terça-feira, 12 de outubro de 2010

o meu mundo utópico

No meu mundo utópico, não há proibições. Não se faz necessário criar regras ou leis proibindo algo. Isso porque no meu mundo utópico as pessoas se respeitam tanto que escrever leis é desnecessário. Rasgamos a nossa Constituição!
Por isso, no meu mundo, foi liberado o uso da maconha. Eu nem fumo, embora tenha pra vender ali na esquina. Também não me importo com isso, eis que quem fuma não me incomoda com seus devaneios e sua fumaça. Eles não fumam em locais fechados, embora a lei anti fumo tenha sido revogada, pois no meu mundo utópico, os fumantes sabem que a fumaça incomoda aos outros.
O governo desse meu mundo, manteve poucas leis, totalmente desnecessárias, grifo eu. O tal Código de Trânsito, estudamos na escola, e nos basta para que nos tornemos todos condutores gentis, cordiais, e todos os motoristas cumprem a sinalização que orienta o fluxo e a prioridade do trânsito é a vida. Arquivamos o antigo Código de Trânsito! Esses dias tivemos um desentendimento, após uma colisão entre dois veículos.
- A culpa foi minha, desculpe. - disse um condutor.
- Negativo! Quem errou fui eu. Eu pago tudo! - disse o outro.
Aliás, o governo é uma mera formalidade, uma exigência da ONU, talvez. O voto não é obrigatório. Aliás, nada é obrigatório. Ficou em desuso obrigar alguém a fazer alguma coisa. Mesmo assim, quase todos votam, pois somos um povo politizado. Os próprios candidatos são muito preparados. Políticos corruptos são coisa do passado. Eles assumem o cargo por interesse em participar desse mundo utópico. O grande desafio deles é melhorá-lo. Esses tempos um palhaço se candidatou a deputado, coitado. Voltou pro circo.
Não há poluição visual, já que ninguém comprava em lugares que poluíam. Também não há poluição sonora, cada um escuta a sua música sem atrapalhar a música do outro. E a jogatina? Liberada, óbvio. Gerou empregos, impostos que são convertidos em melhorias para a população e lucros para o turismo. Antes, íamos apostar em cassinos de países vizinhos, nos divertíamos no exterior, uma evasão de divisas desnecessária. Todos sabem que são jogos de azar, mas não vamos para enriquecer, mas sim para nos divertir. Gostamos de perder moedas em caça-níqueis. É um direito nosso.
No futebol, não há brigas de torcidas. Quem ganha vibra, pula. Quem perde, dá risada, afinal é apenas futebol, um esporte. O casamento de homossexuais é permitido, obviamente, já que não temos preconceitos nem restrições.
Mas, falo do meu mundo utópico, pois esses dias estive no Brasil. Lá no Brasil, percebi um alvoroço. Falavam sobre o aborto. Época de eleição, imprensa agitada, e o aborto era o assunto. Na verdade, não era o aborto o assunto. O assunto era a religião: o olhar da religião sobre o aborto. Propaganda eleitoral, capas de revistas, sites na internet, todos só falavam nisso.
Então resolvi comentar aqui, o que se passa no meu mundo utópico. Lá, as mulheres se reuniram e decidiram. Nós homens só acatamos. Homem não tem útero, não tem ovário, não menstrua, então não tinha direito a voto. O Estado é laico, então não sofreu influência religiosa. Lá, prevaleceram os interesses da mulher. Algumas são religiosas e entendem que o aborto como a morte de um feto. Mas, elas respeitam as opiniões contrárias. Outras mulheres não compartilham das mesmas idéias. Por isso, criamos clínicas modernas, que visam atender as mulheres que optam fazer o aborto, com médicos capacitados. Desde a maioria decidiu pela livre escolha, não morreram mais mulheres em ocorrências abortivas. O governo deu a liberdade para as mulheres e suas famílias escolherem o que quiserem, por que não cabia mais ao governo impor o futuro das mulheres. De uns tempos pra cá, a clínica anda vazia. A recepcionista me disse que não lembra quando foi feito o último aborto. Também, pudera, não há estupros, não há filhos não planejados. Acho que não saio tão cedo do meu mundo imaginário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário