quinta-feira, 7 de abril de 2011

turismo social

Quando retornava do Resort do Costão do Santinho, vinha lembrando das teorias que estudei na faculdade. Na faculdade, havia uma crítica dos teóricos ao que chamavam de “bolha turística”. A grosso modo, era uma crítica ao turismo que não engloba as comunidades no qual estão inseridas, quando não há uma interação dos atores envolvidos.
Exemplificando, trata-se de lugares como os resorts, onde o turista sequer tem contato com os nativos do local. Obviamente, não conta a relação profissional entre turistas e funcionários do hotel, que é uma relação meramente capitalista relacionada à força de trabalho, diga-se de passagem, sempre mal remunerada. É uma questão que norteou muitos trabalhos e avaliações no período de faculdade, mas que somente agora, por um acaso do destino, pude ter noção exata do que se trata.
De fato, um turista que se hospeda num resort não faz idéia da história do local em que está visitando, tampouco conhece a cultura local, a menos que saia a procurar, o que é improvável, pois isso não fica ao redor das piscinas.
O Resort que visitei, tem seus méritos, no que tange a questão. Há uma área de preservação ambiental e arqueológica, com destaque para as inscrições rupestres, feitas pelos manézinhos da ilha a 5.000 anos atrás. Também li que 98% dos dejetos são tratados, e que os resíduos são reciclados. Ademais, a empresa já recebeu certificados devido a sua gestão socioambiental. Mas, quem procura por essas informações? Até que ponto nós hóspedes estávamos realmente preocupados com isso? Se a sociedade está preocupada com as questões ambientais e culturais, por que sites que “vendem” o Resort não citam estas questões?
Evidentemente, ficar hospedado num lugar mágico como o Resort, que une a natureza com o luxo e a riqueza inventada pelo homem, nos faz esquecer os problemas, perder a noção de tempo e de todo o resto. Não havia preocupação com o trabalho, ou com a pobreza do nosso País, tampouco com os 2% de dejetos que estavam sendo lançados no oceano. Assim como o cocô, nossos problemas se diluíam num mar de felicidade em torno da piscina, dentro da banheira de hidromassagem ou numa das cinco quadras de tênis.
Mesmo que o lucro da empresa pese negativamente em nossa balança comercial em direção à Europa, mesmo que eu tenha passado um final de semana dentro de uma “bolha”, confesso: cedi às tentações do capitalismo selvagem, e tão logo fiz o check-out, percebi uma depressão me acompanhando de volta pra casa. Preferia ter ficado amarrado ao pé da cama King Size.

O autor é formado em Turismo, na Universidade Federal de Pelotas, mas a vida lhe deu uma rasteira e hoje é bancário/economiário. Se era para ganhar pouco, que fosse fazendo o bem para as pessoas e para si mesmo...

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