quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

a filha da dona do puteiro

Um puteiro é uma espécie de local sagrado para alguns homens. O fato de ser um local onde as pessoas vão em busca de sexo é um dos fatores. A profissão prostituta, em si, causa um certo alvoroço, afinal é a, dita, mais antiga do mundo. As luzes, o cheiro, a fumaça, as músicas, tudo isso atrai uma série de homens, na sua maioria casados. Mas, os solteiros também vão. Na pior das hipóteses, um puteiro mexe com a economia, gera empregos, distribui riquezas e tirando a exploração injusta ou exagerada ou o tráfico que pode existir, não causa mal a ninguém. Ainda sim, se causar, causa menos mal do que o Congresso Nacional.
Mas, o Roger não gosta de prostíbulos. É solteiro. Não precisa esconder-se numa casa de prostituição. Tampouco tem dinheiro para pagar doses cujas moçoilas pedem insistentemente. Muito menos para pagar por sexo, ainda mais hoje em dia, onde só paga por sexo quem quer. Sempre disse que se tivesse dinheiro sobrando pagaria. Mas, pagaria por uma mulher alta. Bem alta. Daquelas que não se encontra por aí. E quando se encontra, não olham para baixinhos que nem ele. Não pagaria por uma mulher baixa. Já transou com mulheres baixas.
Mas, acompanha os amigos em puteiros. Quase todos gostam, quase todos casados. Não podem ir a festas, então preferem os puteiros. Mas, não paga doses. Bebe sua cerveja apenas. Num dia desse foram. A dona não estava. Foram recepcionados pela filha da dona:
- A mãe não pode vir. Pediu pra eu receber vocês aqui. As meninas já estão chegando. Podem ficar a vontade. - disse.
Era uma gata! Linda! Morena jambo, aparelho nos dentes. Tinha 19 aninhos. Não fazia programa, o que a deixou muito mais interessante. Simpática, fala macia.
Entrou, mas queria ter ficado ali, na porta, ouvindo as explicações.
- A mãe está de cama. Adoentada...
Esperou cada amigo arranjar uma mulher pra dançar. Cada um deles pagando uma dose absurdamente cara. Impaciente, cuidava o movimento nos bastidores do recinto. A única mulher séria, que não pediria dose estava lá dentro. Após algumas cervejas, foi até ela:
- Tua mãe não vem mesmo?
- Não. Não tava bem. - disse docemente.
- Que pena. Gostamos tanto dela. - disse ele, que já a conhecia.
- Quer ir lá em casa? Te levo lá.
- Capaz. Não vou incomodá-la.
- Imagina. Ela vai adorar te ver. É perto daqui. Te levo na caminhonete.
- Não. Vamos no meu carro então.
- Deixa que eu te levo. A caminhonete ta aqui na frente. E você já bebeu um pouco. Eu te levo.
Foram. Conversas triviais. Ele tentava parecer sóbrio. Não conseguiu. Ela foi simpática. Tinha boa conversa. Realmente era perto. Quando chegaram, ela desceu do carro. Ele ficou desenrolando a língua.
- Brrrrrrrrruu! Trrrrrrrrra! Prrrrrrrre! Labalalabalabla!
Não conseguiu. Tinha que falar alguma coisa, teria de ser simpático. Entrou. O filho da dona do puteiro tomava banho. Na sala, um amigo o esperava. A filha da dona do puteiro, o levou até o quarto. Lá estava a dona, deitada, assistindo um dessas novelas que todas as senhoras dignas assistem na Rede Globo.
- Olha só quem veio me visitar! - disse ela, demonstrando contentamento com a visita inesperada.
- Pois é! Já que a senhora não pode ir lá, eu vim até aqui saber notícias suas. - disse o bêbado Roger. - Na verdade, vim aqui por dois motivos: pra ver a senhora e pra pedir a mão da sua filha em casamento.
A filha da dona, que estava sentada ao pé da cama, envergonhada saiu do quarto. Foi a primeira vez em que Roger pensou em ter uma sogra assim. Seria diferente das outras que já teve. Roger não é dado a conversas, mas quando é necessário sabe ser simpático. Tratou de arranjar assuntos para mais conversas triviais. E ele odiava conversas triviais. Mas, era sua futura sogra. Tinha de ser simpático, querido.
Retornaram a zona do metrício. No caminho, mais conversar triviais. Tudo pra pegar a filha da dona do puteiro. E sem fazer distribuição de renda por meio de doses. Foi a única vez que pegou alguma mulher num puteiro. Também foi a última. E estava realizado, pois justamente havia pego a filha da dona do prostíbulo.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

as caronas

O período era a adolescência. O carro do pai, conduzia sem carteira. Voltinha perto de casa. Pouca experiência. Época boa aquela, que posto de gasolina era somente um local para freqüentar quando precisava encher os pneus da bicicleta.
Um carro, quatro lugares. Um motorista e três bancos vagos. Mulheres andando. Sozinhas, em duplas, em trios. Não era justo, elas poderiam estar cansadas, então Roger oferecia carona.
- Oi! Quer carona? - e apontava com o dedo indicador em frente. - Te levo. Não me custa nada.
Realmente para ele não custava nada. Já para o pai dele saia bem caro. Em alguns lugares do Brasil oferecer e aceitar carona é algo bem comum. Não era o caso da cidade do nosso amigo. Algumas não aceitavam. Faziam cara de auto-suficientes e saiam a caminhar.
- Tomara que chova! - pensava.
Aliás, poucas negaram carona quando os primeiros pingos começavam a cair. Pegou muitas assim. Outras fez amizade. Sempre é bom conhecer e ser conhecido. Fez poucas amizades caminhando. Agora de carro, ah, de carro fez muitas. Sentia-se mais bonito.
Agora o período é outro. Trabalhava, até. Soube que automóveis precisam de combustível, e que saía carro oferecer caronas por aí. Mas, tudo tem seu preço. As vezes usava o carro pra ir trabalhar. Saía de casa uma hora antes:
- Vai pro centro? - perguntava nos pontos de ônibus.
Pegou inúmeras assim. Fez mais amizades. E agora estava comendo mulher assim. Estava valendo a pena colaborar com a gasolina, mas ainda não fora dessa vez que descobrira que os impostos, tais como o IPVA, eram caros.
Uma vez passou de carro e havia uma mulher parada usando o telefone público, deste que quase não existem mais. Parou o carro do lado. Ofereceu o telefone celular emprestado.
- Não precisa. Já terminei. - disse a moça.
- Quem sabe uma carona então? - disse solícito.
- Não precisa. É perto.
- Não me custa nada. - disse o chato.
Ela aceitou, não pela carona. Era perto mesmo. A volta que ele deu procurando um lugar escuro naquela noite iluminada foi maior do que o trajeto da carona. Ficaram, obviamente. Nos amassos notou que a moça tinha um seio grande e outro pequeno. Ele disse-nos que não era essa diferença normal que quase toda mulher tem. Mas, ele contava que era demasiado exagerado. Um pequeno. Uma maçã pequena. O outro enorme, caído. Pensou que era devido a amamentação. Talvez seja. Li na internet que a medicina dá o nome de assimetria mamária. A medicina dá nome pra tudo.
Roger gostava de peitos. Pegou o pequeno com a mão esquerda. O grande com mão direta. Optou pelo grande, tal qual um bebê faminto, guloso. A partir daí descobriu que gostava muito de seios grandes.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

o pantufa

Talvez um cara alto não entenda do que estou falando. Mas, ser baixinho é um problema. Não sei se chega a ser um complexo, provavelmente seja, mas a altura atrapalhou demasiado nosso Roger na tentativa de pegar todas mulheres do mundo. Do alto dos seus 1,72cm medido no exército, mas aparentando 1,70cm, dizia ter 1,71cm e meio. No inverno gaúcho, com o Minuano presente, dizia ter 1,71cm, mas no verão, com a coluna devidamente ereta, crescia meio centímetro.
Vou explicar melhor. Quando um baixinho entra em uma festa, ele tem uma linha de “atuação”. Ele só tenta a aproximação nas mulheres mais baixas do que ele. E as mulheres usam salto alto!! O que diminui de forma desumana e cruel as possibilidades. Um cara alto, quando entra numa festa não tem essas restrições. Olha, de cima, e tem a possibilidade de pegar todas, basta que se faça interessante para as mulheres. Não é nada anormal um cara alto ficar com uma baixinha. Mas um baixinho com uma alta é raro. Infelizmente, diga-se de passagem.
Uma vez, talvez uma das poucas vezes em festa, o Roger pegou uma menina mais alta. Bem mais alta. Disse que ela o colocou na parede. Dali em diante, não enxergou mais nada, a festa ou as pessoas. A festa tinha acabado atrás daquela rapariga gigante. Ou começado, se é que me entendem. Simplesmente havia sumido no corpanzil e nos abraços da mulher alta.
- Alta e bonita! - frisava.
Se em festas tinha esse problema, teve de desenvolver outros métodos em outros locais. Na sala de aula ou trabalho, usava de outros atributos nada relacionados com o físico. Um bom papo, um pouco de charme, uma gracinha ali, outra acolá, e as altas gostavam do baixinho Roger. Ademais, escondido dos outros, dentro de casa, os critérios femininos são outros, e Roger procurava satisfazê-los. Auto denominava-se um pantufa. Algo que as mulheres só usavam dentro de casa.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

a guria do quinto andar

Criado em casa, Roger sempre certo fascínio por apartamentos. Quanto mais alto, melhor. Gostava da sensação de olhar de cima, de ver as pessoas pequeninas, como se fossem playmobis, tal qual os que brincou quando pequeno. Além disso, do alto, conseguia avistar outros apartamento e observar o que os outros faziam.
Lembro da época em que estudamos juntos, e do alto do prédio da faculdade enxergávamos um apartamento onde a moradora trocava de roupa com a janela aberta. Os homens olhavam para esquerda, com os olhos apontados para o corpo violão da moradora, que a distância era bonita. Na sala, na outra janela, os pais dela assistiam televisão. As colegas de aula olhavam para o professor ou professora, aparentemente prestando atenção na aula. Os mais ousados abanavam, mas a moça fingia que não sabia ser observada.
Roger sempre gostou de observar, desde cedo descobriu-se um voyer. Talvez por isso seja fã desses programas onde as pessoas ficam confinadas numa casa. Uma amiga lhe confessou uma vez que, interessada no vizinho de janela, do prédio ao lado, fez um cartaz, onde pintou seu nome e telefone e colocou no vidro da janela, para que o vizinho visse. Ele ligou e mantiveram contato por um bom tempo. Questão de atitude, e homens gostam de mulheres com atitude. Ele, até então, nunca tinha tido a oportunidade de aproximar-se de alguém que observara de longe.
Até que conheceu uma menina que morava no nono andar de um prédio. Da janela do nono andar, viu uma menina, do prédio ao lado. Ela morava no quinto andar, mas vivia na janela. Penteava-se na janela. Comia na janela. Escovava os dentes na janela. Olhava o movimento pela janela. Havia uma buzina qualquer na rua e ela espiava pela janela. Mas, como Roger andava acompanhando e entretido com a menina que morava no nono andar, nunca conseguiu uma troca de observações ou um abano qualquer. Até que um dia a menina do nono andar dormiu cedo, e o Roger ficou desperto, andando pelo apartamento. Resolveu comer uma pizza. Foi jantar na janela. Do outro lado da rua, no prédio em frente, no quinto andar, a menina também jantava. Jantaram os dois juntos, cada um numa janela, cada um no seu andar, cada um no seu prédio.
Entre uma mordida e outra, ele abanava. Ela então virava o rosto. Mas, só virava o rosto quando ele a abanava. Precisava de um binóculo para ver se ela o olhava. Ou de um laser point para chamar a atenção dela. Na dúvida, foi tentar dormir.
O tempo passou, e a menina do nono andar tornou-se uma amiga. Um dia, foi devolver um CD ou um DVD, não lembra. Ao sair do edifício, olha pra trás e vê, na janela, a menina do quarto andar, na janela. Ela gostava da janela. Resolveu ter atitude, resolveu arriscar. Voltou e parou diante do interfone. Seria o 401 ou o 402? Apertou os dois. Uma voz feminina atendeu:
- Quem é?
- Oi. É do 402? - pergunta Roger.
- Não. Aqui é o 401. - responde ela com uma voz rouca, de quem pega sereno na janela.
- Quem fala? - arrisca.
- É a Ana. Quem é?
Ana. Bonito nome. Simples, fácil. A voz era a da Ana Carolina. Não esqueceria mais. Disse que tinha apertado o número errado e foi embora, pra voltar noutra hora, com mais tempo.
Dias depois, passeando de carro, decide que era o grande dia. Passa de carro e espia pela janela. A luz acesa, mas Ana não estava na janela. Estaciona e espera. Troca a estação do rádio. Ouve uma música e aguarda. Ainda tinha 30 minutos disponíveis, antes de um outro encontro. Ana não aparece na janela. Duas músicas depois, desce do carro e vai até o interfone. Lembrava o nome da menina da janela, mas não lembrava o número do apartamento. Aperta os dois, um depois o outro. Atende um homem:
- Quem é? - pergunta ele, com uma voz afeminada, macia.
Roger não responde, apenas espera. Poderia ser o namorado dela, mas a voz dela é mais máscula do que a dele. Não combinariam namorando. Também não deveria ser irmão, porque irmãos com voz tão distinta é difícil. Se bem que ela passa o dia na janela...
- Quem é? - agora a pergunta é da menina da voz rouca.
- Ana? - pergunta Roger.
- Sim. Quem é?
- Bom... Meu nome é Roger. Eu moro no prédio amarelo, no nono andar. E... sei lá, te achei bonita de longe, queria ver de perto.
Atitude ele teve. Mas, quando se tem atitude o cara é atirado. Quando não tem atitude, o cara é tímido. E a Ana, da voz rouca, acabara de ficar muda.
- Ana? Você ta aí? - pergunta.
- Como tu sabes meu nome?
- Esses dias eu desci e perguntei no interfone. Disse que era engano...
- Vou descer.
Ela desceu. Era bonita. Magra. Se você fechasse os olhos não acreditaria que aquela voz aveludada saía daquele corpinho esbelto. Cursava faculdade, morava há pouco tempo na cidade. Trocaram algumas idéias e os 30 minutos passaram voando. Roger teve de ir, mas pediu para voltar outro dia. Ela disse que não teria problema.
- Te procuro então. - disse ele. Sem telefones, sem e-mails. O único contato seria através do interfone.
Dias depois ele voltou. Um fardo de cerveja, bem gelada. Aperta os dois números do interfone. Ela atende.
- Quem é?
- O Roger.
- Tu sumiu. Não te vejo no nono andar, só vejo uma menina lá. - entrega-se a observadora.
- Me mudei. - mente.
- Quando?
- Dias atrás. Trouxe umas cervejas. Quer? - pergunta para mudar de assunto.
- Peraí que vou descer.
Depois das três latas de cerveja que cada um bebeu, ela o convida pra subir:
- Vamos subir. Tenho mais cerveja lá em cima.
E bebem mais algumas cervejas, escorados no para-peito da janela, olhando o movimento. A vista era legal do quarto andar. As pessoas ficavam mais próximas e maiores, o barulho era maior. E ali, na janela, beijam-se pela primeira vez. E naquele quarto, com a janela aberta, transam pela primeira e única vez. Adormecem com a brisa que vinha da rua.
- Bom dia. - diz ela com a voz mais grossa ainda.
- Que horas são? - pergunta ele, ainda com os olhos fechados.
- 7 horas. Tens que ir. Meu namorado está chegando.
- Namorado? - pergunta ele, já com os olhos bem abertos.
- Pois é. Não te falei. Tenho namorado. Vou noivar final do ano. Vou buscar ele na rodoviária daqui há pouco.
Roger foi embora. Foi usado pela menina carente, que fazia tudo na janela, da voz grossa, que ficava observando a tudo e a todos. Ao menos com essa, Roger jantou, mesmo que a distância, antes de ir pra cama.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

pontos corridos

Vou falar de futebol. É a minha opinião. Nada mais do que isso. Mas, o futebol brasileiro está muito chato. Enfadonho, comprido. Gosto da emoção do mata-mata. Copa do Brasil é muito mais emocionante do que o Campeonato Brasileiro. E copiaram o formalismo dos chatos campeonatos Europeus, onde os mesmos e mais ricos ganham sempre.
Quero um campeonato organizado, mas com jogos de ida e volta no final. Daria certo também, e seria mais emocionante. Não é justo comparar o campeonato de hoje com os campeonatos desorganizados do passado. Campeonato tem que ter final. Se não é campeonato de corrida de carro. Lembro de todas finais de campeonato brasileiro desde que comecei a acompanhar futebol. Fui em uma. Lembro da agitação, das capas do jornal, do helicóptero sobrevoando o estádio, lembro das escalações. Dos campeonatos de pontos corridos, não sei quem foi campeão. Não me atraí.
Penso que um campeonato assim é uma estrada sem curvas. Você dirige por horas na reta. Não troca marchas, não faz nada. Só espera o tempo da viagem. Sua única emoção é coçar o pé no pedal. Chato. Dá sono. Um campeonato assim é uma foda sem graça. E futebol e fodas sem graça são assim mesmo, pode ser ruim, mas você participa, acompanha. Melhor do que não foder e do que não ter futebol. Não sou contra copiar. Acho interessante copiar idéias de organização dos campeonatos Europeus. Mas, não precisamos acabar com o mata-mata.
Lembro do Filme Carlota Joaquina, onde na chegada da espanhola ao Brasil, usando um lenço sobre a cabeça devido aos piolhos adquiridos na viagem, causou certo alvoroço e moda no Rio de Janeiro, onde as mulheres começaram a usar tal acessório sobre os cabelos. Recentemente copiamos o Halloween, da cultura Americana. E agora os campeonatos enfadonhos, intermináveis e chatos dos europeus cintura dura. Macaquisse pura!!
Nós, brasileiros, já fomos influenciados. Gostávamos mais de bunda. Quadril. Corpão violão. Daí, nos adaptamos a Hollywood, e hoje gostamos de seios. Seios grandes, fartos, daqueles que os americanos adoram. Daí surgiu a mulher melancia. Bunda grande, perna grossa, seios fartos. Chega a ser feia de tão gostosa. Feia, mas todo homem comeria. E bem melhor do que esse campeonato de pontos corridos, que ficou bem ruim de encarar.