segunda-feira, 23 de abril de 2012

putaria escrita (vulgo contos eróticos)

Sempre quis agradecer a pessoa que deixou um encarte com classificados e contos da saudosa revista Ele & Ela, intitulados como Fórum, na rodoviária de Porto Alegre durante as férias escolares de 1989. Foi-me de muita valia conhecer o mundo da putaria através desse “presente” que achei enquanto esperava o ônibus que me levaria de volta pra casa.
Talvez quem deixou sem querer ou esqueceu intencionalmente aqueles contos eróticos não imaginava que um guri de 9 anos encontraria os papéis. Mas, saiba que aquelas histórias mudaram a minha vida.
Durante a viagem, sentado ao lado da janela, não pude folhear tais folhas, o que me deixou com a curiosidade mais aguçada. Não era comum um piá com nove anos ter acesso ao sexo no final dos anos 80. Foi a viagem mais longa da minha vida, embora tenha durado apenas 3 horas.
Talvez as histórias narradas pelo leitores tenham me influenciado, mais até do que a estimada coleção vagalume. Ali realmente tomei gosto pela leitura. Lia e relia, não queria parar de ler. Até que com as folhas amassadas e redobradas decidi que era a minha vez de mudar a vida de alguém. E lembrei de uma vizinha minha, a quem eu tinha prestado certas homenagens manuais.
Imaginei que ela estava cansada daquela vida pacata, onde as maiores aventuras eram as aulas de educação física no colegial. Onde os maiores problemas eram as notas abaixo de 9 que constavam no boletim escolar. Acreditei que ela precisava sair dessa rotina de provas e temas escolares. E dois anos depois estava pé por pé jogando o encarte da revista na janela do quarto da vizinha de vida insossa. Como não pude me aproximar da janela do seu quarto, me debrucei sobre o murou e atirei o chumaço de papel. As folhas voaram e bateram no peitoril da janela e fazendo uma pirueta caíram no pátio. Correi e me escondi nos arbustos. O que fazer?, pensei. Resolvi apertar a campainha, mesmo sem saber se era o certo a fazer, afinal eu só tinha 11 anos.
Foi quando a mãe da menina, vestindo um roupão rosa desbotado abriu a porta. Ela olhou para um lado, olhou para outro e curiosa foi em direção a janela. Agachou-se e pegou o encarte. Leu. Olhou para os lados. E guardou os escritos dentro do roupão, correndo para dentro de casa, com aquele olhar parecido com o que eu devia ter tido há dois anos atrás, na rodoviária de Porto Alegre. Difíceis aqueles tempos sem internet. Missão cumprida. Havia feito alguém feliz.

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