terça-feira, 1 de junho de 2010

homem de confiança

O Roger era daqueles caras que entrava num lugar e ganhava a simpatia de todos. Não tinha inimigos, estava sempre de bom humor, rindo de tudo, brincando com todos. Simpático como poucos. Tenho certeza que se um dia eu chegasse em casa, cansado do trabalho, e o visse sentando na minha sala, assistindo televisão e segurando o meu controle remoto, zapeando nos canais de esportes, e a ele fosse apresentado como sogro, ficaria orgulhoso, seguro que a minha filha teria feito uma boa escolha. Cara camarada, conversador, inteligente, culto e com um humor refinado. A noite, comentaria com a patroa:
- Acho que agora a fulaninha fez uma boa escolha, né? - diria convicto que meu genro Roger seria um marido e um bom pai.
Lego engano, caros leitores. Ainda bem que não tenho filhas. Diferente de mim, Roger não era fiel. Muito pelo contrário, era um aventureiro nato. Sempre que podia, dava uma escapada. As namoradas, claro, não mereciam. Se desconfiavam, faziam tal qual a maioria das mulheres, tapando o sol com a peneira.
- Roger, essas são as chaves da casa. Essa é a do portão. Vem cá... Essa é a senha do alarme. A chave do carro fica escondida aqui. A casa é tua, pode usar, dormir aqui. Só alimenta o Bethoven e troca a água dele. - disse o sogro, antes de partir em viagem no feriadão.
- Não vou usar nada não, mas venho aqui cuidar dele. - falou como um bom moço.
Desta vez ficou sensibilizado. A família toda da namorada iria passar uns dias em viagem. Deixaram ele como responsável pela casa, para acender luz, apagar luz e cuidar do cachorro de estimação da família. Disse que desta vez, não iria aprontar. Ao menos na casa que estava sob sua responsabilidade.
No dia seguinte ao da viagem, pode finalmente, reencontrar uma velha amiga, que queria uma tarde de sexo. Eram muito novos quando transaram pela primeira vez, ambos inexperientes. O tempo havia passado, ela crescido de forma curvilínea. Tarde boa, de sexo. Mulher boa, de sexo. Saiu da casa dela e resolveu que durante o resto do tempo, até o retorno da amada, andaria nos trilhos.
A noite, uma festa de formatura. Andava de cabisbaixo, evitando cruzar olhares com aquelas mulheres maravilhosas que estavam na festa. E mulheres ficam lindas usando vestidos longos. Até mesmo as que não são lindas.
- Roger, minha amiga quer ficar contigo.
O trem havia descarrilhado. Não queria, não podia, mas a oportunidade surgiu. Como pode acontecer isso? Não olhou para ninguém, queria ser sério àquela noite, já que naquela tarde não havia sido.
- Quem é ela?
- Aquela!. - disse a amiga apontando com os olhos.
A casa caiu mesmo. Linda, gostosa, perfeita. “Agora fudeu!”, pensou. “Fico ou não fico? Fico ou não fico? Vou ficar.”
Ficaram e ele a levou para casa. Não para a dele, que morava longe e com os pais. Levou para casa do sogro, que morava perto e que não estava em casa. Na sala, muitas fotos. Fotos do sogro, da sogra, da namorada e do resto da família.
- De quem é essa casa? - perguntou a moça enquanto olhava os retratos.
- De um amigo. Eu cuido quando eles viajam.
E ali, na sala, sob olhares incrédulos da família toda, transou com a moça gostosa. Exausto de uma tarde de sexo, e envergonhado dos olhares que vinham dos porta-retratos.

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