terça-feira, 11 de janeiro de 2011

o corno labrador

Conheço um cara que foi corno. Na verdade, conheço vários, mas esse tem uma peculiaridade especial: foi traído por um grupo de amigos. Não amigos dele, mas quatro amigos meus, colegas de faculdade. As mulheres traidoras e sem um pingo de piedade não foram as mesmas, o que não diminui a mansidão do traído.
Foram vários casos, que explano rapidamente. O mais grave era conhecido do corno, mas sucumbiu as belas pernas da traidora. Não tinha amizade, mas o cumprimentava e sabia o seu nome. Os outros amigos, cometeram adultério com uma outra namorada do corno, o que prova a sua grande capacidade de atrair um par de chifre. O cornudo tinha bom gosto, já que todas as três namoradas infiéis eram espetaculares.
Quando o quarto amigo em comum conseguiu ficar com a mais bonita bixo da faculdade, num churrasco de confraternização, ninguém imaginava que ela namorava o bendito, que assim, colecionava o quarto chapéu dentre aqueles colegas de faculdade. Durante a semana que seguiu o acontecido, lá estava ele, acompanhando a nova universitária até a porta da faculdade. De mãos dadas com ela, e na outra mão, uma corrente que terminava na coleira envolta no pescoço do labrador. O labrador é um bom amigo, cachorro manso, no caso, tal qual o dono. E todos os dias da semana a tardinha, chegava o corno, a bixo e o labrador.
Pois bem, a situação pouco peculiar se deu no estádio Bento Freitas, num jogo amistoso do Brasil de Pelotas. Sabem esses jogos promocionais, onde o novo patrocinador divulga sua marca? Pois adivinhem quem carregava um saco de estopa, lotado de camisetas do patrocinador? O corno labrador. Subiu a porta do vestiário em direção ao gramado acompanhado de duas modelos, que de metro em metro retiravam camisetas do saco de estopa e atiravam com delicadeza sobre os alambrados do estádio. Para delírio da torcida Xavante, fizeram uma volta olímpica, distribuindo os brindes promocionais. Aquela multidão corria e se atirava na tentativa de alcançar as camisetas. E quando chegaram em frente ao lugar onde eu estava, as camisetas que já haviam rareado, definitivamente acabaram, poucos metros antes dos 360° completos.
As modelos ergueram os braços, e espalmaram as mãos para o céu, num gestual de quem explica que algo acabou. Fizeram beicinho e tudo, lindas que eram. Ele abriu o saco e mostrou que estava vazio, e com o indicador positivando para baixo, demonstrou que não haviam mais brindes no vestiário. A torcida que estava em pé, assistindo a toda a volta olímpica e aguardando ansiosamente a oportunidade de levar uma camiseta pra casa, imediatamente começou a gritar:
- Cooorno! Cooorno!
Envergonhado e sabedor da verdade, não gritei. Me sentei na arquibancada e aguardei o início da partida. Corno todos podemos ser, faz parte. Mas, ter um estádio cheio gritando uma verdade dolorosa que nem essa, tendo sido traído por colegas da mesma sala de aula, é uma peculiaridade para poucos.

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