sábado, 12 de março de 2011

as sandálias

- Sim, eu aceito!
Foi essa frase que mudou a vida do Roger. Depois que disse o temido “sim” em cima do altar,na frente do padre, sabia que daria por encerrada as noitadas e as fanfarras que havia vivido intensamente. Surubas então, jamais. Pensou muito pouco antes de casar, já que sempre que havia pensado, acabava ficando solteiro. Anos solteiro e iria casar com uma mulher que conhecia há poucos dias. Conheceu a esposa num dia, teve dificuldades de chegar aos “finalmentes“, mas no outro dia estava noivo, prometendo casamento. E acabaram marcando a data dias depois, sem muitas delongas. Afinal, era uma mulher bem linda, bastante inteligente, bem humorada, bem sucedida. Diante de tantos ‘bens’, pediu a sua mão em casamento, depois da primeira taça de vinho branco seco, durante um jantar na casa dos pais dela.
Esse momento não foi planejado. O período que seguiu foi difícil. As poucos as pessoas iam recebendo os convites. O seu Facebook recebeu mais acessos que esse blog. Bem, isso não conta. Os amigos riam, debochavam, incrédulos que estavam. Dizem que todos os convidados do Roger exclamam um sonoro “Não a-cre-di-to!”, quando abriam o convite. Era um caso perdido. O casamento seria um milagre. Até que o padre grisalho perguntou se ele aceitava na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza:
- Sim, eu aceito.
Foi o que pensava enquanto levava a sogra de carro ao hospital meses depois. É preciso que se diga que Roger foi fiel na lua de mel. Depois da lua de mel fracassou uma vez. Ficou envergonhado, não conseguiu dormir a noite. Depois caiu em tentação de novo, mas aí dormiu feito um bezerro bem alimentado. Nunca mais perdeu o sono. Nunca mais perdeu uma oportunidade. Nunca mais foi fiel. Tinha sido assim na noite anterior. E agora pela manhã, a mulher viajando a trabalho, o sogro jaz no cemitério e a sogra prestes a morrer no banco traseiro. Mal conseguia manter-se acordado e, bastante embriagado, ainda teria que dirigir até o hospital com a sogra, que a esta altura gemia de dor.
Entre uma ultrapassagem e outra lembrava da negra linda que havia traçado naquela noite. Pensava que tinha que conhecer mais negras, frequentar mais ensaios da General Telles. Foi quando teve de frear bruscamente, para desespero da sogra enferma, que grunhia de dor. Na freada, percebeu que um calçado rolou no assoalho do carro. Olhou embaixo do banco do carona e viu um par de sandálias pretas.
- Putz! - rosnou batendo com a mão na testa.
- O que foi? - perguntou a sogra.
- Nada não sogrinha. Estamos chegando...
A negra exuberante havia esquecido as sandálias, pensou. Disfarçadamente, agachou-se, esticou o braço, catou o par de sandálias e não teve dúvidas. Abriu a janela e jogou na estrada.
- Chegamos! Vou conseguir uma maca pra senhora. - disse o Roger.
Quando voltou com dois enfermeiros e uma maca a sogra perguntou:
- Ô Roger! Tu não viu minhas sandálias? Tenho certeza que vim com elas.

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