segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

o odor

Roger é um mortal. Um mortal como outro qualquer. Já fracassou. Mas, teve suas justificativas. Conta que conheceu uma menina. Era bonita, interessante, meiga. Ficaram algumas vezes. Sexo é que era o problema. Mulher difícil, enrolada.
Conta sobre uma vez, no carro. Amassos, arretos e coisa e tal. Sexo que é bom, nada. Cansou de insistir. A deixou em casa, bravo, injuriado. Além do tesão notório, a mulher bonita e enrolada fedia. Sim, fedia de ser mau cheirosa. E não era esse mau cheiro gostoso de buceta. Era algo que nunca havia visto. Imaginou que era falta de banho. Afirmava que saiu de onde estavam, a levou pra casa, seguiu ao bairro onde morava, cerca de quinze minutos, até encontrar um amigo:
- Tchê! Vem cá! Cheira dentro do carro. - pediu.
Para confirmar sua mentira, diz que o vizinho perguntou:
- O quê!! Foi pescar?
Era algo sério o que havia com aquela menina bonita. Fedorenta que chegava a cheirar a peixe, tipo bacalhau. Um odor insuportável. Disse ao amigo sobre a menina e ainda explicou:
- Vim com as mãos pra fora da janela, pra ver se o cheiro saia. Abri os quatro vidros do auto pra ver se o cheiro amenizava. E nada. Impregnou!
Lembrou de uma outra ocasião, quando dera carona a uma outra menina, no mesmo carro. Ela havia tomado banho na praia do Laranjal, praia de água doce da cidade de Pelotas, cuja água sempre foi palco de coliformes fecais. Trouxe do Laranjal ao centro. Beijos de despedida e depois levou o veículo a um posto de combustíveis para trocar o óleo. Óleo e filtro, como ordenara o seu pai. Enquanto aguardava sentiu um cheiro ruim. Cheiro a esgoto. Lembrou da menina e colou o nariz no banco do carona, tal qual um cão farejador, imaginando que algum resíduo sólido tivesse advindo das águas pouco cristalinas da Laguna do Patos através do corpo da menina. Por sorte, o banco estava limpo. Soltou o freio de mão até que o veículo descesse a rampa e deixasse para trás a caixa de esgoto que havia no posto e que estava trazendo o cheiro desagradável para dentro do veículo.
Mas, Roger não deu-se por vencido e insistiu com aquela menina fedida até que houvesse sexo. Era questão de honra. Marcou um encontro num sábado de janeiro, à tarde, no local onde ela trabalhava. Ela estaria só, e lá deixaria para trás toda a frescura que havia tido até então. No meio da tarde quente, chegou ao local combinado. O local era envidraçado. Qualquer pessoa que passasse pela frente do estabelecimento comercial poderia ver, exceto se fossem pro banheiro.
- Vamos pro banheiro. Caso o meu chefe chegue aí, eu digo que tranquei a porta para ir no banheiro. - disse ela de caso pensado.
A frase não o deixou mais tranqüilo, eis que o banheiro era minúsculo. Azar! Precisava colocar seu pau dentro daquela mulher de qualquer jeito. Suava mesmo antes de entrar no banheiro apertado. Tão apertado que a pia ficava na parte de fora. O banheiro tinha menos de um metro quadrado. A basculante era minúscula e para completar estava emperrada e abria somente uma pequena fresta, por onde soprava um vento quente e úmido, tal qual os verões de Pelotas.
Ainda sim, tudo ia bem. Ele escorado na porta, ela de costas, ajoelhada sobre a tampa do vaso sanitário. Os pingos de suor caiam da testa diretamente nas costas da menina bonita. Mas, ela cansou dessa posição. Quis trocar. Sentou no vaso, com as pernas abertas e arqueadas em direção a ele. Ele só teve uns três segundo para perceber que ela era linda, mesmo suando a raiz dos cabelos. Depois, aspirou o odor. Três segundos foi o tempo em que o cérebro processou o odor. A partir daí, brochou. Não houve jeito. Culpou o calor, a janela que não abria, o suor que escorria.
Foi a primeira brochada. Não sabia bem como lidar com a situação, tampouco o que falar. Mas, estava tranqüilo. Não conseguiria fazer sexo naquelas condições. A menos que estivessem deitados sobre uma rede de pesca ou sobre uma banca de peixes. Esperou mais algum tempo e foi pra casa. Não disse que iriam transar novamente, não sabia se teria coragem. A viu mais umas duas ou três vezes. Na última, ela estava acompanhada, talvez namorando.
Teve certeza que não era falta de banho pois ela era quase toda cheirosa. A não ser que ela tomasse banho e lavasse a vagina com caldo de bacalhau, o que é bastante improvável. Provavelmente seria alguma bactéria, dessas que os ginecologistas explicam melhor do que eu. Talvez a menina bonita estivesse curada. Ou então, o namorado poderia ter sinusite aguda e não percebesse o cheiro ruim.
Anos mais tarde, encontrou um grande amigo. Conversa vai, conversa vem e falaram da menina bonita. Meio desconcertado, Roger comentou nas entrelinhas sobre algum problema que havia tido com a menina. O amigo fez questão de ouvir as entrelinhas, já que também havia tido problemas com a mesma menina bonita. Resumidamente, os dois haviam brochado com a menina. Roger contou sua história. O amigo contou a sua versão:
- Era inverno. Começamos em baixo das cobertas. Até que esquentou o negócio. Quando eu tirei as cobertas senti o cheiro. Era muito forte, nunca tinha visto algo assim. Brochei.
Eu nunca tinha visto dos homens felizes por terem brochado. Abraçaram-se na festa, emocionados. Mais do que isso, aliviados. Pareciam curados de uma doença incurável. Parecia que não se viam há anos. Mas, apenas estavam satisfeitos que o problema não era com eles, e sim com a menina bonita, coitada.

Um comentário:

  1. é... literalmente, beleza não é tudo, tem que ser limpinha kkkkkkkkkk

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