As mulheres tem uma enorme capacidade de captar os sinais verbais e não verbais, assim como um olhar atento aos detalhes. A intuição é mais visível quando as mulheres já são mães, pois nos primeiros anos de vida dos filhos ela precisa saber identificar todas as necessidades das crianças unicamente pelo canal não verbal.
Não sou eu quem disse isso. Apenas retirei de algum contexto. O que eu já disse e reitero é que homens não percebem tais sinais, não entendem meias palavras. Assim como não percebem tonalidades. Sim, isso mesmo: tons. Não existe diferença perceptível a olho nu que diferencie marrom do tom pastel. Salmão é peixe e ponto final. Homens percebem, no máximo, a diferença entre claro e escuro.
Dito isso, retomo a idéia inicial do texto. Nesse mundo moderno, de relações intensas com diversas pessoas ao mesmo tempo, o Roger se pergunta: depois do sexo, o que devo fazer?
Caro Roger, eu lhe digo: não sei. Também não faço a mínima idéia. Só sei como funciona para chegar ao sexo. Durante o sexo já começo ter dúvidas. Depois do sexo não faço a menor idéia do que se deve fazer.
Pode parecer indelicado levar, vestir-se e ir embora. Mas, alargar-se na cama e amanhecer ao lado da mulher pode não ser de bom grado. Mulheres modernas não gostam de homens pegajosos e carinhosos. Preferem homens objetivos. É a frieza das novas relações. Nada de dormir de conchinha.
Todavia, perguntar se deve ficar para o desjejum ou se deve ir embora para não atrapalhar o sono da mulher independente pode gerar um constrangimento. E não queremos mulheres fazendo torradas pela manhã enjoadas com a nossa cara.
Assim, caso alguma mulher por ventura venha a ler esse texto, saibam que não notamos os sinais não verbais as quais vocês estão acostumadas desde os primórdios. Não somos privilegiados em intuições ou percepções qualquer. Por favor, deixem claro suas intenções. Nos mandem embora pra casa ou nos cocem as costas até pegarmos no sono.
***
O antropólogo Ray Birdwhistell calculou que, em média, um indivíduo:
- Emite de 10 a 11 minutos de palavras por dia!
- É capaz de fazer e reconhecer cerca de 250 mil expressões faciais.
Eu mesmo calculei que eu falo, em média, de 30 a 60 segundos por dia. Quando estou inspiradíssimo, por suposto.
Calculei, também, que reconheço uma expressão facial: a de pessoas com caganeira!
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terça-feira, 22 de novembro de 2011
sábado, 19 de novembro de 2011
homem objeto
Roger estava sozinho em casa, arrotando, peidando e coçando o saco. Deitado no sofá, vendo qualquer coisa na TV e esperando a dor de cabeça passar. A dor poderia ser resultado de problemas estomacais causadores dos gases que saíam por cima ou dos que saíam por baixo. Levantou do sofá e foi pegar uma jarra d’água. Bebia no gargalo. Respingava água no peito. O cara é um porco. Um bárbaro.
- Alô! - disse ele ao atender o celular.
- Oi. Ocupado? - disse uma amiga que estava lhe devendo uma visita.
- Não. To de bobeira.
- Posso ir aí?
- Claro. Chega em quanto tempo?
- Cinco minutos.
- Peraí, tenho que tomar banho.
- Tomamos juntos.
- Mas, tenho que arrumar a casa, o quarto.
- Não quero saber disso. Quero ir aí e você sabe o porquê.
- Mas, ...
- To chegando.
Abriu as janelas, correu pro quarto para arrumar a cama, trocou de canal envergonhado que estava por assistir a novela das oito, procurou um Bom Ar, não achou, a campainha tocou. Tudo muito rápido.
- Safada! Estava aqui perto mesmo. - pensou. Entra! - gritou.
- Oi.
- Oi. Vamos tomar um banho, vem!
Ele não estava preparado para uma visita. A casa, o mau cheiro, a cueca velha e rasgada de andar em casa. Tirou tudo de uma vez só, cueca e calça, para que a moça não visse. A colocou de costas, com a cabeça virada para a basculante do banheiro, onde o cheiro era mais agradável. Deu-lhe um banho. De língua também.
Depois voltaram para o quarto. Secagem superficial dos corpos. Um corpo úmido roçando no outro, sobre a toalha molhada. Sexo rápido, para aliviar a tensão.
- Preciso ir.
- Já? - surpreendeu-se ele. - Agora que estou cheiroso tu vais embora?
- Sim. Era só uma dívida a ser paga. Já estou atrasada. Minha mãe me espera.
- Então tá.
- Roger...
- Diga.
- Dá próxima vez...
- O que tinha de errado?
- Dá próxima vez, corta as unhas do pé. Não posso sair daqui com as canelas arranhadas.
- Alô! - disse ele ao atender o celular.
- Oi. Ocupado? - disse uma amiga que estava lhe devendo uma visita.
- Não. To de bobeira.
- Posso ir aí?
- Claro. Chega em quanto tempo?
- Cinco minutos.
- Peraí, tenho que tomar banho.
- Tomamos juntos.
- Mas, tenho que arrumar a casa, o quarto.
- Não quero saber disso. Quero ir aí e você sabe o porquê.
- Mas, ...
- To chegando.
Abriu as janelas, correu pro quarto para arrumar a cama, trocou de canal envergonhado que estava por assistir a novela das oito, procurou um Bom Ar, não achou, a campainha tocou. Tudo muito rápido.
- Safada! Estava aqui perto mesmo. - pensou. Entra! - gritou.
- Oi.
- Oi. Vamos tomar um banho, vem!
Ele não estava preparado para uma visita. A casa, o mau cheiro, a cueca velha e rasgada de andar em casa. Tirou tudo de uma vez só, cueca e calça, para que a moça não visse. A colocou de costas, com a cabeça virada para a basculante do banheiro, onde o cheiro era mais agradável. Deu-lhe um banho. De língua também.
Depois voltaram para o quarto. Secagem superficial dos corpos. Um corpo úmido roçando no outro, sobre a toalha molhada. Sexo rápido, para aliviar a tensão.
- Preciso ir.
- Já? - surpreendeu-se ele. - Agora que estou cheiroso tu vais embora?
- Sim. Era só uma dívida a ser paga. Já estou atrasada. Minha mãe me espera.
- Então tá.
- Roger...
- Diga.
- Dá próxima vez...
- O que tinha de errado?
- Dá próxima vez, corta as unhas do pé. Não posso sair daqui com as canelas arranhadas.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
a caixa preta
Desde que optou por se envolver com mulheres casadas, Roger sabia o que teria pela frente. Desenvolveu uma das maiores virtudes que um homem pode ter: ouvir a mulher. Roger ouvia todas elas. Sem pressa. Prestava atenção, olhava no olho, respondia, questionava, dava conselhos. Isso o diferenciava dos maridos ausentes. Claro, também procurou seu gerente no banco e fez um seguro de vida, pois os riscos iriam aumentar consideravelmente.
Não era um garoto de programa, embora recebesse presentes invariavelmente. Não rejeitava, pois camisas e camisetas sempre são bem vindas. Recebia cuecas também. Certa vez recebeu uma de elefante, com uma tromba na frente. Noutra ocasião, uma vermelha do Super-Homem. Agradecia, olhando nos olhos, e com sinceridade dizia que presentes eram desnecessários. O que ele queria mesmo era sexo sem compromisso. E mulheres casadas não podiam se envolver.
Ser o Ricardão lhe proporcionou um aprendizado que nenhuma faculdade lhe ofereceria. Aprendeu como tratar uma mulher. Mulheres cansadas das atitudes - ou da falta de - dos esposos lhe deram essa lição.
As reclamações variavam desde um mero sexo oral. Haviam os que só gostavam de receber. Homem egoísta é um problema, mas haviam os que acreditavam que sexo oral não era algo que uma esposa decente devesse fazer no seu marido. Enfim, as esposas sagradas não pensavam o mesmo, e procuravam o Roger para chupá-lo.
Tinham os namorados cornos também. O corno namorado é um tipo de homem incompetente. Sim, pois uma coisa é o corno velho, cansado da vida monótona oriunda de um matrimônio enfraquecido. Outra, é um namorado, fruto de um relacionamento recente, que prefere ficar na frente do Playstation jogando joguinhos. Outra é um namorado que prefere ficar em casa vendo televisão a sair com namorada para tomar uma cerveja que seja. As mulheres evoluíram, e cansadas de serem mal tratadas, procuram os Roger’s para se satisfazerem, não apenas sexualmente, mas como mulher.
A caixa-preta é extensa e tem histórias de mulheres desconfiadas da masculinidade do seu “macho”. Caras com atitudes, no mínimos, suspeitas, amizades estranhas, e uma falta de apetite sexual com a parceira, merecedoras de um par de guampa.
O que eu não entendo e o Roger não faz questão de entender é o porquê essas mulheres continuam a mercê destas relações. Que relação é essa onde a mulher prefere abster-se uma vida conjugal feliz para continuar um relacionamento com otários que as destratam, que as deixam em completa abstinência.
Essa resposta, talvez eu encontre, em outra caixa-preta, ainda inacessível a mim.
Não era um garoto de programa, embora recebesse presentes invariavelmente. Não rejeitava, pois camisas e camisetas sempre são bem vindas. Recebia cuecas também. Certa vez recebeu uma de elefante, com uma tromba na frente. Noutra ocasião, uma vermelha do Super-Homem. Agradecia, olhando nos olhos, e com sinceridade dizia que presentes eram desnecessários. O que ele queria mesmo era sexo sem compromisso. E mulheres casadas não podiam se envolver.
Ser o Ricardão lhe proporcionou um aprendizado que nenhuma faculdade lhe ofereceria. Aprendeu como tratar uma mulher. Mulheres cansadas das atitudes - ou da falta de - dos esposos lhe deram essa lição.
As reclamações variavam desde um mero sexo oral. Haviam os que só gostavam de receber. Homem egoísta é um problema, mas haviam os que acreditavam que sexo oral não era algo que uma esposa decente devesse fazer no seu marido. Enfim, as esposas sagradas não pensavam o mesmo, e procuravam o Roger para chupá-lo.
Tinham os namorados cornos também. O corno namorado é um tipo de homem incompetente. Sim, pois uma coisa é o corno velho, cansado da vida monótona oriunda de um matrimônio enfraquecido. Outra, é um namorado, fruto de um relacionamento recente, que prefere ficar na frente do Playstation jogando joguinhos. Outra é um namorado que prefere ficar em casa vendo televisão a sair com namorada para tomar uma cerveja que seja. As mulheres evoluíram, e cansadas de serem mal tratadas, procuram os Roger’s para se satisfazerem, não apenas sexualmente, mas como mulher.
A caixa-preta é extensa e tem histórias de mulheres desconfiadas da masculinidade do seu “macho”. Caras com atitudes, no mínimos, suspeitas, amizades estranhas, e uma falta de apetite sexual com a parceira, merecedoras de um par de guampa.
O que eu não entendo e o Roger não faz questão de entender é o porquê essas mulheres continuam a mercê destas relações. Que relação é essa onde a mulher prefere abster-se uma vida conjugal feliz para continuar um relacionamento com otários que as destratam, que as deixam em completa abstinência.
Essa resposta, talvez eu encontre, em outra caixa-preta, ainda inacessível a mim.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
presente divino
Quando o Roger voltava pra casa, caminhando e assoviando, foi abordado por uma senhora. Ela encostou a caminhonete importada, baixou o vidro e fez o convite, num tom sedutor:
- Oi. Quer dar uma volta?
A reação de qualquer homem numa situação dessas é imprevisível, diante do ineditismo. As pernas dele tremeram, o coração disparou, a mão ficou suada. Aproximou-se para verificar o que havia de errado com a mulher. Aproximou-se e ela foi ficando cada vez mais linda. Pôs a cabeça quase dentro do automóvel que cheirava a novo. Deparou-se com uma mulher com aproximadamente quarenta anos, loira, seios siliconados, jeitosamente cobertos por um vestido preto decotado. O vestido não cobria os joelhos, muuuuito pelo contrário. Parecia um cinto largo, que mal cobria a calcinha. As coxas bronzeadas reluziam. Bronzeamento artificial tem seus méritos no inverno gaúcho. O bronzeado só não reluzia mais do que as jóias caras que decoravam aquele belo exemplar do sexo oposto. Na mão esquerda, uma também reluzente aliança denunciando o matrimônio. Definitivamente não tratava-se de um travesti.
Foram menos de trinta segundos, que forçaram uma resposta imediata por parte do acuado rapaz, e da insistência da loira:
- Vamos ou não vamos?
Roger precisava de mais tempo. Não para decidir, e sim para acreditar. Então, agiu feito um idiota ganhando tempo:
- Eu?
Claro que era, besta!. Não havia mais ninguém ali, as três da matina. Estava agindo feito um covarde. Pensou que poderia ser um assalto, mas logo pensou que nem sangrando teria mais do que dez reais na carteira e mais do que trinta pila do cheque especial no banco. Afastou a possibilidade de assalto ou seqüestro relâmpago. Correu o olho pelo banco traseiro, receoso de que houvesse um homem que pudesse judiá-lo. Não havia. Pensou em olhar para cima e ter um lero-lero com o Cara aquele. Que dádiva divina era aquela! Seria uma tentativa desesperada de Deus para que ele fizesse a primeira comunhão? Depois perguntou:
- Volta onde?
- Para o meu apartamento. Quero sexo. Sexo casual! - frisou.
Era uma pegadinha. Aguardou pela chegada do Ivolanda ou do Malandro. Imaginou-se na televisão, servindo de piada a todo Brasil. Cadê a Van com as câmeras? Ué, não havia nenhum carro na rua. Algo estava, estranhamente, muito perfeito para ser verdade. Sempre pediu para que isso acontecesse. Sempre desejou o improvável, e o improvável estava acontecendo. Sexo fácil, objetivo, sem nomes, derrubando regras, mitigando barreiras.
Pensou que poderia agir com maturidade e com a grandeza de um homem correto, que segue uma linha correta da família e dos princípios morais, negando a carona e o sexo com a coroa gostosa. Não precisava disso, não teria graça. Mas, logo percebeu que seu pensamento era falso como uma nota de trinta reais, já que não seguia linha correta coisa nenhuma, sequer tinha princípios, meios e fins. Jamais negaria a carona.
- Você é casada?
- Importa? - incomodou-se ela.
Era sexo casual, o mesmo que fizera tantas vezes com moças que ofereceu carona. A diferença, dessa vez, era que o objeto havia mudado de gênero. Iria aceitar e entregar-se àquela mulher cheirosa, cujo cheiro teimava em sair pela janela, aquecido pelo ar condicionado. Quando preparou-se para dizer sim, surge um outro rapaz na esquina a frente. Passos firmes, mais alto, mais arrumado, menos barrigudo. A mulher não se despediu do objeto. Engatou a primeira e em dois segundos abordou o outro rapaz, que apagou o cigarro que fumava e entrou decididamente no carro importado que logo desaparecia no horizonte.
Desde então Roger anda cabisbaixo. Encontro com ele de quando em vez, indo e vindo do psicólogo. Depois disso, somente deseja aquilo que está preparado o suficiente para fazer.
- Oi. Quer dar uma volta?
A reação de qualquer homem numa situação dessas é imprevisível, diante do ineditismo. As pernas dele tremeram, o coração disparou, a mão ficou suada. Aproximou-se para verificar o que havia de errado com a mulher. Aproximou-se e ela foi ficando cada vez mais linda. Pôs a cabeça quase dentro do automóvel que cheirava a novo. Deparou-se com uma mulher com aproximadamente quarenta anos, loira, seios siliconados, jeitosamente cobertos por um vestido preto decotado. O vestido não cobria os joelhos, muuuuito pelo contrário. Parecia um cinto largo, que mal cobria a calcinha. As coxas bronzeadas reluziam. Bronzeamento artificial tem seus méritos no inverno gaúcho. O bronzeado só não reluzia mais do que as jóias caras que decoravam aquele belo exemplar do sexo oposto. Na mão esquerda, uma também reluzente aliança denunciando o matrimônio. Definitivamente não tratava-se de um travesti.
Foram menos de trinta segundos, que forçaram uma resposta imediata por parte do acuado rapaz, e da insistência da loira:
- Vamos ou não vamos?
Roger precisava de mais tempo. Não para decidir, e sim para acreditar. Então, agiu feito um idiota ganhando tempo:
- Eu?
Claro que era, besta!. Não havia mais ninguém ali, as três da matina. Estava agindo feito um covarde. Pensou que poderia ser um assalto, mas logo pensou que nem sangrando teria mais do que dez reais na carteira e mais do que trinta pila do cheque especial no banco. Afastou a possibilidade de assalto ou seqüestro relâmpago. Correu o olho pelo banco traseiro, receoso de que houvesse um homem que pudesse judiá-lo. Não havia. Pensou em olhar para cima e ter um lero-lero com o Cara aquele. Que dádiva divina era aquela! Seria uma tentativa desesperada de Deus para que ele fizesse a primeira comunhão? Depois perguntou:
- Volta onde?
- Para o meu apartamento. Quero sexo. Sexo casual! - frisou.
Era uma pegadinha. Aguardou pela chegada do Ivolanda ou do Malandro. Imaginou-se na televisão, servindo de piada a todo Brasil. Cadê a Van com as câmeras? Ué, não havia nenhum carro na rua. Algo estava, estranhamente, muito perfeito para ser verdade. Sempre pediu para que isso acontecesse. Sempre desejou o improvável, e o improvável estava acontecendo. Sexo fácil, objetivo, sem nomes, derrubando regras, mitigando barreiras.
Pensou que poderia agir com maturidade e com a grandeza de um homem correto, que segue uma linha correta da família e dos princípios morais, negando a carona e o sexo com a coroa gostosa. Não precisava disso, não teria graça. Mas, logo percebeu que seu pensamento era falso como uma nota de trinta reais, já que não seguia linha correta coisa nenhuma, sequer tinha princípios, meios e fins. Jamais negaria a carona.
- Você é casada?
- Importa? - incomodou-se ela.
Era sexo casual, o mesmo que fizera tantas vezes com moças que ofereceu carona. A diferença, dessa vez, era que o objeto havia mudado de gênero. Iria aceitar e entregar-se àquela mulher cheirosa, cujo cheiro teimava em sair pela janela, aquecido pelo ar condicionado. Quando preparou-se para dizer sim, surge um outro rapaz na esquina a frente. Passos firmes, mais alto, mais arrumado, menos barrigudo. A mulher não se despediu do objeto. Engatou a primeira e em dois segundos abordou o outro rapaz, que apagou o cigarro que fumava e entrou decididamente no carro importado que logo desaparecia no horizonte.
Desde então Roger anda cabisbaixo. Encontro com ele de quando em vez, indo e vindo do psicólogo. Depois disso, somente deseja aquilo que está preparado o suficiente para fazer.
domingo, 2 de janeiro de 2011
rego gozado
Esses dias, Roger, nosso anti-herói imaginário, foi curtir uma festa numa cidade do interior. Ele próprio morava no interior, mas essa cidade era mais próxima da capital, o que significa um interior mais desenvolvido, onde as coisas acontecem antes. A mulherada, por exemplo, era ativa, tomava a iniciativa, chegava junto, diferentemente da sua realidade conservadora, onde o homem convida a donzela para dançar.
Lá, nessa cidade do interior, num pub, conheceu uma baixinha. Pequenina, de metro e pouco. Conversaram, mas ela logo tratou de deixar claro suas não intenções:
- Olha. Quero ficar contigo, mas não aqui dentro, pois terminei um relacionamento há pouco, e todos que estão aqui são conhecidos...
- Tudo bem, ficamos conversando e ficamos lá fora.
- Pode ser. - disse ela - Mas, já vou logo te avisando que não sou como essas gurias daqui, que ficam e transam no mesmo dia.
- Não, nem pensei uma coisa dessas. - desconversou, um tanto decepcionado. Na verdade, queria sexo, óbvio, todo homem quer sexo. Nenhum homem sai para dançar. Sem ilusões sobre isso. Ainda mais num pub. Nenhum homem sai para ouvir uma banda tocar, exceto um Rolling Stones. Ainda assim, encontrar uma gata num mega show faz parte dos nossos pensamentos nada secretos. No entanto, sabia da sua realidade, onde para arrastar uma mulher ao sexo casual, teria de resenhar uma bíblia.
Saíram do pub. Roger tomou o sentido do seu hotel:
- Onde você vai? - perguntou a nanica nativa.
- Vou te levar até o carro.
- Meu carro tá pro outro lado. Mas já te aviso: não vai achando que vai rolar sexo porque não vai.
- Tudo bem... Sem problemas.
- Não! Digo isso porque essas gurias de hoje em dia ficam com um cara que acabaram de conhecer e fazem sexo. Isso é coisa de puta, isso é coisa de vagabunda.
- Não concordo com isso, mas só vou te levar até o carro.
Chegando no carro, ela resolveu levar o turista até o hotel:
- Entra aí no carro. - disse a desprovida de altura. - Vou te levar até o teu hotel, mas já te deixo claro que é só isso. Não vai rolar sexo, pois isso é coisa de puta, coisa de vagabunda, não acha?
- Não acho. Mas, aceito sua carona. Já tá tarde e estou cansado.
Na frente do hotel, a moça desligou o carro e logo trataram de usar as mãos para se conhecerem melhor. Até que ela, indignada com uns rapazes que trocavam um pneu do outro lado da rua, reclamou da falta de privacidade. Foi quando Roger começou a duvidar da seriedade de pequena:
- Então vamos dar uma volta. Procurar um lugar mais sossegado, uma rua mais escura.
- Vamos. Mas, não vai achando que vai rolar sexo na rua escura. Não sou dessas. Isso é coisa de puta, coisa de vagabunda.
Andaram pela cidade. Ela apresentou os pontos turísticos, as casas noturnas, e encontrou uma rua numa ribanceira. Estacionou embaixo de um poste de iluminação que estava com a lâmpada queimada. Viva a incapacidade do poder público!, vibrou Roger. O reconhecimento corporal continuou. E quando a moça estava com a mão ocupada, prestes a ocupar a boca, olhou para o Roger e perguntou:
- Isso é coisa de puta, né? Coisa de vagabunda?
- É! Isso é coisa de mulher ousada e objetiva. E dentro do carro funciona como se fosse dentro de quatro paredes. Aqui tens que ser uma puta e uma vagabunda!
- Eu sabia. Mas, não quero te dar aqui dentro do carro. - reconheceu a, agora, puta e vagabunda de um metro e cinqüenta.
- Então vamos num motel.
Foram. Mas, não encontraram. Ela tinha certeza que era na rodovia. Mas, não lembrava para qual lado. Foram em direção a capital mas não encontram. Então, foram no sentido oposto. Encontraram um outro, mas estava lotado. O tempo passava. O cansaço aumentava. O sol estava por brilhar em poucos minutos.
- Vamos dentro do carro mesmo. Entra numa estrada qualquer. - suplicou ele.
- Não queria dentro do carro.
- Mas, não temos opções.
- Dentro do carro é coisa de puta, é coisa de vagabunda.
- Hoje tu és minha puta, minha vagabunda!
Acharam a estrada, ela parou o carro. Tiraram a roupa. Tinham pouco tempo. Ele pôs o banco mais para trás. Ela saiu do banco do motorista e montou no colo dele no banco do carona. Transaram. E ela trepava como uma puta, como uma vagabunda. Gozaram. Gozaram e em pouco tempo dormiram. Ele com o rosto virado para janela. Ela com a cabeça do ombro dele. Como se fossem um só, românticos. Mas, isso não seria coisa de puta, de vagabunda.
Roger acordou com uma sensação estranha. Um líquido escorria pela virilha esquerda. Abriu os olhos e sentiu outro pingo descendo pela virilha direita. Acordou a moça, que babava em seu ombro. Já estava amanhecendo. E o esperma já havia descido virilha abaixo. Essa foi a primeira vez que um homem gozou no seu próprio rabo.
Lá, nessa cidade do interior, num pub, conheceu uma baixinha. Pequenina, de metro e pouco. Conversaram, mas ela logo tratou de deixar claro suas não intenções:
- Olha. Quero ficar contigo, mas não aqui dentro, pois terminei um relacionamento há pouco, e todos que estão aqui são conhecidos...
- Tudo bem, ficamos conversando e ficamos lá fora.
- Pode ser. - disse ela - Mas, já vou logo te avisando que não sou como essas gurias daqui, que ficam e transam no mesmo dia.
- Não, nem pensei uma coisa dessas. - desconversou, um tanto decepcionado. Na verdade, queria sexo, óbvio, todo homem quer sexo. Nenhum homem sai para dançar. Sem ilusões sobre isso. Ainda mais num pub. Nenhum homem sai para ouvir uma banda tocar, exceto um Rolling Stones. Ainda assim, encontrar uma gata num mega show faz parte dos nossos pensamentos nada secretos. No entanto, sabia da sua realidade, onde para arrastar uma mulher ao sexo casual, teria de resenhar uma bíblia.
Saíram do pub. Roger tomou o sentido do seu hotel:
- Onde você vai? - perguntou a nanica nativa.
- Vou te levar até o carro.
- Meu carro tá pro outro lado. Mas já te aviso: não vai achando que vai rolar sexo porque não vai.
- Tudo bem... Sem problemas.
- Não! Digo isso porque essas gurias de hoje em dia ficam com um cara que acabaram de conhecer e fazem sexo. Isso é coisa de puta, isso é coisa de vagabunda.
- Não concordo com isso, mas só vou te levar até o carro.
Chegando no carro, ela resolveu levar o turista até o hotel:
- Entra aí no carro. - disse a desprovida de altura. - Vou te levar até o teu hotel, mas já te deixo claro que é só isso. Não vai rolar sexo, pois isso é coisa de puta, coisa de vagabunda, não acha?
- Não acho. Mas, aceito sua carona. Já tá tarde e estou cansado.
Na frente do hotel, a moça desligou o carro e logo trataram de usar as mãos para se conhecerem melhor. Até que ela, indignada com uns rapazes que trocavam um pneu do outro lado da rua, reclamou da falta de privacidade. Foi quando Roger começou a duvidar da seriedade de pequena:
- Então vamos dar uma volta. Procurar um lugar mais sossegado, uma rua mais escura.
- Vamos. Mas, não vai achando que vai rolar sexo na rua escura. Não sou dessas. Isso é coisa de puta, coisa de vagabunda.
Andaram pela cidade. Ela apresentou os pontos turísticos, as casas noturnas, e encontrou uma rua numa ribanceira. Estacionou embaixo de um poste de iluminação que estava com a lâmpada queimada. Viva a incapacidade do poder público!, vibrou Roger. O reconhecimento corporal continuou. E quando a moça estava com a mão ocupada, prestes a ocupar a boca, olhou para o Roger e perguntou:
- Isso é coisa de puta, né? Coisa de vagabunda?
- É! Isso é coisa de mulher ousada e objetiva. E dentro do carro funciona como se fosse dentro de quatro paredes. Aqui tens que ser uma puta e uma vagabunda!
- Eu sabia. Mas, não quero te dar aqui dentro do carro. - reconheceu a, agora, puta e vagabunda de um metro e cinqüenta.
- Então vamos num motel.
Foram. Mas, não encontraram. Ela tinha certeza que era na rodovia. Mas, não lembrava para qual lado. Foram em direção a capital mas não encontram. Então, foram no sentido oposto. Encontraram um outro, mas estava lotado. O tempo passava. O cansaço aumentava. O sol estava por brilhar em poucos minutos.
- Vamos dentro do carro mesmo. Entra numa estrada qualquer. - suplicou ele.
- Não queria dentro do carro.
- Mas, não temos opções.
- Dentro do carro é coisa de puta, é coisa de vagabunda.
- Hoje tu és minha puta, minha vagabunda!
Acharam a estrada, ela parou o carro. Tiraram a roupa. Tinham pouco tempo. Ele pôs o banco mais para trás. Ela saiu do banco do motorista e montou no colo dele no banco do carona. Transaram. E ela trepava como uma puta, como uma vagabunda. Gozaram. Gozaram e em pouco tempo dormiram. Ele com o rosto virado para janela. Ela com a cabeça do ombro dele. Como se fossem um só, românticos. Mas, isso não seria coisa de puta, de vagabunda.
Roger acordou com uma sensação estranha. Um líquido escorria pela virilha esquerda. Abriu os olhos e sentiu outro pingo descendo pela virilha direita. Acordou a moça, que babava em seu ombro. Já estava amanhecendo. E o esperma já havia descido virilha abaixo. Essa foi a primeira vez que um homem gozou no seu próprio rabo.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
a guria do quinto andar
Criado em casa, Roger sempre certo fascínio por apartamentos. Quanto mais alto, melhor. Gostava da sensação de olhar de cima, de ver as pessoas pequeninas, como se fossem playmobis, tal qual os que brincou quando pequeno. Além disso, do alto, conseguia avistar outros apartamento e observar o que os outros faziam.
Lembro da época em que estudamos juntos, e do alto do prédio da faculdade enxergávamos um apartamento onde a moradora trocava de roupa com a janela aberta. Os homens olhavam para esquerda, com os olhos apontados para o corpo violão da moradora, que a distância era bonita. Na sala, na outra janela, os pais dela assistiam televisão. As colegas de aula olhavam para o professor ou professora, aparentemente prestando atenção na aula. Os mais ousados abanavam, mas a moça fingia que não sabia ser observada.
Roger sempre gostou de observar, desde cedo descobriu-se um voyer. Talvez por isso seja fã desses programas onde as pessoas ficam confinadas numa casa. Uma amiga lhe confessou uma vez que, interessada no vizinho de janela, do prédio ao lado, fez um cartaz, onde pintou seu nome e telefone e colocou no vidro da janela, para que o vizinho visse. Ele ligou e mantiveram contato por um bom tempo. Questão de atitude, e homens gostam de mulheres com atitude. Ele, até então, nunca tinha tido a oportunidade de aproximar-se de alguém que observara de longe.
Até que conheceu uma menina que morava no nono andar de um prédio. Da janela do nono andar, viu uma menina, do prédio ao lado. Ela morava no quinto andar, mas vivia na janela. Penteava-se na janela. Comia na janela. Escovava os dentes na janela. Olhava o movimento pela janela. Havia uma buzina qualquer na rua e ela espiava pela janela. Mas, como Roger andava acompanhando e entretido com a menina que morava no nono andar, nunca conseguiu uma troca de observações ou um abano qualquer. Até que um dia a menina do nono andar dormiu cedo, e o Roger ficou desperto, andando pelo apartamento. Resolveu comer uma pizza. Foi jantar na janela. Do outro lado da rua, no prédio em frente, no quinto andar, a menina também jantava. Jantaram os dois juntos, cada um numa janela, cada um no seu andar, cada um no seu prédio.
Entre uma mordida e outra, ele abanava. Ela então virava o rosto. Mas, só virava o rosto quando ele a abanava. Precisava de um binóculo para ver se ela o olhava. Ou de um laser point para chamar a atenção dela. Na dúvida, foi tentar dormir.
O tempo passou, e a menina do nono andar tornou-se uma amiga. Um dia, foi devolver um CD ou um DVD, não lembra. Ao sair do edifício, olha pra trás e vê, na janela, a menina do quarto andar, na janela. Ela gostava da janela. Resolveu ter atitude, resolveu arriscar. Voltou e parou diante do interfone. Seria o 401 ou o 402? Apertou os dois. Uma voz feminina atendeu:
- Quem é?
- Oi. É do 402? - pergunta Roger.
- Não. Aqui é o 401. - responde ela com uma voz rouca, de quem pega sereno na janela.
- Quem fala? - arrisca.
- É a Ana. Quem é?
Ana. Bonito nome. Simples, fácil. A voz era a da Ana Carolina. Não esqueceria mais. Disse que tinha apertado o número errado e foi embora, pra voltar noutra hora, com mais tempo.
Dias depois, passeando de carro, decide que era o grande dia. Passa de carro e espia pela janela. A luz acesa, mas Ana não estava na janela. Estaciona e espera. Troca a estação do rádio. Ouve uma música e aguarda. Ainda tinha 30 minutos disponíveis, antes de um outro encontro. Ana não aparece na janela. Duas músicas depois, desce do carro e vai até o interfone. Lembrava o nome da menina da janela, mas não lembrava o número do apartamento. Aperta os dois, um depois o outro. Atende um homem:
- Quem é? - pergunta ele, com uma voz afeminada, macia.
Roger não responde, apenas espera. Poderia ser o namorado dela, mas a voz dela é mais máscula do que a dele. Não combinariam namorando. Também não deveria ser irmão, porque irmãos com voz tão distinta é difícil. Se bem que ela passa o dia na janela...
- Quem é? - agora a pergunta é da menina da voz rouca.
- Ana? - pergunta Roger.
- Sim. Quem é?
- Bom... Meu nome é Roger. Eu moro no prédio amarelo, no nono andar. E... sei lá, te achei bonita de longe, queria ver de perto.
Atitude ele teve. Mas, quando se tem atitude o cara é atirado. Quando não tem atitude, o cara é tímido. E a Ana, da voz rouca, acabara de ficar muda.
- Ana? Você ta aí? - pergunta.
- Como tu sabes meu nome?
- Esses dias eu desci e perguntei no interfone. Disse que era engano...
- Vou descer.
Ela desceu. Era bonita. Magra. Se você fechasse os olhos não acreditaria que aquela voz aveludada saía daquele corpinho esbelto. Cursava faculdade, morava há pouco tempo na cidade. Trocaram algumas idéias e os 30 minutos passaram voando. Roger teve de ir, mas pediu para voltar outro dia. Ela disse que não teria problema.
- Te procuro então. - disse ele. Sem telefones, sem e-mails. O único contato seria através do interfone.
Dias depois ele voltou. Um fardo de cerveja, bem gelada. Aperta os dois números do interfone. Ela atende.
- Quem é?
- O Roger.
- Tu sumiu. Não te vejo no nono andar, só vejo uma menina lá. - entrega-se a observadora.
- Me mudei. - mente.
- Quando?
- Dias atrás. Trouxe umas cervejas. Quer? - pergunta para mudar de assunto.
- Peraí que vou descer.
Depois das três latas de cerveja que cada um bebeu, ela o convida pra subir:
- Vamos subir. Tenho mais cerveja lá em cima.
E bebem mais algumas cervejas, escorados no para-peito da janela, olhando o movimento. A vista era legal do quarto andar. As pessoas ficavam mais próximas e maiores, o barulho era maior. E ali, na janela, beijam-se pela primeira vez. E naquele quarto, com a janela aberta, transam pela primeira e única vez. Adormecem com a brisa que vinha da rua.
- Bom dia. - diz ela com a voz mais grossa ainda.
- Que horas são? - pergunta ele, ainda com os olhos fechados.
- 7 horas. Tens que ir. Meu namorado está chegando.
- Namorado? - pergunta ele, já com os olhos bem abertos.
- Pois é. Não te falei. Tenho namorado. Vou noivar final do ano. Vou buscar ele na rodoviária daqui há pouco.
Roger foi embora. Foi usado pela menina carente, que fazia tudo na janela, da voz grossa, que ficava observando a tudo e a todos. Ao menos com essa, Roger jantou, mesmo que a distância, antes de ir pra cama.
Lembro da época em que estudamos juntos, e do alto do prédio da faculdade enxergávamos um apartamento onde a moradora trocava de roupa com a janela aberta. Os homens olhavam para esquerda, com os olhos apontados para o corpo violão da moradora, que a distância era bonita. Na sala, na outra janela, os pais dela assistiam televisão. As colegas de aula olhavam para o professor ou professora, aparentemente prestando atenção na aula. Os mais ousados abanavam, mas a moça fingia que não sabia ser observada.
Roger sempre gostou de observar, desde cedo descobriu-se um voyer. Talvez por isso seja fã desses programas onde as pessoas ficam confinadas numa casa. Uma amiga lhe confessou uma vez que, interessada no vizinho de janela, do prédio ao lado, fez um cartaz, onde pintou seu nome e telefone e colocou no vidro da janela, para que o vizinho visse. Ele ligou e mantiveram contato por um bom tempo. Questão de atitude, e homens gostam de mulheres com atitude. Ele, até então, nunca tinha tido a oportunidade de aproximar-se de alguém que observara de longe.
Até que conheceu uma menina que morava no nono andar de um prédio. Da janela do nono andar, viu uma menina, do prédio ao lado. Ela morava no quinto andar, mas vivia na janela. Penteava-se na janela. Comia na janela. Escovava os dentes na janela. Olhava o movimento pela janela. Havia uma buzina qualquer na rua e ela espiava pela janela. Mas, como Roger andava acompanhando e entretido com a menina que morava no nono andar, nunca conseguiu uma troca de observações ou um abano qualquer. Até que um dia a menina do nono andar dormiu cedo, e o Roger ficou desperto, andando pelo apartamento. Resolveu comer uma pizza. Foi jantar na janela. Do outro lado da rua, no prédio em frente, no quinto andar, a menina também jantava. Jantaram os dois juntos, cada um numa janela, cada um no seu andar, cada um no seu prédio.
Entre uma mordida e outra, ele abanava. Ela então virava o rosto. Mas, só virava o rosto quando ele a abanava. Precisava de um binóculo para ver se ela o olhava. Ou de um laser point para chamar a atenção dela. Na dúvida, foi tentar dormir.
O tempo passou, e a menina do nono andar tornou-se uma amiga. Um dia, foi devolver um CD ou um DVD, não lembra. Ao sair do edifício, olha pra trás e vê, na janela, a menina do quarto andar, na janela. Ela gostava da janela. Resolveu ter atitude, resolveu arriscar. Voltou e parou diante do interfone. Seria o 401 ou o 402? Apertou os dois. Uma voz feminina atendeu:
- Quem é?
- Oi. É do 402? - pergunta Roger.
- Não. Aqui é o 401. - responde ela com uma voz rouca, de quem pega sereno na janela.
- Quem fala? - arrisca.
- É a Ana. Quem é?
Ana. Bonito nome. Simples, fácil. A voz era a da Ana Carolina. Não esqueceria mais. Disse que tinha apertado o número errado e foi embora, pra voltar noutra hora, com mais tempo.
Dias depois, passeando de carro, decide que era o grande dia. Passa de carro e espia pela janela. A luz acesa, mas Ana não estava na janela. Estaciona e espera. Troca a estação do rádio. Ouve uma música e aguarda. Ainda tinha 30 minutos disponíveis, antes de um outro encontro. Ana não aparece na janela. Duas músicas depois, desce do carro e vai até o interfone. Lembrava o nome da menina da janela, mas não lembrava o número do apartamento. Aperta os dois, um depois o outro. Atende um homem:
- Quem é? - pergunta ele, com uma voz afeminada, macia.
Roger não responde, apenas espera. Poderia ser o namorado dela, mas a voz dela é mais máscula do que a dele. Não combinariam namorando. Também não deveria ser irmão, porque irmãos com voz tão distinta é difícil. Se bem que ela passa o dia na janela...
- Quem é? - agora a pergunta é da menina da voz rouca.
- Ana? - pergunta Roger.
- Sim. Quem é?
- Bom... Meu nome é Roger. Eu moro no prédio amarelo, no nono andar. E... sei lá, te achei bonita de longe, queria ver de perto.
Atitude ele teve. Mas, quando se tem atitude o cara é atirado. Quando não tem atitude, o cara é tímido. E a Ana, da voz rouca, acabara de ficar muda.
- Ana? Você ta aí? - pergunta.
- Como tu sabes meu nome?
- Esses dias eu desci e perguntei no interfone. Disse que era engano...
- Vou descer.
Ela desceu. Era bonita. Magra. Se você fechasse os olhos não acreditaria que aquela voz aveludada saía daquele corpinho esbelto. Cursava faculdade, morava há pouco tempo na cidade. Trocaram algumas idéias e os 30 minutos passaram voando. Roger teve de ir, mas pediu para voltar outro dia. Ela disse que não teria problema.
- Te procuro então. - disse ele. Sem telefones, sem e-mails. O único contato seria através do interfone.
Dias depois ele voltou. Um fardo de cerveja, bem gelada. Aperta os dois números do interfone. Ela atende.
- Quem é?
- O Roger.
- Tu sumiu. Não te vejo no nono andar, só vejo uma menina lá. - entrega-se a observadora.
- Me mudei. - mente.
- Quando?
- Dias atrás. Trouxe umas cervejas. Quer? - pergunta para mudar de assunto.
- Peraí que vou descer.
Depois das três latas de cerveja que cada um bebeu, ela o convida pra subir:
- Vamos subir. Tenho mais cerveja lá em cima.
E bebem mais algumas cervejas, escorados no para-peito da janela, olhando o movimento. A vista era legal do quarto andar. As pessoas ficavam mais próximas e maiores, o barulho era maior. E ali, na janela, beijam-se pela primeira vez. E naquele quarto, com a janela aberta, transam pela primeira e única vez. Adormecem com a brisa que vinha da rua.
- Bom dia. - diz ela com a voz mais grossa ainda.
- Que horas são? - pergunta ele, ainda com os olhos fechados.
- 7 horas. Tens que ir. Meu namorado está chegando.
- Namorado? - pergunta ele, já com os olhos bem abertos.
- Pois é. Não te falei. Tenho namorado. Vou noivar final do ano. Vou buscar ele na rodoviária daqui há pouco.
Roger foi embora. Foi usado pela menina carente, que fazia tudo na janela, da voz grossa, que ficava observando a tudo e a todos. Ao menos com essa, Roger jantou, mesmo que a distância, antes de ir pra cama.
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