domingo, 24 de abril de 2011

ficar

Percebi que estou ficando velhaco. Cara, sou do século passado, nasci em 1980! Quase geração xis. Já vi e ouvi muitas coisas. Já andei de Opala, já gravei fita cassete (direto da rádio, e ficava puto quando o locutor estragava a música no final citando o nome da rádio), já brinquei de bilboquê ou biloquê, como queiram, joguei bola de gude (tinha esferinhas, olho de gato, tinha as joguinhas) e botão puxador (lembro do cheiro do acrílico dos botões de duas, três ou quatro camadas que ainda guardo em casa) e antes dos puxadores que eram caros jogava com botões panelinha comprados em supermercados; já tive mola maluca, pulei pogobol (tive calos nos calcanhares).
Vídeo game era luxo e poucos jogavam Atari. Nunca tive um video game. PS: Li na internet que os egípcios jogavam bolita. Imaginem que o brinquedo durou de 3.000 a.C até a proliferação da internet.
O interessante é que muita gente não faz idéia de que brinquedos são esses. O próprio Word não reconhece essas palavras, tanto que já sublinhou todas sugerindo correção ortográfica, só que ele não oferece sugestões para substituir essas palavras. Até o Word, esse sabichão, é mais novo do que eu!
Já assisti TV em preto e branco. Lembro quando surgiu uma novidade: era uma tela que colocavam na frente da tela da TV, e que deixava a imagem “colorida”. Aquilo era bizarro, umas das invenções mais bizarras que já conheci.
Eu tive caxumba. De um lado só. Um vizinho meu teve primeiro. Então minha mãe mandou eu brincar com ele uma tarde. Era a oportunidade que eu precisava para adoecer e não ir a aula. Era um acontecimento contrair caxumba. Impressão minha ou as crianças de hoje em dia não contraem caxumba?
Lembro das Diretas já!, lembro vagamente também, da morte do Tancredo. Era novo, mas tenho lembranças disso. Vivi mais intensamente o impeachment do Collor. Minha geração tem orgulho de ter tirado um presidente do poder. Com oito anos tinha alguma consciência política. Também não percebo isso ocorrer hoje em dia.
Enfim, chega de nostalgia e saudosismo e vamos ao que interessa. O Roger, que também é da minha geração, se orgulha de outra coisa. Ele diz que foi ele um dos responsáveis pelo “ficar“. Ficar nada mais é do que beijar na boca, sem obrigações posteriores, sem ter que ligar no dia seguinte. Só se der vontade de ficar de novo, é claro. E sem a necessidade de estar chapado, como estavam em Woodstock.
O ficar tem algumas variações que vão desde o singelo mão na bunda, avançando ao apalpamento de partes íntimas, culminando no sexo casual. Falando nisso, nunca entendi a lógica das mulheres primeiro permitirem uma mão na bunda, se é a bunda a última coisa que elas dão. Isso, quando dão. E última coisa que você toca é a primeira que você come!
Por mais incrível que possa parecer para alguns, nem sempre foi assim. Você gostava de uma guria e era isso. Nada além disso. Trocava algumas cartinhas que faziam ruborizar a face e mais nada. Era a época do gostar. Beijar na boca, pegação mesmo, descompromissada, ocorreu depois, com o avanço da sociedade.
Lembro dessa mudança gradual. Dessa não necessidade de gostar de alguém para beijar na boca. Era só o interesse, a vontade, a curiosidade. Curiosidade saciada e cada um voltava para sua casa feliz e satisfeito. O ficar tinha algumas barreiras, já que nem todas gostavam de sair ficando por aí. Lembro de algumas vizinhas que se orgulhavam de terem ficado só com um, ou dois. Queriam namorar ao invés de sair beijando na boca por aí. Grandes merdas!, pensam os jovens de hoje. Bobas elas que perderam a juventude em nome da lenta adaptação a sem-vergonhice que, ainda bem, chegamos nos dias atuais.
Talvez o ficar tenha sido um dos maiores avanços da minha geração. Acho que o Roger tem razão, devemos a minha geração essa liberdade nos relacionamentos. O amadurecimento nas relações. Minha geração vivenciou uma queda de um regime militar, uma queda de um presidente eleito de forma democrática e deu o pontapé inicial a promiscuidade que a sociedade aceita hoje de bom grado através dessa “ficação“ desenfreada.

Um comentário:

  1. Pois então, também me lembro no colégio quando os meninos já não se satisfaziam mais com olhares timidos, cartnhas entregue pelas amigas e festinhas de garagem só com o propósito de dançar... Mas já tentou explicar o "ficar" para uma pessoas de 60,70 anos de idade?? Hehe...

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