quinta-feira, 8 de outubro de 2009

a embaixatriz

Numa certa época, o Roger tinha de viajar bastante. Viajava a trabalho, viajava a passeio. Gostava de viajar. Era uma boa oportunidade de conhecer novas mulheres, afinal, por vezes um esbarrão na perna ou um papo qualquer poderia ser uma nova oportunidade.
Ocorre que andava chateado, desmotivado, resmungando pelos cantos que sempre tinha ao seu lado um homem. Toda viagem, um homem na poltrona ao lado. Tinha uma teoria, que por visto não estava dando certo. Sempre que comprava a passagem, escolhia um assento no corredor, nem tão ao fundo, tampouco bem a frente. Dizia que a frente era ocupada pelas senhoras, e o fundo por homens. Afirmava que as mulheres preferiam a janela, logo, tinha mais chances de ter a seu lado uma mulher quando estivesse sentado no corredor e no meio do ônibus. Uma teoria furada, de certo, visto que, até então, nunca tinha dado certo.
Numa dessas viagens, mais especificamente no retorno, bastante desmotivado comprou a passagem, já em cima do horário:
- Me vê uma passagem pra Pelotas?
- Tenho só corredor. - disse a moça que trabalhava num domingo, as 9 horas da noite!
- Melhor. Pode ser a poltrona 24. - pediu enquanto olhava na tela preto e branco do monitor.
Foi em direção ao embarque. Comprou uma água, como sempre. Carregava apenas uma bolsa de mão, já que passara apenas um final de semana na capital. Antes de subir no ônibus, sacou um livro que estava lendo sem parar desde o embarque. Lia um livro do Marcos Rey, chamado O Gigolô. O Marcos Rey é aquele mesmo da Coleção Vagalume. E o livro nós recomendamos.
Embarcou e acomodou a bolsa no compartimento superior, sentou na sua poltrona com a água mineral em uma mão e o livro na outra. Faltavam dez minutos para o embarque. Subiu uma moça linda, mas sentou nas primeiras poltronas. Outra, mas sentou um pouco mais atrás. Faltavam cinco minutos. A possibilidade de sentar ao lado de uma gata solteira e disponível ao seu lado era menor do que viajar sozinho. Quase na hora, sobe uma menina, moletom amarelo com um fecho e um capuz. Baixinha, mas bem interessante de corpo. Era a chance. Atrás dela sobre um rapaz. Bem novo, mas desses que crescem demais e chegam a 1,80cm com muita facilidade. Ela sentou no meio do ônibus, na janela, só que do lado esquerdo. O longínquo rapaz, na janela, no meio do ônibus, ao lado do Roger.
Nem tudo estava perdido, já que o livro é muito bom. Acendeu a luz, direcionou ao livro e começou a ler, mesmo antes de sair da rodoviária. Leu tanto que somente duas horas depois, no município de Cristal, resolveu parar de ler. Não tinha sono, mas já não consegui agüentar a luz fraca no ônibus. Apertado, mesmo no corredor, resolveu ir no banheiro, mais para tentar enganar o tempo do que para utilizá-lo. Resolveu mijar. É legal, para nós homens, urinar nos WC dos ônibus. Os espelhos são enormes. Nem sempre temos a oportunidade de mijar em frente a um espelho. Não tinha água pra lavar as mãos. Nunca lava as mãos depois de mijar, mas precisava ganhar tempo, faltava pouco mais de uma hora. Aliás, eu acredito que meu pau seja tão limpo que eu deveria lavar as mãos antes de segurá-lo, e não depois.
Retornou à poltrona. O rapaz gigante estava mais acomodado ainda. Pegou a bolsa, guardou o livro e a deixou nos seus pés. Olhou para o lado esquerdo e percebeu que a mocinha do moletom amarelo acordou e o fitou nos olhos. Parecia ser a única acordada naquela hora. Procurou uma caneta e um papel. Achou uma folha de papel A4, com algumas instruções do trabalho. Mexeu no bolso do lado esquerdo e no bolso do lado direito. Nada. No meio das roupas, sob as roupas, e nada. Não tinha caneta. Olhou para a baixinha do moletom amarelo e perguntou gesticulando se ela tinha uma caneta. Ela respondeu fazendo sinal negativo com a cabeça. Voltou a procurar na bolsa, na certeza que uma vez teve uma caneta na bolsa. Não tinha. Antes de apagar a luz, olha pra moça que parecia digitar uma mensagem no celular e percebe o quão bonita é seu rosto. Apaga a luz e olha sobre seu ombro esquerdo e vê pela luz do telefone celular dela que ela correspondia aos olhares. Percebe a luz do celular se aproximando, vira a cabeça, recebe o telefone móvel e lê o que ela havia escrito na caixa de texto do celular:
- Se ñ tem caneta vai p aki msm.
Tem vezes que o cara lá cima olha pra gente e diz: Vai! Agora quero te ver! Tudo contigo!!
Depois de quilômetros e mais quilômetros, sentado ao lado de bebuns, de homens altos e de senhoras casadas e fiéis, nosso intrépido leitor consegue conversar com alguém. Uma menina bonita, por sinal, e que não estava ao seu lado. Respondeu a mensagem antes de devolver o telefone:
- Oi. Estou s/ sono. Queria conversar. Qual seu nome?
Conversaram assim, digitando mensagens. Recebiam a mensagem, apagavam e respondiam. Digitavam e esperavam a luz da tela do celular apagar antes de devolver o celular, para não atrapalhar a senhora que estava no corredor, entre eles. Acabou a bateria de um celular, mas ela tinha outro. Mesmo tentando não atrapalhar a passageira, a acordaram. Incomodada com a luz do celular, ela perguntou a menina de amarelo se ela queria trocar de lugar. Assim o fizeram e os dois puderam conversar cochichando na meia hora final de viagem.
Dentre outras coisas, soube que ela estava vindo de Porto Alegre, onde tinha acabado de terminar um namoro. Muito simpática, falava bastante, o que não chega a ser uma novidade para uma mulher. Aos 19 anos, apenas estudava. De pais separados, era sustentada pelo pai, que a iria buscá-la na rodoviária. O beijo, que tornaria essa história mais interessante, não aconteceu.
Lembrava da história de um colega que pediu uma camisinha emprestada e não conseguiu transar com a menina. Meia hora depois voltou com a camisinha em punho dizendo que tentou em vão e o Roger dizia:
- Mente que comeu! Mente que comeu, mas não me devolve a camisinha.
Mas, não houve o beijo no ônibus, o Roger não mente. Apenas trocaram telefones. Noutro dia, marcaram de se encontrar. Ela o esperou na saída do trabalho. Estava linda. Um beijo gostoso, molhado. Ficaram no apartamento dele. Lá ele a observou como não tinha feito no ônibus. Baixinha mesmo, mas com um problema. Lordose! Alguém já viu uma mulher com lordose? Uma mulher gostosa, sabe? Curvilínea. Uma curva acentuada, com o triângulo de furinhos nas costas, chamados de EIPS (Espinha Ilíaca Postero-Superior). Postero-superior... Uma maravilha! Tem gente que chama de 'olhinhos de bad boy', outros de Triângulo de Michaelis. Essa mulherada tem cada coisa!
Por que embaixatriz? Ela, ao lado do nome dele, na agenda do telefone celular, escreveu Embaixador, que é o nome da empresa de ônibus que faz a linha Porto Alegre-Pelotas. Sexo? Não houve! Infelizmente não houve, o Roger não mente. Aliás, ela foi a mulher mais gostosa que ele não comeu!! Lordose e furinho nas costas? Toda mulher deveria ter. Ah, deveria...

Um comentário:

  1. Queria ter escrito no livro isso, mas ja que "sisqueci" escrevo aqui...
    Adoro esse conto, já te disse que é meu preferido né? Não sei se pela dose de romantismo, pelo trama ou pelo simples fato do Roger "não ter pego", hiuhaiuahia!!

    Adoro!!

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