutucavam. Era a aluna mais conhecida do colégio inteiro, juntando-se todos os turnos. E despertava inveja das outras, lânguidas, miúdas, sem seios e sem bunda. Falavam poucas e boas dela. Diziam cada coisa, que eu desejava muito que fosse verdade todas as noites antes de dormir.
Esses dias esbarrei com ela na balada. Ela me olhou. Já não era a mesma, menos da metade do que era, mas a reconheceria sob qualquer circunstância. A chamei pelo nome. Ela perguntou de onde eu a conhecia. Disse que não importava, e menti dizendo que ela estava cada vez melhor. Ela continuava fumando. Tragou e me olhou de cima a baixo. Eu sabia que ela havia engravidado cedo, nova. Sabia que sua vida noturna dava inveja ao Romário. Bebia parelho com o Pagodinho. E imaginei, continuava safada como fora na escola. Peguei, foi fácil. Transei, foi bom. Ela tinha algumas manias, nada bizarro. Gostava olhar no espelho. Olhou do início ao fim. Tinha prazer se olhar no espelho. Depois fomos embora. Ficamos de nos encontrar por aí, a esmo. Nunca mais a procurei. Preferi ficar com a lembrança das minhas punhetas, onde tudo era perfeito.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

nosso lar?

Esses dias fui ao cinema, assistir Nosso Lar. Sou aficionado em cinema nacional, precisava relaxar e tinha cinco reais sobrando. Decidi arriscar. Digamos que foi um forte exercício assistir ao filme espírita, visto que sou um ateu convicto.
Sei que a religião é um tema polêmico e temo ser mal interpretado. Enfim, o País me permite não ter religião e não tenho. Assim economizo meu dinheiro. Opa, já criei polêmica! Enfim, ganho tão pouco dispensariam meu dízimo, bastava apresentar meu extrato bancário.
Para não dizer que eu não acredito em nada, digo que acredito na importância da igreja, embora ainda as ache menos importantes do que os times de futebol. Se bem que as empresas igrejas dão mais lucros do que as empresas times de futebol. Talvez por serem melhores administradas, ou por terem isenção de impostos.
Como ia dizendo, vejo que as igrejas amparam milhares de famílias, lhes dão esperanças e alentos. Isso é importante, já que o combalido governo é ineficaz nessa área. Ademais, elas aproximam os fiéis daquilo que chamam de Deus, com capslook acionado.
Dias atrás fui numa igreja. Na verdade, era um santuário. O que mais me encanta na Igreja Católica são as igrejas. Que opulência! Que acústica! Aliás, o que mais gosto numa igreja é o silêncio. Adoro ouvir o silêncio dentro das igrejas. É o silêncio que dá aquela sensação de paz, ao menos para mim. Tem gente que acredita que é a presença Dele.
O filme? Que filme? Ah, o filme espírita. Nosso Lar é um filme baseado num livro psicografado por um médico que encarnava (posso assim dizer?) no Chico Xavier. O livro eu não li, pois para determinadas coisas sou um analfabeto pleno e a leitura me dá sono. Sobre o filme, trata-se de uma realidade que os espíritas querem ver. Apenas isso, penso eu. O filme em si, e não falo da história, mas de cenários, de figurinos e de fotografia, é uma merda! Uma grande merda! Também, não poderia ser diferente, um filme espírita com luxúrias, grandes investimentos, seria no mínimo contraditório. Colocaria no hall dos filmes que não precisavam existir, não fossem os empregos que geraram. Algo do tipo 'Sérgio Malandro e o Inspetor Faustão', que espero que ninguém tenha visto.
Quanto a história do Nosso Lar, tem passagens bizarras. O passeio que o personagem principal, o Dr. André Luis, faz numa espécie de táxi aéreo/balão mágico é uma das coisas mais imaginativas que já vi. As cenas do purgatório, ou algo com mesmo significado e outro nome, são da dar dó. Enfim, geraram empregos, movimentaram a economia. E não vou morrer por cinco pila. Agora, se morresse, não iria gostar daquele meu lar noutra esfera.
Não sou um cara curioso. Sei que vim dos meus pais, que vieram dos meus avós, que por sua vez, vieram dos meus bisavós. E foi através do sexo, não se deixem enganar por costelas. Não vou muito adiante, pois não responderia todas as minhas dúvidas, que confesso, não chegam a uma ou duas. Não frequento a igreja, não sigo nenhuma religião e não acredito em deus. Soará como arrogância, eu sei, mas não preciso, tenho meus amigos, oras!, e agradeço a Deus por isso. Ops, me perdi.
Percebo que um ateu pode fazer bem aos outros e a si mesmo, tanto quanto e as vezes até mais do que um religioso. Qual minha contribuição para a sociedade? Bem, eu doo centavos das faturas dos meus cartões de crédito para que uma ONG plante árvores. Árvores são reais, me dão sobra, viram chalés, estantes, algodão, papel. Árvores são reais. Por outro lado, os ateus costumam respeitar mais a religião dos outros, pois aceitamos as diferenças, exatamente por que não aceitam nosso ceticismo. E teimam em me assustar:
- Um dia tu vais acreditar Nele!
Ou então:
- Quando você precisar Dele, você vai acreditar.
Dias depois, assisti Tropa de Elite, o segundo filme. Trata-se de um filme sobre o que a sociedade não quer ver, mas é real como um paralelepípedo arremessado contra a nossa têmpora. Exatamente o oposto do fantasioso filme espírita.


Nota de rodapé: assisti ao filme do Chico Xavier. Filmaço! Recomendo. Chorei, é claro. Pois, surpreendam-se, os ateus também choram.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

os curtas

Num cinema de uma cidade turística do interior, havia uma amostra de três premiados curtas-metragem internacionais. A cidade estava lotada de turistas, e no pequeno cinema do município histórico não era diferente. O Roger estava lá, acompanhado de uma amiga. Chegaram atrasado, pois bebiam cerveja antes de entrar no cinema. Não sabiam sequer, o que iriam assistir. De certo isso não importava.
O cinema estava lotado. Logo na entrada, o lanterninha avisou que só havia lugar disponível nas cadeiras, localizadas numa espécie de camarote sem divisórias, que ficavam ao lado das cadeiras. Sentaram bem ao fundo desse corredor superior, escondidos atrás de balaustres postos a cada vinte centímetros um do outro. Mais a frente, outras pessoas também estavam sentadas em cadeiras, próximas ao parapeito. As pessoas que estavam sentadas nas cadeiras do cinema, enxergavam quem estava nesse camarote, pelos vãos existentes dentre os balaústres, principalmente quando a luz da tela assim permitia.
O primeiro curta foi o único que viram. Ainda sim, não por completo. A amiga do Roger sentou-se a sua frente, mas colocou a cadeira um pouco ladeada, para que a sua mão pudesse acariciá-lo. Já no final do primeiro curta, ela abaixou a bermuda do rapaz, para sentir em sua mão direita o seu pau, começando a tocar uma punheta. Roger, mudo e imóvel, apenas fechou os olhos e escorou-se no parapeito para sentir o vai e vem da mão da moça, que volta e meia interrompia a masturbação para cuspir na sua mão e manter os movimentos de forma mais lubrificada.
A masturbação diminuiu de forma gradativa, ao acabar o segundo curta que foi seguido de aplausos pelos entusiasmados turistas cinéfilos ali presentes. Sem sobressaltos, iniciou o terceiro curta da noite. Roger não soube me dizer do que tratavam, mas não haviam intervalos. Era o filme e os créditos. Nesse ínterim, os aplausos. Pausa que servia para a amiga lambuzar os dedos e a palma da mão.
As vezes, Roger abria os olhos, olhava a sua direita e percebia que o cinema estava lotado. Percebia olhares desconfiados, de rabo de olho, nos clarões provocados pela tela do cinema. Era possível sim, que alguém estivesse vendo. Misturou a sensação de medo com o tesão, e seguiu o conselho da amiga, que aumentava a velocidade dos movimentos:
- Goza!
Roger fechou os olhos, pensou na loucura que era aquela situação e concentrou no atrito suave que a mão da amiga causava ao passar pela glande em alta velocidade e gozou, na mão da amiga, escorrendo esperma pela bermuda e respingando na camiseta. Fechou os olhos, e aguardou os aplausos. Havia acabado o terceiro curta da noite.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

minha nudez

Lembro, como se fosse hoje, da primeira vez que uma mulher me viu nu. Não preciso dizer que estava vermelho. Ela, por sua vez, estava tranqüila, lidando com algo natural e rotineiro. No princípio, eu estava com os olhos fechados, mas lembro que ela tinha mãos fortes. Ainda me fez chorar, aquela enfermeira.
Pode ser que ela não fosse um modelo convencional de beleza, mas convenhamos, foi a primeira mulher que vi. Continuando na minha regressão, o que lembro é de um lugar pequeno e escuro. Ouvia vozes, mas não via ninguém. O lugar era melequento, gelatinoso. Por ali, tive de me acomodar durante nove longos meses. E sem internet, o que dificultou muito as coisas. Lembro que no dia em que conheci a enfermeira, já não havia mais espaço físico para eu continuar ali naquela bola de meleca quentinha. Estava exausto de ficar contorcido, tentava me acomodar, mas definitivamente, ou aquela bola crescia ou teria de sair dali, conhecer o mundo lá fora.
Foi nesse dia que me um cidadão enfiou um dedo na minha orelha. Apalpou. Depois enfiou outro dedo no meu olho, escorregou pro queixo. E do nada, me arrancou daquela da bolota em direção a uma luz. E que luz! Havia holofotes apontados para aquele túnel que percorri puxado pelo pescoço. Esse cidadão, que utilizava uma máscara - talvez para não ser identificado por mim no futuro - me entregou a tal enfermeira. Demorei a conseguir abrir os olhos, já que na esfera gosmenta vivi numa penumbra total por nove longos meses. O que facilitou minha visão, foram as lágrimas que correram após me baterem covardemente. A enfermeira, bastante ágil, segurou numa tacada só, meus dois pés pelos tornozelos. Imóvel e indefeso, me deram palmadas. Chorei como nunca havia chorado, para alegria de uma senhora de pernas abertas e felicidade dos vários mascarados que assistiam a tudo.
Lembro da enfermeira mascarada, que me deitou num pano branco e começou a retirar aquela gelatina que havia no meu corpanzil. Esfregava um pano úmido no meu corpo. Lembro do pano atrás das minhas orelhas. No meu suvaco, na virilha. Ai, como era bom na virilha. Talvez fosse imperceptível, mas meu tico ficou duro na hora. Ela continuou a esfregar as dobrinhas que havia nas minhas partes íntimas. Foi meu primeiro sorriso. Ela percebeu, e para se vingar, enfiou aquele pano na minha bunda. Imediatamente parei de sorrir. Acredito que devo ter sido identificado, já que ela colocou uma pulseira. Não pude ler, mas acho que dizia algo do tipo “macho”. Depois ela me apresentou àquela senhora que estava com as pernas abertas. Depois, pelo vidro, me exibiu a um senhor. Foi a última vez que vi aquela senhora mascarada, que abusou de mim no hospital, e depois sumiu da minha vida. Talvez seja ela a responsável pelas minhas fantasias com enfermeiras.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

a mulher fiel

A mulher fiel passou pela vida do Roger. Poderia ter passado e sumido, assim como passam várias diariamente. Mas, a internet os aproximou. Quando se conheceram tiveram o mesmo interesse, a vontade recíproca, trocaram olhares, aquela coisa toda, mas nada. Ela era fiel, casada, religiosa. E carioca! E as mulheres cariocas, dizem, são as melhores. Conheceram-se ao acaso. Conversaram e tal. Ela era linda, tinha um sotaque gostoso, carregado, era simpática. Mãe, mas com o corpo intacto. Não era alta, pelo contrário. E fiel, mesmo diante das crises que antecedem as separações.
Ela foi embora, para sua cidade. Perderam contato. Ele deixou de lembrar dela, no entanto, sem esquecê-la. Até que recebe um convite, pelo site de relacionamento no qual participava. Bem útil essas ferramentas tecnológicas que permitem esse tipo de aproximação entre as pessoas.
- Lembra de mim? - dizia ela no comentário da adição.
Lembrava. Tanto que deu vontade de revê-la. Mas, como? Se ela ao menos ela estivesse solteira. Conversaram mais algumas vezes, por outro programa de conversação, desses que todo mundo tem. Acredito que ainda no meio deste século registrarão as crianças com um nome e sobrenome, com RG, CPF e MSN. Todos os dados estarão registrados no mesmo cartão de identificação.
Ela estava casada ainda. Não havia se separado, porque sua filha era pequena e talicoisa. Mas, estava cada vez mais abandonada, carente. Roger não gostava de mulheres casadas. Contudo, solidarizava-se com as carentes. Preferia as solteiras que são menos complicadas. Mas, era impossível não gostar dessa. Um risco excitante, uma mulher apaixonante. Resolveu arriscar. Uma mulher fiel é algo que atraí. O perigo atraí, e mulheres fiéis são cada vez mais raras. Além disso conquistar uma mulher com princípios, convencê-la a mudar de idéia é um desafio, um desafio para um Roger.
- Tenho férias pra tirar no mês que vem. - comenta despretensiosamente.
- Vem pra cá? - provoca ela.
- Até iria, se tu não fostes fiel.
- Sei...
- Iria mesmo. Não duvide.
- Nunca vou trair meu marido com outro homem. Jamais! Enquanto for casada, serei fiel.
- Tenho onde ficar. Uma amiga mora aí. Mas, somente iria se valesse a pena.
- Então vem. Você não vai se arrepender.
Roger blefou. Não tinha grana. Como iria sair do extremo sul do Brasil e atravessar o Brasil? Era louco o suficiente, mas precisava de uma carona. Assim foi.

Comenta com um, depois com outro e conseguiu uma carona. Iria de caminhão, na primeira semana de férias. Teria de juntar dinheiro pra volta. Combinou com a amiga a hospedagem, arrumou a mala e foi. Nunca tinha andado de caminhão. Foi apresentado aos caminhoneiros no dia do embarque.
- Temos que carregar o caminhão, numa cidade do interior e depois vamos subir. Vai até aonde? Tem hora pra chegar lá? - pergunta o dono do caminhão.
- Não tenho pressa. Vamos indo e vejo onde vou descer. - diz Roger.
Poucas vezes sentiu-se tão confortável na estrada. Foi na janela, na carona. O ajudante do caminhoneiro, foi dormindo, na cama que existia na cabine.
- Pode colocar os pés no painel. Fica a vontade que a viagem é longa. - oferece o caminhoneiro. - Vai até aonde mesmo?
- Longe. - disse o Roger, com o pensamento na capital fluminense.
- Nós vamos até Jacareí, pode ser?
- Ótimo. - disse ele, sem sequer fazer a menor idéia de que Jacareí ficava em São Paulo.
Viagem longa, troca de motorista e uma viagem quase tranqüila. Tentava permanecer acordado o tempo todo, e o temporal que passara por Santa Catariana não o deixou cair em sono profundo. Na BR 101, pode observar os estragos do temporal, daqueles temporais que destroem tudo por lá. Árvores na estrada, casas destelhadas. A lua cheia iluminava à noite na estrada, o que facilitava a visão da destruição. Viajaram a noite inteira. Sonolento, acordou com o barulho estranho, já pela manhã. Leu nas placas: Curitiba. Algum problema havia ocorrido com a Scania. O dono do caminhão acordou também:
- Entra naquele posto. Tem uma oficina ali. - disse ele.
Roger não entendia nada de mecânica. Ficou na volta, de curioso. O mecânico disse que tinha de trocar uma peça. Só seguiriam viagem as duas horas depois. Antes, foram tomar café.
- Vamos chegar a noite em Jacareí - disse um deles.
O café foi reforçado. Não parariam para almoçar. A próxima parada seria a noite, em São Paulo. Troca de motoristas e seguiram rumo a grande São Paulo, onde chegaram tarde da noite. Antes de partir, Roger tomou um outro banho e saboreou mais um Prato Feito, chamado de PF. Agradeceu a carona e foi embora. Gostou de viajar de graça. Chegou na rodoviária pós meia noite:
- Para o Rio só as 7 horas da manhã.
- Bah! Pode ser, então. Que horas chega no Rio?
Comprou a passagem. Depois ligou para sua amiga, informando que chegaria por volta do meio dia. Teria de passar a noite na rodoviária. Receoso, não quis conhecer a cidade. Pediu água quente no único bar aberto e preparou seu chimarrão.

No Rio, conseguiu um final de tarde livre, para encontrar a mulher fiel:
- Pega o metrô e desce em Botafogo. - determinou ela, de forma objetiva.
Ao descer em Botafogo teve uma surpresa. A mulher fiel estava acompanhada de uma outra moça, uma loira bonita e simpática. Aliás, não existe carioca antipático.
- Essa é uma amiga minha. Vai nos acompanhar no motel. - explicou ela.
- Sabia que tu não irias me decepcionar, carioca. - vibrou ele.
Desceram até o metrô e embarcaram para a Glória:
- O motel que descobri, aceita que três entrem num quarto, mas cobram duas diárias...
- Eu pago! - gritou ele, dentro do metrô lotado.
Na recepção, sentiu pela primeira vez o prazer de ser invejado. Duas gatas o acompanhavam. A recepcionista do hotel olhou para ele, ensaiou um “pois não?“, mas quando observou as duas mulheres que o acompanhavam, deve ter relembrado da ligação feita a tarde, e logo alcançou a chave, esclarecendo que “seriam cobradas duas diárias”. Conversavam e bebiam no quarto, intercalando a ducha de chuveiro. Quando o Roger voltou do banho e viu a mulher fiel chupando a amiga carioca, achou que a mulher fiel não era tão fiel assim. Quando ela percebeu que ele estava escorado no marco da porta, observando a cena, ela disse:
- Ela tá pronta. É toda sua.
Roger consegui transar com uma carioca. A mulher fiel manteve-se ao lado, observando de perto a foda. Permaneceu ao lado do casal, acariciando-os. Mas, conforme havia prometido ao seu esposo ausente perante as leis da sua igreja, jamais, enquanto estivesse casada, o trairia com outro homem.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

o meu mundo utópico

No meu mundo utópico, não há proibições. Não se faz necessário criar regras ou leis proibindo algo. Isso porque no meu mundo utópico as pessoas se respeitam tanto que escrever leis é desnecessário. Rasgamos a nossa Constituição!
Por isso, no meu mundo, foi liberado o uso da maconha. Eu nem fumo, embora tenha pra vender ali na esquina. Também não me importo com isso, eis que quem fuma não me incomoda com seus devaneios e sua fumaça. Eles não fumam em locais fechados, embora a lei anti fumo tenha sido revogada, pois no meu mundo utópico, os fumantes sabem que a fumaça incomoda aos outros.
O governo desse meu mundo, manteve poucas leis, totalmente desnecessárias, grifo eu. O tal Código de Trânsito, estudamos na escola, e nos basta para que nos tornemos todos condutores gentis, cordiais, e todos os motoristas cumprem a sinalização que orienta o fluxo e a prioridade do trânsito é a vida. Arquivamos o antigo Código de Trânsito! Esses dias tivemos um desentendimento, após uma colisão entre dois veículos.
- A culpa foi minha, desculpe. - disse um condutor.
- Negativo! Quem errou fui eu. Eu pago tudo! - disse o outro.
Aliás, o governo é uma mera formalidade, uma exigência da ONU, talvez. O voto não é obrigatório. Aliás, nada é obrigatório. Ficou em desuso obrigar alguém a fazer alguma coisa. Mesmo assim, quase todos votam, pois somos um povo politizado. Os próprios candidatos são muito preparados. Políticos corruptos são coisa do passado. Eles assumem o cargo por interesse em participar desse mundo utópico. O grande desafio deles é melhorá-lo. Esses tempos um palhaço se candidatou a deputado, coitado. Voltou pro circo.
Não há poluição visual, já que ninguém comprava em lugares que poluíam. Também não há poluição sonora, cada um escuta a sua música sem atrapalhar a música do outro. E a jogatina? Liberada, óbvio. Gerou empregos, impostos que são convertidos em melhorias para a população e lucros para o turismo. Antes, íamos apostar em cassinos de países vizinhos, nos divertíamos no exterior, uma evasão de divisas desnecessária. Todos sabem que são jogos de azar, mas não vamos para enriquecer, mas sim para nos divertir. Gostamos de perder moedas em caça-níqueis. É um direito nosso.
No futebol, não há brigas de torcidas. Quem ganha vibra, pula. Quem perde, dá risada, afinal é apenas futebol, um esporte. O casamento de homossexuais é permitido, obviamente, já que não temos preconceitos nem restrições.
Mas, falo do meu mundo utópico, pois esses dias estive no Brasil. Lá no Brasil, percebi um alvoroço. Falavam sobre o aborto. Época de eleição, imprensa agitada, e o aborto era o assunto. Na verdade, não era o aborto o assunto. O assunto era a religião: o olhar da religião sobre o aborto. Propaganda eleitoral, capas de revistas, sites na internet, todos só falavam nisso.
Então resolvi comentar aqui, o que se passa no meu mundo utópico. Lá, as mulheres se reuniram e decidiram. Nós homens só acatamos. Homem não tem útero, não tem ovário, não menstrua, então não tinha direito a voto. O Estado é laico, então não sofreu influência religiosa. Lá, prevaleceram os interesses da mulher. Algumas são religiosas e entendem que o aborto como a morte de um feto. Mas, elas respeitam as opiniões contrárias. Outras mulheres não compartilham das mesmas idéias. Por isso, criamos clínicas modernas, que visam atender as mulheres que optam fazer o aborto, com médicos capacitados. Desde a maioria decidiu pela livre escolha, não morreram mais mulheres em ocorrências abortivas. O governo deu a liberdade para as mulheres e suas famílias escolherem o que quiserem, por que não cabia mais ao governo impor o futuro das mulheres. De uns tempos pra cá, a clínica anda vazia. A recepcionista me disse que não lembra quando foi feito o último aborto. Também, pudera, não há estupros, não há filhos não planejados. Acho que não saio tão cedo do meu mundo imaginário.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

metas abusadas

- Oi. Gostaria de encerrar a minha conta corrente. - disse o Roger à estagiária do banco.
- Tudo bem. Em nosso banco, o encerramento ocorre pelo telefone. Vou fazer a ligação e repassar ao senhor.
- Ok...
- Eles irão tentar persuadi-lo, e se o senhor resistir, eles imprimem o termo de encerramento. - disse ela sorrindo.
- Ok.
Ela faz a ligação, identifica-se com nome, sobrenome, matrícula e função. Roger se apropria das informações por ora repassada ao funcionário do setor de encerramento. Dessas informações apenas posso dizer que tratava-se de uma estagiária, de nome bonito. Das outras informações, divago aqui: era uma loira, 1,68kg, 64kg, com olhos cor de mel. Usava aparelho, o que a deixava mais jovial. Tinha um sorriso lindo e era simpática, como só as estagiárias dos bancos privados conseguem ser. Usava um terno claro, que a tornava mais respeitável. A maquiagem e as jóias eram um fechamento perfeito àquela obra feita com carne tenra. Ou quase, já que esqueci de comentar sobre o perfume que inebriava os clientes.
- Seu Roger...
- Saiba que sou mais novo que a senhora... - interrompeu. Nunca havia sido chamado de senhor. Ademais, poderia ser colega de faculdade dela.
- Desculpe. Nosso funcionário irá atendê-lo. - disse meigamente, ao entregar o fone.
- Senhor Roger, boa tarde.
- Tarde...
- Sou o funcionário Marcos, e vou estar providenciando a sua solicitação. - disse o rapaz, chiando na letra S, o que indicava sua "carioquês".
- Ok.
- Então o senhor pretende encerrar a sua conta corrente?
- Sim.
- Vejo que o senhor tem uma conta universitária, com custos baixos. O senhor também possuí um cartão internacional, que o senhor pode estar usando no exterior.
- Hum. - disse empolgado com a obviedade dos argumentos.
- Qual o motivo do encerramento?
- Sou funcionário de outro banco. Não pago tarifas, tenho melhores juros e vantagens. - disse orgulhoso, olhando nos olhos da loirinha estagiária, tentando impressioná-la.
- Entendo. Eu posso estar lhe oferecendo uma isenção nos valores do seu pacote de serviços. Posso estar solicitando um cartão de outra bandeira, com tarifa grátis por doze meses.
- Já tenho. - disse enfático e incomodado com o gerundismo. - Aliás, tenho três bandeiras de cartão de créditos, sem custos.
- Também posso estar lhe disponibilizando uma carteira de alberguista, que estamos disponibilizando aos nossos clientes universitários, e que é aceita em todos os albergues do mundo.
- Hum... Interessante, mas não tenho interesse.
- O senhor tem conta corrente em outro banco, além do banco em que o senhor trabalha?
- Não.
- O senhor acha interessante manter suas aplicações em apenas em um banco. O aconselhável é diversificar investimentos, assim como trabalhar com mais de uma instituição financeira. Nunca carregue os ovos na mesma cesta, não é?
- Marcos... É Marcos, não é?
- Sim senhor.
- Não tenho investimentos, quisá aplicações. - disse sussurrando, olhando para trás e com a mão tapando o som, para que a estagiária não ouvisse nada sobre sua falta de posses momentânea.
- Não compreendi. O senhor pode repetir mais alto?
- Nada, deixa pra lá. Só quero encerrar a conta.
- Então o senhor vai deixar de trabalhar com um banco internacional, com mais de três mil agência espalhadas pelo mundo, com mais de quinze mil pontos...
- Sim. Vou. - interrompeu monossilabicamente.
- Ok, então peço que o senhor aguarde alguns instantes enquanto estarei procedendo o encerramento da sua conta corrente, para depois estar imprimindo o termo. Meu nome é Marcos e qualquer coisa é só me chamar.
No fundo, Roger estava gostando daquela situação. Sentado numa cadeira confortável, aproveitando o ar condicionado e admirando uma deusa em forma de estagiária. Excetuando o jingle do banco, que tocava no 0800, todo o resto era interessante. Olhou em volta e percebeu a beleza daquelas funcionárias do banco privado.
- Para as feias tem concurso público. - sussurrou.
- Senhor Roger...
- Sim...
- O senhor é bancário, sabe que temos que cumprir metas.
- Sei bem como é isso.
- Pois então. Vou ser direto. Usei quase todas minhas propostas de retenção para mantê-lo conosco. Sinceramente, há alguma coisa que eu possa fazer para mantê-lo nosso cliente?
- Cara, a única forma de continuar cliente é se essa estagiária loira que tá aqui na minha frente passar uma noite de sexo comigo. - blefou.
- Senhor Roger... - disse o funcionário após um breve intervalo. - Então... Por gentileza, o senhor pode estar passando a ligação pra ela?

sábado, 2 de outubro de 2010

ficha limpa

Em agosto, postei uma crônica chamada 'democracia?', que tratava da chamada lei da ficha limpa. Manifestei meu repudio a tal lei, bem como a quem a defende, como se ela fosse a solução para nossos problemas. Pois na véspera da eleição, um recurso impetrado pelo candidato "ficha suja" do DF, Sr. Joaquim Roriz, foi julgado no STF. Em suma, cinco magistrados votaram a favor, que a lei já valesse para essa eleição e que fosse retroativa, e cinco magistrados votaram contra a lei, a julgando inconstitucional e talicoisa. O voto de minerva, estava prejudicado, visto um Ministro do STF estar adoentado, impossibilitado de julgar. Enfim, o candidato do DF retirou o recurso, e anunciou numa coletiva que para o seu lugar, concorreria ao cargo distrital a Sra. Roriz, sua esposa.
Quando escrevi a crônica, defendi que de nada adianta uma lei ficha limpa, se os eleitores votarem errado. Hoje, dia 02 de outubro, véspera da eleição, reafirmo que nada adiantou a não candidatura do Joaquim Roriz, caso seja eleita sua esposa, uma espécie de marionete em forma da candidata. Reafirmo que devemos nos preocupar com a eduação. Educação é a palavra chave para bons eleitores e bons governantes. Se todos fossemos educados e cordias, as leis seriam meras regras da nossa sociedade.
Segue link para o conto, que considero a melhor coisa que já escrevi na vida. Também, lhes apresento a Sra. Weslian Roriz, esposa ficha limpa do ex Governador ficha suja Joaquim Roriz. Os vídeos, grifo eu, são hilários:

http://contosdoroger.blogspot.com/2010/08/democracia.html








Cara!! De que adianta a ficha limpa se o DF votar nela?? Quem vai governar o DF é ela, que tem a ficha limpa, ou o esposo, que tem uma vasta ficha suja? Lei besta essa. Aplaudida por todos. Os Roriz, vejam bem, os Roriz sabiamente burlaram a lei. Cabe aos eleitores do DF decidirem, democraticamente escolherem quem vai governar o Distrito nos próximos quatro anos. E se escolherem o pior candidato de todos, democraticamente devemos acatar e fiscalizar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

a carta

Morar em apartamento é algo interessante. Em condomínios então, nem se fala. Roger morou num prédio, em determinada ocasião. Era um prédio com cinco andares. Cada andar, oito apartamentos. Tentou fazer dos corredores o pátio da sua casa. Mas, era bastante gente. Muitos vizinhos. Pela proximidade, achou interessante envolver-se com uma vizinha, principalmente para ter o que fazer nos dias de chuva. Todo dia encontrava uma vizinha, tentava uma troca de olhares. Em vão, sem sucesso.
Uma vez, estava saindo pra jogar o futebolzinho da semana, quando uma vizinha de corredor sai na frente, junto com uma amiga. Moravam no quarto andar. Começaram a descer as escadas. As duas conversavam alegremente, enquanto Roger ouvia, atento:
- Hoje, até recebi uma proposta de casamento. - disse a vizinha.
- Sério? De quem? - pergunta a amiga da vizinha.
- De um cara lá de São Luis do Maranhão. Queria que eu fosse pra lá. - disse ao atingir o segundo andar.
- E tu vais?
- Imagina! Não vou não. Quero casar, mas aqui, em Bagé mesmo.
- Hum...
- Ainda mais agora, que o inverno tá chegando, nesse apartamento enorme, frio. Até queria alguém, mas aqui. - completa ao chegar no saguão do prédio, antes de ir em direção as caixas onde ficavam a correspondência. Nesse momento, a amiga parou e olhou para o Roger, devidamente uniformizado com calção, camiseta e meias arriadas. Ele não teve dúvidas: elas falavam pra ele ouvir. Era um recado. Foi jogar com essa idéia na cabeça. Ainda comentou com os amigos do futebol a respeito. Comentou com colega com quem dividia o apartamento. Quem era aquela vizinha que, até então, não havia visto no prédio?
Jogou com essa dúvida na cabeça, o que provavelmente deva ter afetado seu desempenho futebolístico. Após o jogo, precisou reidratar o corpo com o líquido dos atletas de meio de semana: cerveja! Muita cerveja gelada. Cada um paga uma, depois a segunda, depois começam as saideiras. Alguns foram embora, tinham de chegar cedo em casa. Outros ficavam bebendo mais um pouco. Depois, passando a meia noite, foram embora. Roger foi sozinho, cambeleando, já que seu colega de apartamento já havia ido embora mais cedo. Foi com a história da vizinha na cabeça.
- Ela falou pra mim! - pensava - Por que a amiga dela iria me olhar se não fosse pra mim? Claro que era pra mim.
Convencido pela sua própria embriaguez, chegou em casa, colhe um papel A4 na impressora, senta-se e sobre a mesa da sala e escreve uma carta, com a letra tremida:






Meses depois...

Era um dia como outro qualquer. Roger estava trabalhando, no atendimento. Atendia preferencialmente os idosos, o chamado atendimento prioritário. Já estava no final do expediente, e clicou no número de algum idoso, dentre tantos que aguardavam na fila. Nisso, levanta-se uma jovem senhora, trinta e poucos anos. Senta-se na frente do atendente Roger.
- Tudo bom? - disse ela.
- Tudo bem. A senhora pegou um ficha prioritária, reservada aos idosos. - recrimina ele a jovem senhora.
- Sim. Peguei uma ficha para minha mãe.
- Eu vou atendê-la, dessa vez. Mas, da próxima, a senhora não pode pegar uma ficha prioritária, mesmo que seja pra resolver um problema para sua mãe, ok?
- Ok, mas o que tenho pra resolver é jogo rápido...
O atendimento seguiu, normalmente. Até que ela faz um comentário, um tanto quanto maldoso, com um sorriso maroto no canto esquerdo da boca:
- Não é tu que moras nesse prédio aqui do lado, o branco, com cinco andares?
- Sim, sim. - responde ele sem tirar os olhos do monitor.
- Tu moras no quarto andar, né? - detalha com mais malícia.
- Sim... Moro. - responde ele, após deixar de olhar a tela, mas, ainda sem virar o pescoço.
- Tu moras no 304, não?
O sorriso malicioso dela daria inveja a Monalisa. Roger virou o pescoço para melhor observar quem era aquela jovem senhora que lhe causava embaraço. Voltou a olhar para o monitor, mas na tela passava um filme, idêntico ao do link acima. Esqueceu o serviço que estava prestando. Engoliu a seco a idéia de estar atendendo sua vizinha, a vizinha que havia recebido a carta. Ruborizou. Só poderia ser a vizinha da carta. Teve vergonha. Queria uma pá de corte para cavar um buraco e nele atender os demais clientes até o final da outra semana, se possível, mascarado. Até que ela, para seu completo vexame, esclareceu:
- Prazer. Eu sou a tua vizinha do 302.




Preciso agradecer..
ao Leonardo, bancário, economiário e câmera de celular
ao Gustavo, bancário, economiário, músico e editor de vídeos

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

o bonzinho só se fode

Desisti. Definitivamente desisti de entender as mulheres. Mulheres são confusas, não sabem o que querem. E sei do que estou falando, pois já namorei muitos anos da minha curta vida. E já morei com amigas. Participei de jantas onde só tinham mulheres e nessa época ouvi coisas que nem sob tortura posso comentar aqui. Ouvi mulheres indecisas, mulheres inseguras, mulheres ousadas, do tipo atrevida, mulheres experientes, divorciadas, com filhos, e até mesmo virgens. Bom, virgens eu duvido.
E quando imaginei que estava entendendo esse universo nebuloso que é o universo feminino, percebi que nada sei. Mulheres são seres impossíveis de entender. Diferente do futebol, que embora imprevisível, é explicável. Ainda mais no Brasil, dito país do futebol, onde o esporte é uma fuga de uma realidade por vezes cruel.
Sobre o futebol sei muitas coisas. Sei o que é impedimento, entendo esquemas táticos, vejo nos jovens da base bons profissionais no futuro, lembro das escalações dos anos 80, época em que colecionava figurinhas. Então lembro da Batalha dos Aflitos, onde o Grêmio, com quatro jogadores a menos, com um pênalti contra e aos 38 minutos do segundo tempo, empatando em zero a zero, venceu o Naútico. A história já virou filme e todos já sabem. A bem da verdade essa foi a única vez em que entendi menos de futebol do que de mulheres. A única. Nas demais, o futebol é mais óbvio, quando comparado com esses seres insubstituíveis e cheias de curvas.
Uma amiga recebeu uma mensagem do ficante esses dias. Dizia:
- Passei o dia dormindo. Agora vou tomar banho.
Era uma mensagem pra lá de singela. Talvez no twitter fizesse sucesso. Apenas demonstrava o interesse do rapaz na menina, misturado com uma vontade de estar junto, próximo, uma vontade de dividir momentos. Porém, ela pouco estava interessada. O julgou pegajoso. Para desespero das outras, que queriam um namorado atencioso assim. Vai entender...
Tinha uma época, que pensei comigo mesmo: “Vou estudar, ser alguém na vida. Aprender a dançar. Não vou roubar. Nenhuma mulher vai me querer burro, sem estudo, sem objetivos, cintura dura, ladrão”. Foi na mesma época que minha mãe me convenceu que teria de tomar banho todos os dias a partir de então, pois se enforcasse a ducha diária, nenhuma guria iria me querer.
Então estudei, li bastante, na tentativa de ser mais culto. Tento não descumprir as leis, não saio sem pagar dos estabelecimentos, procuro ser um cara legal. Antes de dormir tomo banho, uso desodorante. Afinal, que mulher iria me querer se fosse assim?
E hoje eu respondo, lamentando: quase todas. As mulheres, quando apaixonadas, fazem escolhas erradas. Algumas, mesmo sem paixão, envolvem-se com camaradas que roubam, que não tem cultura, que não lhe dão carinho. Começou a cair a ficha quando ouvi uma música que dizia “que mulher gosta de dinheiro, quem gosta de peru é bicha”.
Espero que nenhuma mulher se sinta ofendida, mas olho as mulheres dos jogadores e dos artistas; elas buscam fama, e não o amor. Observo as mulheres de alguns empresários, e elas não querem uma paixão avassaladora, querem jóias, glamour. E as mulheres dos políticos então, querem poder e status. Talvez haja exceções, sempre há.
Ingênuo eu. Fui enganado. Acreditei que as mulheres iriam querer caras legais, honestos, inteligentes e limpinhos. Não era para ter tomando banho todos os dias.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

bullying

Sempre vítima de bullying, Roger não cresceu em paz. Não foi fácil amadurecer no meio de pessoas selvagens, que o instigavam desde que nasceu. Acuado diante de seus algozes, Roger tornou-se o homem mais tarado pelo sexo feminino que já existiu no mundo. Simplesmente porque nasceu em Pelotas.
O tema é pertinente. Depois muitos anos a sociedade discute abertamente a discriminação velada que se dá, principalmente, nas escolas. O bullying é uma agressão social e ocorre em todas as fases, e não apenas na escola. Qualquer tipo de discriminação social (etnia, religião, aparência, incapacidades, opções) é um ato ilícito, pois desrespeita a constituição e fere a dignidade da pessoa humana.
A questão é que a linha que existe entre o humor debochado e a discriminação é muito tênue. A piada contra gordos pode até não afetar adultos obesos, mas respinga nas crianças que sofrem com excesso de peso. Por outro lado, não rir da vida é um erro, e pode torná-la chata, sem graça. Fazer humor sem humilhar ou desrespeitar os outros não é fácil.
As vezes, assisto a indignação dos gaúchos quando escutam as piadas - quase sempre engraçadas - relacionando a homossexualidade com quem nasce no Rio Grande do Sul. Já vi comunidade no Orkut, adesivos e li comentários revoltados contra programas de humor, como o Casseta e Planeta, transmitido pela Rede Globo. Interessante é que justamente a emissora tomou as rédeas da campanha para acabar com o bullying. Afinal, sacanear gaúchos é só uma piada ou homofobia ou bullying?
O Roger não compra essa briga, pois que costuma viajar pelos rincões do Rio Grande e sempre que se orgulha de ser pelotense, ouve piadas sobre a sua sexualidade. Aliás, as mesmas piadas que ouvimos sobre gaúchos. Ou seja, o gaúcho se revolta quando as piadas vem de fora do seu Estado, mas adora fazer as mesmas piadas com relação aos pelotenses.
Incentivado pela campanha global contra o bullyng, ele aproveitou a oportunidade e assumiu a sua homossexualidade, de pelotense nato.
- Sou lésbica: gosto de mulher! Até meu lado homossexual é lésbico!
Culpa do bullying que sempre sofreu por nascer em Pelotas. E do Casseta e Planeta também.









quarta-feira, 15 de setembro de 2010

notícia

A atriz pornô russa Chiana Yosoboievic, 24, morreu durante as filmagens do filme “analni objavama” (tradução, revelações anais).

Segundo as pessoas presentes no estúdio, no fim de uma cena onde contracenava com outros 12 atores, a atriz começou a se contorcer e ficar vermelha.

“Ela saiu correndo desesperada. Fiz o que pude, tentei enfiar o dedo na garganta e tudo”, lembrou um dos atores.

Yosoboievic foi levada às pressas para um hospital, mas não resistiu e morreu antes de dar entrada. Fãs da atriz prestam suas últimas homenagens hoje às 22hs (horário de brasília).

O médico Alberto Canurto explica que nessas situações o procedimento adequado é o mesmo que para o caso de afogamento: respiração boca-a-boca e massagem cardíaca.


http://www.noticiacretina.com/2010/08/atriz-porno-morre-engasgada-com-esperma.html


parafraseando Antonio Tabet, qual o melhor comentário para a notícia acima?
1. Acidentes de trabalham podem acontecer em todas as empresas.
2. Respiração boca-a-boca depois de 12 gozadas? Bem, não podemos intervir no destino das pessoas...
3. Como assim, "morreu antes de dar entrada?"
4. Últimas homenagens as 22h? Será que ainda dá tempo de ir na locadora?
5. Porras!

domingo, 12 de setembro de 2010

seguro

Uma pacata agência bancária do interior tem o seu silêncio interrompido diante da entrada de um caipira:
- Bom dia! Quero um seguro para o carro que comprei!
Frenesi na agência. Era raríssimo alguém segurar um veículo naquela agência bancária. No município, predominantemente rural, não havia acidentes há mais de dez anos. Furto ou roubo então, nem as estatísticas sabem dizer. Dentro da agência, apenas um cliente, cercado por todos os funcionários. Um feito!
- Qual automóvel o senhor comprou? - questiona o vendedor.
- Comprei um Gol. Um VW/Gol, modelo F. - disse orgulhoso.
Seria uma boa oportunidade para a agência cumprir as metas do seguro veículo. Um seguro de um veículo zero traria boa rentabilidade à agência. A lamentar o fato de que o bancário não encontrava no sistema um Gol modelo F. Imaginou tratar-se de um veículo de última geração, algo que ainda não fora atualizado no sistema.
- Modelo F? - duvidou o funcionário.
- Sim. Modelo F. Zerinho! - afirmava o adquirente.
Todos os funcionários da agência tentavam encontrar na internet, em sites especializados, tal iguaria veicular. E não encontraram.
- O veículo está aí? - perguntou o gerente.
- Sim. Aqui na frente.
- Vamos lá ver, então.
Negócio fechado! O colono havia adquirido um Golf. Desfeito o equívoco, restava o funcionário preencher o cadastro, agendar a vistoria, e o Gol modelo F, do produtor rural estava resguardado.
- Qual seu sobrenome, seu Roger? - perguntou o funcionário, com os olhos atentos ao teclado. - É Souza com ‘z’ ou Sousa com ‘s‘?
- É Solza, doutor. Com L.
Pronto, bastava assinar o contrato. Três vias, distribuídas na mesa:
- Uma é sua. Outra da seguradora. E outra fica no nosso arquivo. Peço que o senhor assine aí em baixo, enquanto busco seu brinde.
- Assino em qualquer lugar, doutor? - pergunta o colono semi analfabeto.
- Sim senhor. Em qualquer lugar aí em baixo.
Minutos depois, o funcionário pedia ao cliente que assinasse novamente:
- Em qualquer lugar aí em baixo, mas no papel, seu Roger. No papel! Na mesa não pode ser!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

o puteiro

O salão nobre das festas dos homens é um puteiro. Um lugar peculiar. Gosto de puteiros, das músicas, do palco, da penumbra e até da fumaça do cigarro. Por incrível que pareça, o que menos gosto é da atitude das mulheres, que só me acham interessante apenas se eu tiver dinheiro. E dinheiro tem me faltado ultimamente. Feio fica lindo em puteiro, basta ter dinheiro ou um bom limite no cartão. A beleza do cidadão está diretamente ligado ao dinheiro que ele possuí na carteira, diga-se de passagem, muito parecido com a vida fora da putaria.
Ainda sobre os puteiros, me fascina um local que existe desde que o mundo é mundo, onde as pessoas vão em busca do proibido. E lá, no prostíbulo, nem tudo pode, nem tudo é permitido. Existem regras. Passar a mão em bundas e peitos só é aceitável mediante pagamento de doses. Não é permitido cortejar a puta do outro enquanto o outro estiver pagando suas doses. É um mundo muito regrado esse do meretrício.
Sou solteiro. Solteiros apenas gostam de puteiros. Agora, os casados amam putas e proxenetas. Costumam se apaixonar. A prostituta identifica o cara comprometido, mesmo que ele ouse tirar a aliança. Ocorre que não há motivos para tirar a argola, até mesmo porque elas preferem os casados. É sabido, putas não beijam na boca. No máximo dão bicotinhas, selinhos. Porém é comum ver casados enamorados às putas nos cantos, ainda mais, escuros das casas, aos beijos, daqueles de novela.
Foi num salão desses, de uma alcoviteira bastante conhecida, que o Roger fez a alegria da gurizada, com uma dessas histórias que não vemos por aí, em qualquer esquina, ou no caso, em qualquer casa do sexo pago.
Era uma despedida. Qual lugar melhor para uma despedida do que um puteiro? Desconheço. Tu não comes ninguém, mas ri muito. Entretenimento puro. Assim foi naquele dia.
- Oi. O nosso amigo tá indo embora. Quanto tu cobras pra dar pra ele? - perguntou o Roger, cercado pelo resto da gurizada. - Só que tem que ser na frente de todo mundo!
- Ah, na frente de todos não faço. - disse a puta bastante mona.
Dois detalhes fundamentais: toda puta é difícil sem ver a cor da grana, a menos que tenha se drogado muito; a puta em questão, sentada num mocho alto, aparentava uns cinqüenta e cinco anos, lhe faltava um dente, seus cabelos lembravam a os da cantora e atriz Cher nos anos 80, e o corpo, bem o corpo, digamos que já foi bonito um dia.
- Pensa bem, faz teu preço. Nós queremos pagar pra ele uma noite de sexo. Ele é virgem, inclusive.
- Vocês só vão ver?
- Sim. Nós só vamos ver.
- Então tá. Cem reais!
Era uma negociação. Negociamos todos os dias, na feira, no banco, no supermercado. Geralmente, cada um cede um pouco, e ambas as partes chegam num valor consensual. Não foi o caso. O Roger foi irredutível, usou argumentos convincentes e fecharam o preço, de acordo com as necessidades dela, e a capacidade dele.
- Dez reais, então. Mas, não vou dar o cu pra ele! - exigiu a moça, bem menos intransigente.
- Negócio fechado!
Agora, faltava o interesse do amigo que partia. Fomos até ele, que rechaçou aquele trambolho. E ainda acrescentou uma provocação:
- Aquela lá ninguém come!
- Paga que eu como! - disse o Roger, aceitando a provocação.
E assim foi. Nosso amigo foi até a donzela, que bebericava um Martini:
- Oi. Quanto tu cobras para transar com aquele meu amigo? Com um detalhe: tem que ser na frente de todo mundo!
- Cem reais! - cravou ela.
- Eu pago! - disse ele, sem negociação, para sorte da meretriz.
E assim, foram pro quarto. Ela na frente, depois o Roger, o amigo que bancava a brincadeira e nós. Éramos uns seis no quarto. Cabe comentar que a puta mor baixou o som da vitrola, para que todos pudessem ouvir e rir da festa que acontecia no quarto. Dentro do quarto, todos batiam palmas, davam gargalhadas, assoviavam e incentivavam o menino Roger. Particularmente não faço idéia se era mais difícil manter a ereção diante de tal algazarra ou perante a qualidade da fêmea. Mas, o Roger foi um guerreiro, cumprindo com suas obrigações. Não sem antes atender um pedido da puta, que ao colocar o pau na boca, o mandou para o banho, o que lhe rendeu o apelido de ‘relaxado‘.
Depois do ato, compadecido, fui conversar com puta velha. Nunca tinha visto uma puta tão velha em atividade, imaginei que ela teria histórias para contar:
- Faz muito tempo que tu trabalhas nisso?
- Não. Eu não sou puta.
- Não?! - me surpreendi.
- Não. Só faço isso porque preciso.
Fiquei abalado. De um lado fanfarrões. De outro, mulheres que precisam de dinheiro. Homens que mentiram e deixaram as suas mulheres e filhas em casa, de outro, mulheres que deixaram seus filhos em casa, passando necessidades básicas. E eu, com um copo de cerveja na mão. E elas juntando trocados para comprar leite.
Lembrei de uma vez, numa excursão de jogo do Grêmio, quando um vendedor ambulante correu duas quadras tentando vender cachorros-quente para os passageiros. Lembro que gritei pra ele:
- Que vontade de vender, hein!
E ele respondeu, rimando:
- Necessidade de sobreviver, sobreviver.
Comprei o cachorro-quente frio e mal prensado. Lembrei disso enquanto conversava com a puta velha - ou seria velha puta? -, escorado no balcão. Desacorçoado com a situação, pensei em encerrar o assunto, ir embora pra casa, abalado que estava, mas percebi que outro colega ainda continuava a conversa:
- O que tu faz, então?
- Sou traficante. - disse ela docemente. - Só estou aqui para juntar dinheiro para pagar a fiança da minha filha, que foi presa por tráfico também.

sábado, 4 de setembro de 2010

insônia

Devido a má fase do Roger, que não comeu ninguém nesse inverno, e me deixou sem histórias sexuais para contar, volto a falar de futebol. Quem não gosta de futebol aperte as teclas Alt e F4 ao mesmo tempo.
Pronto, posso falar de futebol. Não que eu goste de futebol. Até gostava, num passado recente. Hoje, sofro amargamente com o futebol, o que me faz gostar mais de outros esportes, como críquete e montanhismo, e pensar mais em outras coisas mais interessantes, como novelas e política.
Por falar em futebol, ele foi o maior responsável pelo meu amadurecimento enquanto homem. Sempre fui um cara arrogante. Muito arrogante tratando-se de futebol. Não discutia sobre futebol com colorados. Não discutia e encerrava a discussão dizendo que “não discuto sobre futebol com torcedores de times menores do que o meu”. Realmente, me achava superior, futebolisticamente. Afinal, o Grêmio era Campeão do Mundo, tinha outros títulos internacionais que o co-irmão não tinha. Nasci em 1980, e por mais de 25 anos vi o Grêmio ganhar tudo, e o Internacional, apenas uma Copa do Brasil. Minha arrogância dizia que essa Copa do Brasil foi ganha roubada. Amadureci um pouco, e percebi que não fora um roubo, e sim um erro de arbitragem. Enfim, ainda aguardo um erro de arbitragem a favor do Grêmio.
O amadurecimento começou em 2006, quando o Inter foi campeão do mundo. Demorei a digerir tal feito. Primeiro, subestimei ao falar do “herói” do título, um tal de Gabiru, mal quisto até hoje pela torcida colorada:
- Cada time tem o ídolo que merece. - dizia eu, arrogantemente.
A arrogância beira a provocação. A provocação é saudável, a arrogância deplorável. Os colorados diziam que tinham vencido o todo poderoso Barcelona (desfalcado do argentino Messi e do camaronês Et'o, jogadores fundamentais na conquista do título europeu), enquanto que o Grêmio teria vencido o modesto Hamburgo, da Alemanha, vice campeão da Copa dos Campeões, e que só disputou a final em Tóquio devido a desistência do Juventus da Itália, legítimo campeão europeu de 1983. Daí eu pensava alto:
- O Grêmio venceu um time da Alemanha, tri campeão mundial de futebol. E o Inter, um time da Espanha, que nunca ganhou nada.
Em 2006, a Espanha, de fato, não havia ganho nada, nem uma Eurocopa. Pois o amadurecimento futebolístico me mostrou a Espanha ser campeã do mundo em 2010. E ainda em 2010, desisti da minha arrogância, ou minha arrogância desistiu de mim. Logo após a vitória espanhola na Copa do Mundo da África do Sul, tentei usar os últimos respingos de superioridade que ainda haviam em mim:
- Se o Internacional for campeão da Libertadores, vai ser a primeira vez que um time ganha a Libertadores com 3 goleiros jogando mal.
Mas, foi. Pouco importaram as falhas dos arqueiros colorado. O Internacional se igualou ao Grêmio em número de títulos no continente, e candidata-se a ultrapassá-lo no final do ano. Até dezembro, meu sono será intranqüilo. Alguma coisa vai me incomodar por meses. Percebi minha arrogância, e agora temo pela arrogância do adversário. Enfim, o futebol amadurecendo as pessoas, colocando nossos pés no chão. Resta-me torcer pelo Inter no final do ano. Internazionale de Milão, é claro.

uma noite na lapa

A partir do momento que o rival do Grêmio foi campeão do mundo passei a me interessar mais por samba e menos por futebol. Poderia ter ficado bravo, irritadiço, frustrado. Preferi ficar indiferente, ao menos por fora. Por dentro, fico bravo quando me lembro, me irrito com facilidade e o futebol passou a ser um esporte frustrante.
O samba tem uma diferença primordial em relação ao futebol. No samba ninguém ganha ou perde. Todos ganham. E ganhar sempre é muito bom. O samba me dá mais alegrias do que o futebol. Aliás, mais alegrias do que qualquer outro tipo de música. Não que isso seja uma vitória, mas me irrita e frustra menos.
Assim, decidi que teria que entender o samba. Entender apenas, porque não sei tocar nenhum instrumento, quem dera sambar. Aliás, o único instrumento de corda que eu toco é o sino de igreja. Pensando bem, não saber tocar um pandeiro é uma derrota, dessas que tenho vivenciado no futebol. A diferença é que aprender a tocar só depende de mim.
Assim, fiz as malas e fui pro Rio de Janeiro, mais especificamente, posei num albergue em Santa Tereza. Meu rumo ficava aos pés do morro de Santa, mais especificamente na Lapa. Lá, o aprendizado poderia ser mais fácil, rápido e barato. E foi.
Na Lapa, o ambiente conspira. Os prédios velhos, os cariocas, a música. Tenho uma história para contar aos meus netos. Algo que eu me orgulho, eles talvez não. Fechei quatro bares na Lapa.
O primeiro, fechou cedo. Começaram a retirar as cadeiras, depois as mesas. Restou eu e uns amigos do albergue. Pedimos mais uma cerveja, e o garçom nos mentiu, dizendo que tinha acabado. O segundo bar, fechou também, uma hora depois. Sorte nossa, que do lado tinha outro. Esse fechou as quatro da matina. Lembro da minha visão anuviada, um tanto embaçada. Era uma terça feira dessas, que sobram poucos malandros por lá. Lá pelas tantas me cutucaram: haviam fechado aquele boteco também. Teria de abrir os olhos e levantar. O último bar foi o melhor. Ali, conheci pessoas fantásticas, dessas que só conhecemos no Rio, mais especificamente na Lapa. O boteco ficava aos pés de Santa Tereza.
Lembro do Zoinho, um ex policial. Ninguém de nós ousou perguntar por que ex policial. Teria sido exonerado? Teria se aposentado? O Zoinho era gente boa, e arregalava os olhos no final de cada frase, na tentativa de ressaltar o que fora dito. Uma pena precisar cheirar a todo instante. Essa foi a única vez que vi a droga sendo negociada. Passando de mão em mão discretamente, como se traficantes e usuários fossem mágicos escondendo um truque.
Lembro do traveco mais feio do mundo. Era um homem feio. Bem, todos travestis são homens. Mas esse, nem a barba fazia. Magro, alto, rosto esguio, queixudo. Acendia um cigarro no outro. Era a mulherzinha de alguém que estava dentro do boteco, não sei de quem. Ali chegou e ficou, sentada numa cadeira de plástico, em silêncio, fumando. Só parecia incomodada com o Chico da Mangueira.
O Chico da Mangueira estava sentado na cadeira, do outro lado da mesa. As vezes levantava, para gesticular aos seres imaginários com quem ele falava. E ele falava sem parar, sem ponto final, com raras vírgulas. Não havia diálogo possível. Lembro que ele falava da “comunidade“ a todo momento. Queixava-se muito do abandono que havia na comunidade. As vezes, quando levantava, esbarrava na mesa, que esbarrava no traveco mais feio do mundo. O traveco não gostava nada da situação, fazia uma cara feia de reprovação. E o Chico continuava a contar histórias, falar de política, de segurança e de samba. E da comunidade. O Chico dizia coisas de fundamento, comentou o Zé Sérgio.
Zé Sérgio era o cara que parecia mais culto ali, tipo letrado. Disse que morava em Santa Tereza, que já havia morado em São Paulo, mas que não aguentou ficar longe do Rio, da Lapa. Abandonou o emprego e voltou para o Rio, talvez para ser um típico malandro. Comentou que há muitos anos o Chico havia levado ele na comunidade, na véspera do carnaval. Lamentou pelo Chico, que, ainda gesticulava sem parar e comentava do abandono que se encontrava a “comunidade”.
De todas as figuraças que cruzei no Rio, nenhuma me encantou mais do que o Tiozinho. Ninguém sabia o nome dele. Aparentava uns 75 anos. Bastava alguém comentar sobre um samba ou um sambista, e ele cantava. Alguém gritava “Candeia”, e ele contava que conheceu Candeia em tal ocasião e que puxava um partido alto acompanhado pelas palmas de todos Outro gritava “Cartola!”, e ele explicava que Cartola era um servente de obras analfabeto, e compunha letras que poucos letrados fazem tornar-se sucesso. Outro malandro puxava “chegou, o carnaval, e ela não desfilou, “ e o Tiozinho continuava o samba do Benito de Paula.
O trânsito tornou-se intenso, a partir das cinco da manhã. As sete horas, resolvemos ir embora, satisfeitos com a aula do Tiozinho. Antes de subir Santa Teresa, deixamos o Tiozinho no hotel para solteiros que ele morava. Não sem antes, juntarmos umas moedas que sobraram para ajudá-lo em seu almoço do dia seguinte. Lembro que olhei para o boteco, que não fechava nunca. Saia os malandros cambaleantes, e entravam os trabalhadores, para tomar um café da manhã, afinal, o show tem que continuar.
Mas, o Chico ainda estava lá, sozinho, falando sem parar.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

um ano de blog

Um ano de blog. Grandes merdas, dirão alguns. Também acho. Não vou sair comemorando por aí, soprando velas ou enchendo a cara. Ou vou? Talvez enchendo a cara. Mas, fico feliz, pois são cerca de 60 contos em 12 meses. Nunca imaginei escrever tantos contos, ter tantas histórias. Se bem que muitas histórias são dos outros.
Nesses dozes meses muitas coisas aconteceram. Aproveito a data para relembrar que eu escrevo histórias do Roger. E o Roger são todos os homens que andam por aí. Algumas aconteceram comigo, é verdade, mas outras com amigos, outras com desconhecidos e outras surgem da minha imaginação.
Esses dias fui numa barbearia. Eram quatro cadeiras. Quatro barbeiros. Três clientes, além de mim. Eu, quieto, durante 30 minutos, ouvi várias histórias. Os clientes contavam histórias e estórias, os barbeiros contavam histórias e estórias. Eu as ouvia e pensava: todas servem pro blog. Os barbeiros são ótimos contadores de histórias. Se eu fosse barbeiro, e não bancário, o blog teria muitas histórias a mais.
As histórias da barbearia, assim como as outras, estão no blog, com personagens fictícios, sem datas, sem nomes. Histórias são assim, não dependem de nomes, de datas.
Mas, saliento que as histórias, escritas por mim, são apenas contos. Não são, necessariamente, a minha opinião. Tampouco meus pensamentos refletem a visão dos homens em geral. Muito menos seria o dono da verdade. São apenas histórias, apenas contos. Literatura de botequim. E os erros de português (crase, vírgulas e outros) são uma licença poética. Perdoem, relevem.
Digo isso porque uma vez uma “amiga” disse que iria fazer sexo oral em mim pois havia lido o conto da “mulher alface”. E outra vez, quando deixei uma outra “amiga” em casa, ela desceu do carro e disse: “quero ver essa história no blog!”. E tem uma outra, que quer escrever uma história junto comigo. Pois é, quem diria, o blog faz parte da minha vida sexual. Confesso que a idéia não era essa, mas não tenho nada a reclamar.
Isso não foi um conto, apenas um agradecimento sincero aos elogios e críticas, uma lembrança que o Roger nem sempre é eu e uma lembrança pela passagem de um ano.
Ateh

terça-feira, 24 de agosto de 2010

saudosismo

As mulheres mudaram. Não foi uma mudança qualquer, daquelas que pouco se nota. Mulheres mudaram assustadoramente! Mulheres da geração Y, que nasceram pós os anos oitenta, são mulheres que transformaram o mundo. Lembro do tempo em que as mulheres ficavam em casa. Eram as donas de casa. Faziam comida, limpavam a casa e cuidavam dos filhos. Não estou defendendo isso, apenas reconheço que essa foi uma realidade da maioria das mulheres num passado recente. E o desemprego era menor com essa mulherada toda dentro de casa. Não entendam isso como uma sugestão machista para acabar com o desemprego, apenas um cálculo matemático. Particularmente, acho fundamental para esse País esse avanço por parte do sexo feminino. As mulheres nos dão conhecimento, são competentes e dão um toque sensível ao mundo dos negócios. Não consigo imaginar trabalhar em algum lugar sem uma mulher presente. São mais organizadas, tem iniciativa, são multi-tarefas. E são gostosas! Coisa boa trabalhar com mulher gostosa! Além dessa mudança nada gradual, as mulheres mudaram nos relacionamentos. Não se apegam com a mesma facilidade. Escaldadas, estão mais descrentes nos homens. Mulheres traem tanto quanto homens. Com a mesma frieza e esperteza. Na verdade, com a mesma frieza e com muito mais esperteza. Ficamos para trás léguas distantes. Aceito todas essas mudanças, até por que não teria outra alternativa. Confesso que a única coisa que não entendo, é porque mudaram ao ponto de deixar para trás as coisas boas que as mulheres do passado faziam. Repare que os homens de hoje em dia se adaptaram a nova realidade. Levantamos do sofá e fomos para a cozinha lavar a louça, fazer comida. Mas, ainda continuamos trocando a resistência do chuveiro, pendurando quadros nas paredes. Não houve a necessidade de abandonar aquilo que nossos pais e avôs faziam. As mulheres mudaram totalmente. Abandonaram a cozinha como se cozinhar fosse um crime. Mulheres não sabem mais cozinhar. Eu tenho certeza que cozinho melhor do que meu avô. Alguma mulher sabe cozinhar melhor do que sua avó? Duvido.


Não percam os vídeos!!




parte final

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

os anjinhos

Nunca comentei com ninguém isso. Na verdade, ao escrever nesse blog que ninguém lê, continuarei sem contar a ninguém. Enfim, escrevo para economizar com o psiquiatra. E com os remédios.
Quando era pequeno, pequeno mesmo, por volta dos cinco anos, seis talvez, eu tinha um amigo. Um amigo imaginário. Era um anjinho, que me acompanhava. Imaginava eu que esse anjo me acompanhava desde o meu nascimento, mas que ele só aparecera quando eu tivera a primeira dúvida. Pensei o que deveria fazer, não sabia ao certo e de repente ele apareceu dizendo que eu deveria brincar com carrinhos na sala, ao invés de jogar gol-a-gol no pátio de casa. Foi uma boa dica, uma vez que eu já havia tomado banho. Além disso ‘mulher, tem outra coisa, minha mãe não dorme’ com a bola batendo ora nas paredes, ora no portão de ferro. Eu o chamava de João. Como ele tinha minha idade, era conhecido no mundo imaginário como Joãozinho.
Joãozinho me acompanhou até a época escolar, quando comecei a enfrentar problemas com a matemática. Foi quando ele me apresentou outro anjo, um pouco mais velho, e mais sabido com números: Paulo. Joãozinho me explicou que era a hora de eu “avançar”, e Paulo era um cara, digo, um anjo mais experiente para “determinados assuntos”. Não entendi bem, mas comecei a andar com Paulo, um tanto quanto receoso. Paulo era mais ousado. Lembro de uma briga, na escola. A nossa turma contra uma outra turma. Briga, correria e Paulo me forçou a passar um rapa num guri da outra turma. O guri caiu no chão, esfolou o rosto, cotovelos. Chorou muito aquele guri. Não sabia se ria, se corria ou o que fazia. Paulo havia sumido, logo após o tombo.
Na outra tarde, o coordenador chamou uns quatro ou cinco da minha turma. Era o sinal que havíamos vencido a briga. Vitória ingrata foi aquela. Na sala da coordenação, participei de minha primeira - e única - acareação. De um lado eu e meus colegas de aula. De outro, os que tinham apanhado. Embora sendo partícipe dos valentes, estava cagado. Acompanhavam a acareação os pais dos que haviam apanhado e uma psicóloga, além do coordenador que perguntava a mim com fúria nos olhos:
- Foi você que derrubou o fulano?
Eu não respondia. Entrei mudo e saí calado. Esperava alguma dica de Paulo, mas ele não foi macho o suficiente para assumir sua culpa diante do coordenador enfurecido. O coordenador repetiu a pergunta e num ato de medo e coragem, balancei a cabeça num sinal de afirmativo. Temi pelo pior. Tinha medo de ser preso. Escapei com uma suspensão branda, por três dias, que depois me soou contraditória. Para aprender a não bater em ninguém, minha mãe me bateu durante os três dias.
Ainda quando voltei às aulas, o Paulo custou a aparecer. Anjo filho da puta, pensava eu. Só apareceu quando resolvi escrever uma carta de amor para uma colega de aula por quem era apaixonado. Teria me casado com ela aos oito anos, não fosse Paulo. Escrevemos a carta, ele corrigiu os erros de português. Covarde que ela, mandou eu entregar a carta. Coloquei dentro do caderno dela e saímos correndo. Lembro que ele me aconselhou até meus quatorze anos, quando estava na iminência de perder o cabaço. Ficava tenso com as oportunidades perdidas e ele não me ajudava. Até que um dia ele teve uma conversa comigo:
- Cara, tá na hora de você seguir seu caminho.
- E quem vai substituir você? - perguntei diante da possibilidade de ficar desamparado.
- Um dia, vai aparecer um outro anjo. Um anjo mais “preparado”. Mais experientes em “determinados assuntos”. Até ele chegar, você sabe se virar sozinho. - disse ele com aquela conversa de sempre.
Paulo se foi. Talvez para o céu, talvez para o mesmo lugar que Joãozinho. Talvez tenha ido fazer merda por aí. Particularmente, acredito eu que ele nunca havia comido nenhuma anja e, nervoso, pulou fora sem saber como me ajudar.
Até que um dia eu estava no escuro. Acompanhado de uma morena, de cabelos crespos, cheirosa. Ouvi um barulho no elevador. O elevador parou no nosso andar. Não entendo, mas ela parecia não ouvir. Eu escutava com clareza. Ouvi os passos. A porta estava entreaberta. O vulto entrou. Ela não percebia, mas ele estava escorado no marco da porta, nos observando. Quando eu consegui baixar as calcinhas dela, e pude sentir aquele líquido que escorria em suas coxas, ele apareceu. Era meu novo anjo que disse com uma voz rouca:
- Olá, sou seu novo anjo. Meu nome é Roger. Ah, se precisar de alguma ajuda aí, me chame. Estarei aqui fora.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

democracia?

Outro assunto bastante comentado nesse período eleitoral que me incomoda profundamente é a tal da lei apelidada de “ficha limpa”. Casualmente, a lei é de autoria do candidato a vice presidente, Índio sei lá o que. O conto escrevi quando assisti a entrevista do então deputado federal do RJ. Não mudei meu conto pelo fato dele ter tido homologada sua candidatura, e também devido a liberdade de expressão a que tenho direito e até mesmo porque nenhum Tribunal Eleitoral da vida iria tomar conhecimento dessas linhas. Oportunamente, já deixo bem claro que vou votar em alguma mulher para o cargo mais importante do País.
Acho a lei eleitoreira, um tanto quanto enganadora e talvez inconstitucional. Digo talvez, pois não tenho conhecimento necessário sobre a Constituição. Sem contar que ela não condiz com um país dito democrático.
Parto do princípio que num país democrático o eleitor tem o direito de votar em quem ele quer, mesmo que seja num incompetente e corrupto. Se o cidadão votou num político que não fez nada por quatro anos e deseja reelegê-lo por mais um mandato, que assim o faça diante da urna eletrônica. Assim é a democracia. Não concordo com o sugestionamento de votos proposto pela lei que elimina esse ou aquele candidato. Quem deve escolher é a maioria. Aliás, o mundo não vai acabar se a maioria votar errado. Uma escolha errada serve como amadurecimento político de uma população.
O problema dos eleitores é de EDUCAÇÃO. As leis deveriam ser nesse sentido, os projetos educacionais que ensinassem a votar, a pesquisar a vida dos candidatos, suas experiências profissionais, suas convicções ideológicas. O TRE deveria apresentar propagandas nesse sentido, assim como já fez algum dia. Assim, o mais corrupto filha da puta poderia tentar se eleger ou reeleger e não conseguiria. Democraticamente ele seria excluído da política, através do voto. Vou citar um exemplo do PT, partido que tem tido meu voto na maioria das vezes. Imaginemos o deputado José Genuíno, do preocupante PT paulista, se inelegível por essa lei. Seus eleitores (são muitos) serão orientados pelo político a votarem num outro político qualquer, um laranja substituto que irá fazer as mesmas coisas que o nem tão nobre Deputado tem feito. A lei proibiria um político com a ficha suja, mas colocaria em seu lugar um político com a ficha limpa para cometer os mesmo erros que o outro cometia. O que mudaria? Nada! Absolutamente nada. Enquanto estivermos votando mal, a lei é ineficaz.
Questões mais importantes como o financiamento de campanhas poderiam ser pauta no congresso e não é. Enquanto as campanhas partirem de doações e contribuições, os interesses pessoais se sobressairão ante aos políticos do coletivo. Empresários patrocinam campanhas em troca de benefícios futuros, em caso de vitória. Isso requer atenção e legislação adequada.
Dois tipos de situações devem ineleger políticos. Uso de dinheiro público para enriquecimento ilícito e o uso do dinheiro público para financiamento de campanhas. E isso ocorre diariamente, ou alguém tem dúvida que alguns políticos são mais ricos do que seus salários permitiriam?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

déjà vu

Quando o casal entrou no restaurante, Roger já estava lá. Era uma confraternização da empresa na qual trabalhavam. Mas, Roger jamais iria imaginar que iria passar por uma situação embaraçosa como essa. Ele tinha quase certeza que já havia comido a mulher do novo colega de trabalho.
Alguns devem estar pensando que isso poderia ocorrer com qualquer um, que o Roger não imaginou um dia trabalhar com o colega recém admitido, que eles ainda não se conheciam. Porém, friso eu, Roger não lembrava onde havia se consumado o fato, também não lembrava como havia conhecido a esposa do colega, e tampouco detalhes do caso. Tinha apenas uma certeza: ela era casada quando eles saíram juntos.
- Boa noite a todos!
- Boa noite! - responderam todos.
- Essa é minha esposa. - disse apontando em direção dela, com o braço direito sobre o ombro e o esquerdo gesticulando como se estivesse apresentando um espetáculo.
E era, afirmo eu. Gata, mas gata mesmo! Usava aparelho nos dentes, o que a deixava com ar mais jovial. Havia colocado há pouco tempo, provavelmente, já que ajeitava os lábios sobre o aparelho a todo instante. Ela, um pouco tímida ao ser apresentada a todos de uma só vez, recebendo todos os olhares, não havia percebido que o Roger estava ali, talvez porque ele estivesse escondido dentro da taça de vinho tinto que saboreava. Por um instante Roger temeu que a situação se agravasse e estivéssemos diante de um incidente diplomático caso a moça fosse apresentada individualmente para cada um em torno das mesas que já acomodavam mais de vinte pessoas. Mas, a apresentação foi coletiva e o casal logo tratou de sentar do lado oposto. Como haviam chegado por último, o colega sentou na cabeceira da última mesa, e ao lado dele, do outro lado da mesa, no canto oposto, a deusa em forma de pecado. Roger queria ir embora, acanhado que estava. Cessou as suas piadas, calaram-se as suas histórias.Não debruçou-se na mesa para que a ex amante não o visse. Recostou-se na cadeira e assim permaneceu até o fim da noite. De corpo presente, e com a memória no passado. Revirou baús dentro do cérebro e não achava respostas para lembrar de onde havia conhecido aquela mulher. Se perguntava como? Onde? Não encontrava respostas. Espiava a moça de rabo de olho. A imagem era clara, já haviam ficado.
Durante a janta ainda, aos poucos, a memória lhe apresentava um balanço do que havia acontecido. Lembrou que fora em outra cidade. Mais tarde lembrou que ela fumava. Depois lembrou que foi numa festa. Depois lembrou que estavam bêbados.
- Pessoal, quero propor um brinde! - disse o chefe. - Um brinde a nossa equipe de trabalho. Em anos de empresa, eu nunca havia trabalhado com um grupo tão bom, tão qualificado, capaz. Parabéns aos que conseguiram ótimos resultados nesse semestre e àqueles que estão chegando ao nosso time!
Maldita aquisição, pensou o Roger. Era o único solteiro da turma, gostava de todos, era querido por todos. Só faltava essa agora, “um corno como colega de trabalho!”, esbravejava em pensamentos. E o guampudo era um gente boa, competente, educado, trabalhador. Mas, corno!
Roger foi pra casa pensando em pedir férias. Um mês longe de casa ajudaria a esquecer essa situação. São raros eventos profissionais com a família, seria possível suportar a traição que havia proporcionado ao colega. Roger já havia traçado mulheres casadas, mas jamais mulheres casadas quando ele conhecia o marido. Era ético. A sua maneira, é claro.
Férias, Um mês de férias no nordeste! Festas, bebidas e mulheres por 25 dias. Inveja do Roger. Gastou menos do que queria, mas muito mais do que podia pagar. Na volta ao trabalho, no refeitório, almoçou com o colega novo:
- E aí! Como foram as férias? - perguntou o inocente.
- Excepcionais. Até num cruzeiro eu fui. Comia cinco vezes por dia, mulherada fácil, não dava vontade de voltar a trabalhar.
- Pois eu e minha esposa já fizemos um cruzeiro. Mas, era um cruzeiro romântico.
- Hum. - resmungou ao lembrar da esposa e ex-amante.
- Só tivemos um problema.
- Qual?
- Levamos a minha cunhada. Era uma promoção, e só dois pagavam, e aí...
- Sua esposa tem uma irmã? - interrompeu o Roger, mesmo com a boca cheia.
- Sim, gêmea.
Era a salvação, vibrou ele. Foi um engano. Graças ao Santo Protetor dos Cafajestes e Sem Vergonha na Cara. Era a irmã e não a esposa do colega de trabalho. Relaxou, retirou um peso das costas. Ficaram amigos, conversavam bastante, sobre tudo. Havia quebrado o gelo da discórdia.
- Roger, quer ir almoçar lá em casa na sexta-feira santa? - convidou o colega.
- Almoçar? - perguntou ele um tanto receoso.
- Sim. Almoçar. Sei que você é solteiro e garanto que não existe miojo de peixe. - brincou.
- Não ligo para essas coisas.
- Vai fazer o que em casa?
- Tá bem, apareço por lá.
No almoço, aquela mesma sensação incômoda. A sensação de já ter encontrado aquela mulher em algum lugar. Procurou por fotos da cunhada. Imaginou que se fossem gêmeas, ao menos parecidas seriam, e assim resolveria o problema. Mas, nada de fotos. Só peixe assado e vinho branco. Almoçou, conversou um pouco e foi embora. A pulga ainda continuava atrás da orelha. Mas, ela fora tão indiferente perante a sua presença que talvez estivesse enganado, talvez fosse apenas aquelas sensações que temos quando passamos por uma situação que parece-nos já ter ocorrido.
No sábado, ele recebeu um torpedo esclarecedor:
- Oi. Ainda tinha seu número aqui. Adorei rever você. Apareça para almoçar mais seguido. Hehehe. Bjs

domingo, 1 de agosto de 2010

a barraca da verdade

- Vamos fazer o seguinte: Vamos nos tapar, ficar embaixo dos edredons. Ali embaixo, no escuro, vamos contar todas nossas fantasias, nossas experiências. Será a nossa barraca da verdade.
- Será que vai dar certo? - perguntou ele.
- Claro que sim. Se a gente quer que nosso namoro dê certo, não podemos ter segredos, um com o outro.
- Tá bem! - disse ele, totalmente desconfiado.
- Quais são suas fantasias? - perguntou ela, tapada e empolgada.
- Duas mulheres! Quero ver você chupando outra mulher, outra mulher te chupando. Quero ver as duas fazendo sexo oral em mim. Muita sacanagem com duas mulheres.
- Duas mulheres!? - a exclamação foi seguida de um tapa no braço.
- Ou mais...
- Homens são todos iguais. Idênticos. Sempre com essa fantasia. Vocês não tem criatividade? Sempre essa história, que saco!
- Era para mentir aqui em baixo? - perguntou ele suando e chateado.
- Não. Só me decepcionei um pouco ao saber que tu és igual aos outros. - disse fazendo beicinho.
- Se tu vais ficar assim vamos parar por aqui essa palhaçada.
- Não, desculpa. Sua vez agora.
- Qual a tua fantasia sexual?
- A minha é fazer amor numa praia deserta. Contigo. Só contigo.
- Hum. Que legal! - respondeu sem empolgação.
- Já fez na praia?
- Nunca. Não me atraí muito esse negócio de areia.
- Que sem graça.
- Ah tá! Esse negócio não vai dar certo. Quer que eu minta na “barraca da verdade”? - disse mudando a voz quando falou o nome da brincadeira.
- Desculpa de novo. Minha vez de perguntar. Qual a maior loucura sexual que você já fez?
- Uma vez, numa excursão da faculdade, eu fui chupado pela minha colega.
- Nossa! Conta mais.
- Nós ficávamos as vezes e na volta pra casa, quando escureceu, ela sentou do meu lado e daí rolou amassos e tal. Foi quando eu coloquei o pau para fora. Ela me masturbou um pouco, olhou para os lados e, como todos pareciam estar dormindo, ela me chupou.
- Nossa! - exclamou novamente ela boquiaberta.
- É. E o professor que estava organizando estava no banco da frente do dela. E mais: tirei aquelas capas que as empresas colocam no encosto da cabeça e gozei dentro.
- Legal essa aventura. Nossa! - exclamou pela terceira vez.
- Legal. Bons tempos. - disse ele que tomou um beliscão enquanto lembrava do passado de solteiro. - Deu, né! Tu és muito ciumenta, não sei como propõe um negócio desses.
- Não era ciúme. Era só para tirar o sorrisinho do canto da boca.
- Como você sabe que eu tava sorrindo, se estamos numa penumbra absurda?
- Eu percebi. - respondeu retribuindo o sorrisinho irônico. - Sua vez. Pergunta pra mim.
- Qual a maior aventura que você já fez? - disse ele nada empolgado com a brincadeira.
- Foi no segundo grau.
- E?
- Estávamos na casa de um colega nosso. Começamos a jogar “verdade ou consequência”. Eram o nosso colega e mais quatro vizinhos dele e nós, três meninas.
- Como tu gostas de jogos e barracas da verdade. - ironizou.
- Gosto. - riu - Daí alguém girava uma caneta, um lado respondia e o outro perguntava. Se não quisesse responder...
- Eu sei como é a brincadeira. O que tu respondeu?
- Fiquei com vergonha e escolhi conseqüência.
- E?
- Mandaram eu chupar os cinco.
- E?
- Daí eu chupei, né. Era a brincadeira. Ei, por que você saiu debaixo do edredon?
- ...
- Não pode sair debaixo do edredon, é a nossa brincadeira. O que foi? Tá chateado?
- ...
- Fala alguma coisa, amor! Não fica assim. Nós nem nos conhecíamos naquela época. Amor, onde tu vais?

sábado, 24 de julho de 2010

dica de leitura

http://caroleseusbotoes.blogspot.com/2010/07/namore-um-barrigudinho.html


aí alemão felipe!! qdo chegar aos 30, junte-se a nós!!

ehehehehehe

sábado, 17 de julho de 2010

mulheres em extinção

As mulheres que ainda acreditam no amor levantem a mão! Viu? Você aí da frente do monitor não levantou a mão, logo você não acredita no amor. Aliás, quase nenhuma mulher acredita no amor, hoje em dia. É a mais pura verdade, mulheres não acreditam mais no amor, salvo raríssimas exceções. Você que levantou o dedo, mesmo que discretamente, parabéns, és uma exceção. Precisamos espalhar suas teorias e seus genes por aí. E se for solteira me procure.
Culpo um pouco os homens. Homens como o Roger decepcionam as mulheres. Cansadas de sofrer, desiludidas, desesperançosas, traídas e abandonadas, as mulheres se tornaram menos dependentes do homens, e por conseqüência do amor. Mães, há tempos, criam seus filhos sozinhas, sem precisar dos pais. As mulheres de outras gerações, que acreditaram no amor, estão se divorciando. As mulheres não precisam mais dos homens. Bem, ainda precisam para algumas coisas. E não me refiro a trocar pneu do carro, por que se isso elas não sabem fazer, o seguro manda alguém fazer.
Algumas focaram o lesbianismo em busca do amor, mas ainda encontram barreiras na sociedade puritana e amam escondidas. Outras decidiram priorizar a carreira profissional. Metas num determinado objetivo e foda-se! o resto. O resto nesse caso é o amor. Uma carreira profissional tem mais chances de dar certo, concordo. É mais estável, gratificante e recompensador. O reconhecimento de uma boa profissional geralmente é maior do que uma grande esposa.
A realidade é dura e fria. O amor está com os dias contados. São poucas que ainda colocam o amor acima de tudo. Antes não era assim. O amor cede espaço ao sexo casual, homens agora são objetos, pais solteiros e seres completamente perdidos na sociedade que um dia já dominaram. Na realidade, talvez devido a globalização, as mulheres estão cada vez mais parecidas com os homens: frias, infiéis, insensíveis e absurdamente independentes. Sabe aquele história de abandonar tudo e ir para uma ilha deserta? Esqueça! Mulheres estão tão independentes que o único amor em que acreditam é o amor próprio.

***
Gosto de piadas. Mas, costumo rir apenas das que nunca ouvi. Piada repetida perde a graça. E piada inédita é cada vez mais raro. Esses dias, uma amiga enviou um e-mail, com uma piada que eu não conhecia, justamente sobre o amor. Tudo bem, a piada era sobre a língua portuguesa, mas veio a calhar com o texto que escrevi acima.

“O marido, ao chegar em casa, no final da noite, diz à mulher que já estava deitada:
- Querida, eu quero amá-la!
A mulher que estava dormindo, com a voz embolada, responde:
- A mala... Ah! Não sei onde está, não! Use a mochila que está no maleiro do quarto de visitas.
- Não é isso querida. Hoje, vou amar-te.
- Por mim, você pode ir até a Júpiter, até Saturno e até à puta que te pariu, desde que me deixe dormir em paz...”