Desde que optou por se envolver com mulheres casadas, Roger sabia o que teria pela frente. Desenvolveu uma das maiores virtudes que um homem pode ter: ouvir a mulher. Roger ouvia todas elas. Sem pressa. Prestava atenção, olhava no olho, respondia, questionava, dava conselhos. Isso o diferenciava dos maridos ausentes. Claro, também procurou seu gerente no banco e fez um seguro de vida, pois os riscos iriam aumentar consideravelmente.
Não era um garoto de programa, embora recebesse presentes invariavelmente. Não rejeitava, pois camisas e camisetas sempre são bem vindas. Recebia cuecas também. Certa vez recebeu uma de elefante, com uma tromba na frente. Noutra ocasião, uma vermelha do Super-Homem. Agradecia, olhando nos olhos, e com sinceridade dizia que presentes eram desnecessários. O que ele queria mesmo era sexo sem compromisso. E mulheres casadas não podiam se envolver.
Ser o Ricardão lhe proporcionou um aprendizado que nenhuma faculdade lhe ofereceria. Aprendeu como tratar uma mulher. Mulheres cansadas das atitudes - ou da falta de - dos esposos lhe deram essa lição.
As reclamações variavam desde um mero sexo oral. Haviam os que só gostavam de receber. Homem egoísta é um problema, mas haviam os que acreditavam que sexo oral não era algo que uma esposa decente devesse fazer no seu marido. Enfim, as esposas sagradas não pensavam o mesmo, e procuravam o Roger para chupá-lo.
Tinham os namorados cornos também. O corno namorado é um tipo de homem incompetente. Sim, pois uma coisa é o corno velho, cansado da vida monótona oriunda de um matrimônio enfraquecido. Outra, é um namorado, fruto de um relacionamento recente, que prefere ficar na frente do Playstation jogando joguinhos. Outra é um namorado que prefere ficar em casa vendo televisão a sair com namorada para tomar uma cerveja que seja. As mulheres evoluíram, e cansadas de serem mal tratadas, procuram os Roger’s para se satisfazerem, não apenas sexualmente, mas como mulher.
A caixa-preta é extensa e tem histórias de mulheres desconfiadas da masculinidade do seu “macho”. Caras com atitudes, no mínimos, suspeitas, amizades estranhas, e uma falta de apetite sexual com a parceira, merecedoras de um par de guampa.
O que eu não entendo e o Roger não faz questão de entender é o porquê essas mulheres continuam a mercê destas relações. Que relação é essa onde a mulher prefere abster-se uma vida conjugal feliz para continuar um relacionamento com otários que as destratam, que as deixam em completa abstinência.
Essa resposta, talvez eu encontre, em outra caixa-preta, ainda inacessível a mim.
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quinta-feira, 3 de novembro de 2011
segunda-feira, 2 de maio de 2011
um mártir
Quando ouviu os tiros o coração disparou, mas demorou alguns segundos para perceber que a ardência que sentia entre o coração e o ombro esquerdo era fruto dos dois projéteis que haviam sido lançados em sua direção. Demorou mais ainda a entender o porquê aquele carro vermelho havia saído em alta velocidade. A queimação dificultava a percepção das coisas que estavam acontecendo. Somente quando o sangue começou a lavar a camisa azul calcinha que ele percebeu que havia sido baleado pelo motorista do carro.
A esta altura alguém deve estar pensando que estou contando uma história do 007 ou de um dos filmes da ideologia Bourne. Ou que o cidadão que perde sangue sem parar morava no Morro do Alemão anos atrás. Bala perdida, podem pensar alguns. Nã-na-ni-na-não! O Roger foi baleado. Motivo: mulher. Mulher casada. Ou melhor, dor de corno.
Explico: esses tempos o Roger conheceu uma mulher. Ela ficou interessada, mas disse que iria pedir a aceitação do marido. Ele devia esse favor, já que certa vez foi a vez ele quem havia proposto a participação de uma mulher e ela havia aceitado. No início o esposo relutou. Mas, uma mulher decidida é capaz de fazer cães ferozes miarem. E esse cão miou um sim.
Roger os recebeu em sua casa. Conversaram pouco, foram pro quarto. O maridão assistiu a tudo em pé, escorado na porta. Roger e a mulher casada transaram na frente dele. No final, após o convite dela, ele sentou na cama, para presenciar mais de perto o gozo final. A história era para terminar aí. Não terminou.
Acometido de uma fúria incontrolável, o esposo, até então manso, começou a ameaçar o Roger por telefone. Dizia que iria matá-lo, agredí-lo. Dizia que iria fazer ele pagar por tudo. Mas, se pagasse seria prostituição, e esse não era o combinado. O xingava com vários palavrões, inclusive o chamava de corno. Enfim, Roger já não andava dormindo sem chavear a porta da casa. Pensou em ir a polícia. Juntar as mensagens e as ligações do celular, as conversas do MSN e os e-mails como prova. Estaria registrada a intenção, mas ainda sim Roger teria que continuar trancando a porta, pois um registro policial não bastaria para lhe trazer o sono sagrado de volta.
O tempo passou, as ameaças diminuíram, e ele não procurou a polícia. Já não trancava a porta da casa. Dormia tanto a ponto de perder o horário do serviço. Quando já andava saltitante por aí, recebeu os tiros. Foi levado ao hospital. A médica que retirou os projéteis foi bem sucinta:
- Você perdeu muito sangue. Tem poucas chances.
Ele mandou me chamar. Sussurrou que não estava agüentando mais, que não tinha mais forças. Ainda disse que estava feliz, muito feliz, pois não estava morrendo por uma doença degenerativa, ou num acidente besta de trânsito. Estava morrendo por causa de uma foda. Por causa de uma mulher. Uma mulher que havia tido prazer na frente do marido. Um prazer que nunca tinha tido antes. Nada mais importante para ele do que dar prazer a uma mulher. Mostrei-lhe o jornal antes que olhasse para dentro definitivamente. Manchete na capa, destaque na página policial. A foto do esposo traído detido pela polícia. Assim Roger entrava para história do bairro, por ter dado prazer a mulher casada, por ser melhor do o ex-corno manso, agora o corno mais conhecido na cidade.
A esta altura alguém deve estar pensando que estou contando uma história do 007 ou de um dos filmes da ideologia Bourne. Ou que o cidadão que perde sangue sem parar morava no Morro do Alemão anos atrás. Bala perdida, podem pensar alguns. Nã-na-ni-na-não! O Roger foi baleado. Motivo: mulher. Mulher casada. Ou melhor, dor de corno.
Explico: esses tempos o Roger conheceu uma mulher. Ela ficou interessada, mas disse que iria pedir a aceitação do marido. Ele devia esse favor, já que certa vez foi a vez ele quem havia proposto a participação de uma mulher e ela havia aceitado. No início o esposo relutou. Mas, uma mulher decidida é capaz de fazer cães ferozes miarem. E esse cão miou um sim.
Roger os recebeu em sua casa. Conversaram pouco, foram pro quarto. O maridão assistiu a tudo em pé, escorado na porta. Roger e a mulher casada transaram na frente dele. No final, após o convite dela, ele sentou na cama, para presenciar mais de perto o gozo final. A história era para terminar aí. Não terminou.
Acometido de uma fúria incontrolável, o esposo, até então manso, começou a ameaçar o Roger por telefone. Dizia que iria matá-lo, agredí-lo. Dizia que iria fazer ele pagar por tudo. Mas, se pagasse seria prostituição, e esse não era o combinado. O xingava com vários palavrões, inclusive o chamava de corno. Enfim, Roger já não andava dormindo sem chavear a porta da casa. Pensou em ir a polícia. Juntar as mensagens e as ligações do celular, as conversas do MSN e os e-mails como prova. Estaria registrada a intenção, mas ainda sim Roger teria que continuar trancando a porta, pois um registro policial não bastaria para lhe trazer o sono sagrado de volta.
O tempo passou, as ameaças diminuíram, e ele não procurou a polícia. Já não trancava a porta da casa. Dormia tanto a ponto de perder o horário do serviço. Quando já andava saltitante por aí, recebeu os tiros. Foi levado ao hospital. A médica que retirou os projéteis foi bem sucinta:
- Você perdeu muito sangue. Tem poucas chances.
Ele mandou me chamar. Sussurrou que não estava agüentando mais, que não tinha mais forças. Ainda disse que estava feliz, muito feliz, pois não estava morrendo por uma doença degenerativa, ou num acidente besta de trânsito. Estava morrendo por causa de uma foda. Por causa de uma mulher. Uma mulher que havia tido prazer na frente do marido. Um prazer que nunca tinha tido antes. Nada mais importante para ele do que dar prazer a uma mulher. Mostrei-lhe o jornal antes que olhasse para dentro definitivamente. Manchete na capa, destaque na página policial. A foto do esposo traído detido pela polícia. Assim Roger entrava para história do bairro, por ter dado prazer a mulher casada, por ser melhor do o ex-corno manso, agora o corno mais conhecido na cidade.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
a doadora universal
Tem mulheres que nasceram para encantar os homens. Mulheres que vão além da beleza esculpida num par de pernas, num par de seios ou numa boca carnuda. São mulheres que exalam um cheiro sedutor, exprimem um charme hipnotizante e fazem sexo com uma perfeição apaixonante. Sim, tem mulheres que nascem e crescem com a capacidade natural de destruir um homem de paixão. Mesmo depois de casadas.
Quando era guri ouvi de algum gaiato que uma mulher pode destruir um homem de colherinha. Nunca entendi bem o que quiseram dizer, mas até hoje me sinto amedrontado.
Era o caso da doadora universal. Exato, seu tipo sanguineo era o ó positivo. Mas, também era conhecida como doadora, tamanha bondade e capacidade em doar o que é seu. Desde moleca, nunca seguiu as rígidas regras da sociedade conservadora em que viveu. Começou cedo, mas desde muito antes estava pronta. Não precisou que ninguém ensinasse o be-a-bá. Nascera alfabetizada na arte de enlouquecer um homem na cama.
O primeiro homem foi o Rogerzinho, rapaz bonito, tísico, puro. Nem pentelhos tinha quando a doadora resolveu dar pra ele. Nem preciso dizer que o rapaz repetiu de ano naquela época. Esqueceu do mundo. Passava horas deitado, olhando para o teto. Depois que suas ligações não foram atendidas, seus mensagens não foram respondidas, Rogerzinho começou a desconfiar que o feitiço havia lhe atingido, e ele nada poderia fazer. Certeza teve mesmo quando encontrou com ela. Andavam pela mesma calçada. Lá vinha ela, saia rodada, mochila nas costas. Quando o viu, ela atravessou para o outro lado da rua. Rogerzinho estacou feito um poste. Estaria ela fugindo dele? Ledo engano. Ela estava atravessando a rua para logo em seguida dar um beijo de língua no João, o zagueiro central do time do ensino médio. Foi um beijaço, daqueles de novela, mas com língua. A doadora sumiu no corpanzil do zagueirão, que a levantou girando enquanto enfiava a língua naquela boca doce que numa tarde havia sido do Rogerzinho, que ainda pode ver as polpas dos glúteos da doadora durante o rodopio. Macho que era, segurou o choro até o portão de casa. Mas, antes mesmo de abrir a porta do quarto, já estava aos prantos no chão da sala.
E assim foi com todos. Sem exceção. O João, zagueiro que estava sendo observado pelo Progresso, um time amador da região, também foi vítima da doadora. Desesperado, passou a usar drogas. Prematuramente teve sua carreira interrompida por causa de outras carreiras.
Um por um, dia após dia, todos rapazes do bairro foram sendo derrubados pela doadora. Num dia o flerte, no outro o sexo e no outro, o esquecimento. Todos ficavam no vácuo.
Uma vez, um senhor, cansado de ver seu filho choramingar pela doadora, foi buscar uma explicação, procurar resolver a situação. Chegou num carro importado, se apresentou apertando a mão e depois não lembra de mais nada do que foi tratado. No carro, voltando pra casa, cheirou a mão direita e decidiu: teria de ver a doadora novamente. E sob qualquer pretexto, a encontrou na rua, ofereceu carona e em pouco tempo recebeu o melhor sexo oral da sua vida. Só não gozou pois acabou batendo o carro numa árvore. Irritada com o susto do choque e com a pancada que sofrera ao bater a orelha direita no volante, a doadora desceu do carro e foi para casa, para desespero do pai que passou a choramingar pelas ruas da cidade enquanto em dirigia seu carro importado e amassado.
Depois que casou por amor a conveniência com um empresário bem sucedido, a doadora tratou de continuar a sua saga. Continuou a sua vida pregressa. Um por um, todos apaixonados. Destruiu casamentos, vidas amorosas, fez lotar agendas de psicólogos. Era a melhor foda na vida dos homens que tinham o prazer de tê-la. Era a segunda melhor foda daqueles que tinham o prazer de tê-la por duas vezes. E assim sucessivamente. O marido empresário, se desconfiava, acabava por aceitar sua cornitude, afinal, era ela uma doadora universal.
Quando era guri ouvi de algum gaiato que uma mulher pode destruir um homem de colherinha. Nunca entendi bem o que quiseram dizer, mas até hoje me sinto amedrontado.
Era o caso da doadora universal. Exato, seu tipo sanguineo era o ó positivo. Mas, também era conhecida como doadora, tamanha bondade e capacidade em doar o que é seu. Desde moleca, nunca seguiu as rígidas regras da sociedade conservadora em que viveu. Começou cedo, mas desde muito antes estava pronta. Não precisou que ninguém ensinasse o be-a-bá. Nascera alfabetizada na arte de enlouquecer um homem na cama.
O primeiro homem foi o Rogerzinho, rapaz bonito, tísico, puro. Nem pentelhos tinha quando a doadora resolveu dar pra ele. Nem preciso dizer que o rapaz repetiu de ano naquela época. Esqueceu do mundo. Passava horas deitado, olhando para o teto. Depois que suas ligações não foram atendidas, seus mensagens não foram respondidas, Rogerzinho começou a desconfiar que o feitiço havia lhe atingido, e ele nada poderia fazer. Certeza teve mesmo quando encontrou com ela. Andavam pela mesma calçada. Lá vinha ela, saia rodada, mochila nas costas. Quando o viu, ela atravessou para o outro lado da rua. Rogerzinho estacou feito um poste. Estaria ela fugindo dele? Ledo engano. Ela estava atravessando a rua para logo em seguida dar um beijo de língua no João, o zagueiro central do time do ensino médio. Foi um beijaço, daqueles de novela, mas com língua. A doadora sumiu no corpanzil do zagueirão, que a levantou girando enquanto enfiava a língua naquela boca doce que numa tarde havia sido do Rogerzinho, que ainda pode ver as polpas dos glúteos da doadora durante o rodopio. Macho que era, segurou o choro até o portão de casa. Mas, antes mesmo de abrir a porta do quarto, já estava aos prantos no chão da sala.
E assim foi com todos. Sem exceção. O João, zagueiro que estava sendo observado pelo Progresso, um time amador da região, também foi vítima da doadora. Desesperado, passou a usar drogas. Prematuramente teve sua carreira interrompida por causa de outras carreiras.
Um por um, dia após dia, todos rapazes do bairro foram sendo derrubados pela doadora. Num dia o flerte, no outro o sexo e no outro, o esquecimento. Todos ficavam no vácuo.
Uma vez, um senhor, cansado de ver seu filho choramingar pela doadora, foi buscar uma explicação, procurar resolver a situação. Chegou num carro importado, se apresentou apertando a mão e depois não lembra de mais nada do que foi tratado. No carro, voltando pra casa, cheirou a mão direita e decidiu: teria de ver a doadora novamente. E sob qualquer pretexto, a encontrou na rua, ofereceu carona e em pouco tempo recebeu o melhor sexo oral da sua vida. Só não gozou pois acabou batendo o carro numa árvore. Irritada com o susto do choque e com a pancada que sofrera ao bater a orelha direita no volante, a doadora desceu do carro e foi para casa, para desespero do pai que passou a choramingar pelas ruas da cidade enquanto em dirigia seu carro importado e amassado.
Depois que casou por amor a conveniência com um empresário bem sucedido, a doadora tratou de continuar a sua saga. Continuou a sua vida pregressa. Um por um, todos apaixonados. Destruiu casamentos, vidas amorosas, fez lotar agendas de psicólogos. Era a melhor foda na vida dos homens que tinham o prazer de tê-la. Era a segunda melhor foda daqueles que tinham o prazer de tê-la por duas vezes. E assim sucessivamente. O marido empresário, se desconfiava, acabava por aceitar sua cornitude, afinal, era ela uma doadora universal.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
o corno labrador
Conheço um cara que foi corno. Na verdade, conheço vários, mas esse tem uma peculiaridade especial: foi traído por um grupo de amigos. Não amigos dele, mas quatro amigos meus, colegas de faculdade. As mulheres traidoras e sem um pingo de piedade não foram as mesmas, o que não diminui a mansidão do traído.
Foram vários casos, que explano rapidamente. O mais grave era conhecido do corno, mas sucumbiu as belas pernas da traidora. Não tinha amizade, mas o cumprimentava e sabia o seu nome. Os outros amigos, cometeram adultério com uma outra namorada do corno, o que prova a sua grande capacidade de atrair um par de chifre. O cornudo tinha bom gosto, já que todas as três namoradas infiéis eram espetaculares.
Quando o quarto amigo em comum conseguiu ficar com a mais bonita bixo da faculdade, num churrasco de confraternização, ninguém imaginava que ela namorava o bendito, que assim, colecionava o quarto chapéu dentre aqueles colegas de faculdade. Durante a semana que seguiu o acontecido, lá estava ele, acompanhando a nova universitária até a porta da faculdade. De mãos dadas com ela, e na outra mão, uma corrente que terminava na coleira envolta no pescoço do labrador. O labrador é um bom amigo, cachorro manso, no caso, tal qual o dono. E todos os dias da semana a tardinha, chegava o corno, a bixo e o labrador.
Pois bem, a situação pouco peculiar se deu no estádio Bento Freitas, num jogo amistoso do Brasil de Pelotas. Sabem esses jogos promocionais, onde o novo patrocinador divulga sua marca? Pois adivinhem quem carregava um saco de estopa, lotado de camisetas do patrocinador? O corno labrador. Subiu a porta do vestiário em direção ao gramado acompanhado de duas modelos, que de metro em metro retiravam camisetas do saco de estopa e atiravam com delicadeza sobre os alambrados do estádio. Para delírio da torcida Xavante, fizeram uma volta olímpica, distribuindo os brindes promocionais. Aquela multidão corria e se atirava na tentativa de alcançar as camisetas. E quando chegaram em frente ao lugar onde eu estava, as camisetas que já haviam rareado, definitivamente acabaram, poucos metros antes dos 360° completos.
As modelos ergueram os braços, e espalmaram as mãos para o céu, num gestual de quem explica que algo acabou. Fizeram beicinho e tudo, lindas que eram. Ele abriu o saco e mostrou que estava vazio, e com o indicador positivando para baixo, demonstrou que não haviam mais brindes no vestiário. A torcida que estava em pé, assistindo a toda a volta olímpica e aguardando ansiosamente a oportunidade de levar uma camiseta pra casa, imediatamente começou a gritar:
- Cooorno! Cooorno!
Envergonhado e sabedor da verdade, não gritei. Me sentei na arquibancada e aguardei o início da partida. Corno todos podemos ser, faz parte. Mas, ter um estádio cheio gritando uma verdade dolorosa que nem essa, tendo sido traído por colegas da mesma sala de aula, é uma peculiaridade para poucos.
Foram vários casos, que explano rapidamente. O mais grave era conhecido do corno, mas sucumbiu as belas pernas da traidora. Não tinha amizade, mas o cumprimentava e sabia o seu nome. Os outros amigos, cometeram adultério com uma outra namorada do corno, o que prova a sua grande capacidade de atrair um par de chifre. O cornudo tinha bom gosto, já que todas as três namoradas infiéis eram espetaculares.
Quando o quarto amigo em comum conseguiu ficar com a mais bonita bixo da faculdade, num churrasco de confraternização, ninguém imaginava que ela namorava o bendito, que assim, colecionava o quarto chapéu dentre aqueles colegas de faculdade. Durante a semana que seguiu o acontecido, lá estava ele, acompanhando a nova universitária até a porta da faculdade. De mãos dadas com ela, e na outra mão, uma corrente que terminava na coleira envolta no pescoço do labrador. O labrador é um bom amigo, cachorro manso, no caso, tal qual o dono. E todos os dias da semana a tardinha, chegava o corno, a bixo e o labrador.
Pois bem, a situação pouco peculiar se deu no estádio Bento Freitas, num jogo amistoso do Brasil de Pelotas. Sabem esses jogos promocionais, onde o novo patrocinador divulga sua marca? Pois adivinhem quem carregava um saco de estopa, lotado de camisetas do patrocinador? O corno labrador. Subiu a porta do vestiário em direção ao gramado acompanhado de duas modelos, que de metro em metro retiravam camisetas do saco de estopa e atiravam com delicadeza sobre os alambrados do estádio. Para delírio da torcida Xavante, fizeram uma volta olímpica, distribuindo os brindes promocionais. Aquela multidão corria e se atirava na tentativa de alcançar as camisetas. E quando chegaram em frente ao lugar onde eu estava, as camisetas que já haviam rareado, definitivamente acabaram, poucos metros antes dos 360° completos.
As modelos ergueram os braços, e espalmaram as mãos para o céu, num gestual de quem explica que algo acabou. Fizeram beicinho e tudo, lindas que eram. Ele abriu o saco e mostrou que estava vazio, e com o indicador positivando para baixo, demonstrou que não haviam mais brindes no vestiário. A torcida que estava em pé, assistindo a toda a volta olímpica e aguardando ansiosamente a oportunidade de levar uma camiseta pra casa, imediatamente começou a gritar:
- Cooorno! Cooorno!
Envergonhado e sabedor da verdade, não gritei. Me sentei na arquibancada e aguardei o início da partida. Corno todos podemos ser, faz parte. Mas, ter um estádio cheio gritando uma verdade dolorosa que nem essa, tendo sido traído por colegas da mesma sala de aula, é uma peculiaridade para poucos.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
déjà vu
Quando o casal entrou no restaurante, Roger já estava lá. Era uma confraternização da empresa na qual trabalhavam. Mas, Roger jamais iria imaginar que iria passar por uma situação embaraçosa como essa. Ele tinha quase certeza que já havia comido a mulher do novo colega de trabalho.
Alguns devem estar pensando que isso poderia ocorrer com qualquer um, que o Roger não imaginou um dia trabalhar com o colega recém admitido, que eles ainda não se conheciam. Porém, friso eu, Roger não lembrava onde havia se consumado o fato, também não lembrava como havia conhecido a esposa do colega, e tampouco detalhes do caso. Tinha apenas uma certeza: ela era casada quando eles saíram juntos.
- Boa noite a todos!
- Boa noite! - responderam todos.
- Essa é minha esposa. - disse apontando em direção dela, com o braço direito sobre o ombro e o esquerdo gesticulando como se estivesse apresentando um espetáculo.
E era, afirmo eu. Gata, mas gata mesmo! Usava aparelho nos dentes, o que a deixava com ar mais jovial. Havia colocado há pouco tempo, provavelmente, já que ajeitava os lábios sobre o aparelho a todo instante. Ela, um pouco tímida ao ser apresentada a todos de uma só vez, recebendo todos os olhares, não havia percebido que o Roger estava ali, talvez porque ele estivesse escondido dentro da taça de vinho tinto que saboreava. Por um instante Roger temeu que a situação se agravasse e estivéssemos diante de um incidente diplomático caso a moça fosse apresentada individualmente para cada um em torno das mesas que já acomodavam mais de vinte pessoas. Mas, a apresentação foi coletiva e o casal logo tratou de sentar do lado oposto. Como haviam chegado por último, o colega sentou na cabeceira da última mesa, e ao lado dele, do outro lado da mesa, no canto oposto, a deusa em forma de pecado. Roger queria ir embora, acanhado que estava. Cessou as suas piadas, calaram-se as suas histórias.Não debruçou-se na mesa para que a ex amante não o visse. Recostou-se na cadeira e assim permaneceu até o fim da noite. De corpo presente, e com a memória no passado. Revirou baús dentro do cérebro e não achava respostas para lembrar de onde havia conhecido aquela mulher. Se perguntava como? Onde? Não encontrava respostas. Espiava a moça de rabo de olho. A imagem era clara, já haviam ficado.
Durante a janta ainda, aos poucos, a memória lhe apresentava um balanço do que havia acontecido. Lembrou que fora em outra cidade. Mais tarde lembrou que ela fumava. Depois lembrou que foi numa festa. Depois lembrou que estavam bêbados.
- Pessoal, quero propor um brinde! - disse o chefe. - Um brinde a nossa equipe de trabalho. Em anos de empresa, eu nunca havia trabalhado com um grupo tão bom, tão qualificado, capaz. Parabéns aos que conseguiram ótimos resultados nesse semestre e àqueles que estão chegando ao nosso time!
Maldita aquisição, pensou o Roger. Era o único solteiro da turma, gostava de todos, era querido por todos. Só faltava essa agora, “um corno como colega de trabalho!”, esbravejava em pensamentos. E o guampudo era um gente boa, competente, educado, trabalhador. Mas, corno!
Roger foi pra casa pensando em pedir férias. Um mês longe de casa ajudaria a esquecer essa situação. São raros eventos profissionais com a família, seria possível suportar a traição que havia proporcionado ao colega. Roger já havia traçado mulheres casadas, mas jamais mulheres casadas quando ele conhecia o marido. Era ético. A sua maneira, é claro.
Férias, Um mês de férias no nordeste! Festas, bebidas e mulheres por 25 dias. Inveja do Roger. Gastou menos do que queria, mas muito mais do que podia pagar. Na volta ao trabalho, no refeitório, almoçou com o colega novo:
- E aí! Como foram as férias? - perguntou o inocente.
- Excepcionais. Até num cruzeiro eu fui. Comia cinco vezes por dia, mulherada fácil, não dava vontade de voltar a trabalhar.
- Pois eu e minha esposa já fizemos um cruzeiro. Mas, era um cruzeiro romântico.
- Hum. - resmungou ao lembrar da esposa e ex-amante.
- Só tivemos um problema.
- Qual?
- Levamos a minha cunhada. Era uma promoção, e só dois pagavam, e aí...
- Sua esposa tem uma irmã? - interrompeu o Roger, mesmo com a boca cheia.
- Sim, gêmea.
Era a salvação, vibrou ele. Foi um engano. Graças ao Santo Protetor dos Cafajestes e Sem Vergonha na Cara. Era a irmã e não a esposa do colega de trabalho. Relaxou, retirou um peso das costas. Ficaram amigos, conversavam bastante, sobre tudo. Havia quebrado o gelo da discórdia.
- Roger, quer ir almoçar lá em casa na sexta-feira santa? - convidou o colega.
- Almoçar? - perguntou ele um tanto receoso.
- Sim. Almoçar. Sei que você é solteiro e garanto que não existe miojo de peixe. - brincou.
- Não ligo para essas coisas.
- Vai fazer o que em casa?
- Tá bem, apareço por lá.
No almoço, aquela mesma sensação incômoda. A sensação de já ter encontrado aquela mulher em algum lugar. Procurou por fotos da cunhada. Imaginou que se fossem gêmeas, ao menos parecidas seriam, e assim resolveria o problema. Mas, nada de fotos. Só peixe assado e vinho branco. Almoçou, conversou um pouco e foi embora. A pulga ainda continuava atrás da orelha. Mas, ela fora tão indiferente perante a sua presença que talvez estivesse enganado, talvez fosse apenas aquelas sensações que temos quando passamos por uma situação que parece-nos já ter ocorrido.
No sábado, ele recebeu um torpedo esclarecedor:
- Oi. Ainda tinha seu número aqui. Adorei rever você. Apareça para almoçar mais seguido. Hehehe. Bjs
Alguns devem estar pensando que isso poderia ocorrer com qualquer um, que o Roger não imaginou um dia trabalhar com o colega recém admitido, que eles ainda não se conheciam. Porém, friso eu, Roger não lembrava onde havia se consumado o fato, também não lembrava como havia conhecido a esposa do colega, e tampouco detalhes do caso. Tinha apenas uma certeza: ela era casada quando eles saíram juntos.
- Boa noite a todos!
- Boa noite! - responderam todos.
- Essa é minha esposa. - disse apontando em direção dela, com o braço direito sobre o ombro e o esquerdo gesticulando como se estivesse apresentando um espetáculo.
E era, afirmo eu. Gata, mas gata mesmo! Usava aparelho nos dentes, o que a deixava com ar mais jovial. Havia colocado há pouco tempo, provavelmente, já que ajeitava os lábios sobre o aparelho a todo instante. Ela, um pouco tímida ao ser apresentada a todos de uma só vez, recebendo todos os olhares, não havia percebido que o Roger estava ali, talvez porque ele estivesse escondido dentro da taça de vinho tinto que saboreava. Por um instante Roger temeu que a situação se agravasse e estivéssemos diante de um incidente diplomático caso a moça fosse apresentada individualmente para cada um em torno das mesas que já acomodavam mais de vinte pessoas. Mas, a apresentação foi coletiva e o casal logo tratou de sentar do lado oposto. Como haviam chegado por último, o colega sentou na cabeceira da última mesa, e ao lado dele, do outro lado da mesa, no canto oposto, a deusa em forma de pecado. Roger queria ir embora, acanhado que estava. Cessou as suas piadas, calaram-se as suas histórias.Não debruçou-se na mesa para que a ex amante não o visse. Recostou-se na cadeira e assim permaneceu até o fim da noite. De corpo presente, e com a memória no passado. Revirou baús dentro do cérebro e não achava respostas para lembrar de onde havia conhecido aquela mulher. Se perguntava como? Onde? Não encontrava respostas. Espiava a moça de rabo de olho. A imagem era clara, já haviam ficado.
Durante a janta ainda, aos poucos, a memória lhe apresentava um balanço do que havia acontecido. Lembrou que fora em outra cidade. Mais tarde lembrou que ela fumava. Depois lembrou que foi numa festa. Depois lembrou que estavam bêbados.
- Pessoal, quero propor um brinde! - disse o chefe. - Um brinde a nossa equipe de trabalho. Em anos de empresa, eu nunca havia trabalhado com um grupo tão bom, tão qualificado, capaz. Parabéns aos que conseguiram ótimos resultados nesse semestre e àqueles que estão chegando ao nosso time!
Maldita aquisição, pensou o Roger. Era o único solteiro da turma, gostava de todos, era querido por todos. Só faltava essa agora, “um corno como colega de trabalho!”, esbravejava em pensamentos. E o guampudo era um gente boa, competente, educado, trabalhador. Mas, corno!
Roger foi pra casa pensando em pedir férias. Um mês longe de casa ajudaria a esquecer essa situação. São raros eventos profissionais com a família, seria possível suportar a traição que havia proporcionado ao colega. Roger já havia traçado mulheres casadas, mas jamais mulheres casadas quando ele conhecia o marido. Era ético. A sua maneira, é claro.
Férias, Um mês de férias no nordeste! Festas, bebidas e mulheres por 25 dias. Inveja do Roger. Gastou menos do que queria, mas muito mais do que podia pagar. Na volta ao trabalho, no refeitório, almoçou com o colega novo:
- E aí! Como foram as férias? - perguntou o inocente.
- Excepcionais. Até num cruzeiro eu fui. Comia cinco vezes por dia, mulherada fácil, não dava vontade de voltar a trabalhar.
- Pois eu e minha esposa já fizemos um cruzeiro. Mas, era um cruzeiro romântico.
- Hum. - resmungou ao lembrar da esposa e ex-amante.
- Só tivemos um problema.
- Qual?
- Levamos a minha cunhada. Era uma promoção, e só dois pagavam, e aí...
- Sua esposa tem uma irmã? - interrompeu o Roger, mesmo com a boca cheia.
- Sim, gêmea.
Era a salvação, vibrou ele. Foi um engano. Graças ao Santo Protetor dos Cafajestes e Sem Vergonha na Cara. Era a irmã e não a esposa do colega de trabalho. Relaxou, retirou um peso das costas. Ficaram amigos, conversavam bastante, sobre tudo. Havia quebrado o gelo da discórdia.
- Roger, quer ir almoçar lá em casa na sexta-feira santa? - convidou o colega.
- Almoçar? - perguntou ele um tanto receoso.
- Sim. Almoçar. Sei que você é solteiro e garanto que não existe miojo de peixe. - brincou.
- Não ligo para essas coisas.
- Vai fazer o que em casa?
- Tá bem, apareço por lá.
No almoço, aquela mesma sensação incômoda. A sensação de já ter encontrado aquela mulher em algum lugar. Procurou por fotos da cunhada. Imaginou que se fossem gêmeas, ao menos parecidas seriam, e assim resolveria o problema. Mas, nada de fotos. Só peixe assado e vinho branco. Almoçou, conversou um pouco e foi embora. A pulga ainda continuava atrás da orelha. Mas, ela fora tão indiferente perante a sua presença que talvez estivesse enganado, talvez fosse apenas aquelas sensações que temos quando passamos por uma situação que parece-nos já ter ocorrido.
No sábado, ele recebeu um torpedo esclarecedor:
- Oi. Ainda tinha seu número aqui. Adorei rever você. Apareça para almoçar mais seguido. Hehehe. Bjs
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