quinta-feira, 16 de junho de 2011

o pastor sábio

Esses dias conversei com o Billy enquanto eu mateava a tardinha:
- Billy, tu que és um velho já, me faz um favor: amanhã pela manhã, quando aquele guaipeca começar a latir, grunhir e chorar, tudo ao mesmo tempo, vá até ele e crave dois dentinhos no pescoço dele. Não o faça sofrer muito, apenas retire cirurgicamente as cordas vocais dele. Te confesso que tenho vontade de fazer ele amanhecer pendurado naquela árvore com uma corda no pescoço, mas as leis que protegem os animais e os seus super protetores me levariam para prisão.
Billy só me olhava, enquanto eu continuava cevando e sorvendo meu chimarrão:
- Já te contei, que se um dia eu atropelar um animal ali pelas bandas do Taim, na frente de um policial, vou ter que matar o policial, para ter menos incomodação?
Billy só bocejava e me olhava. Então fui mais incisivo:
- Cara, não agüento mais. Todos dias pela manhã, madrugadão, sete da matina, esse cusco começa a latir e chorar intermitentemente. E assim fica até as nove latindo, aquele filho duma cadela puta. Justo eu que deveria acordar as nove da manhã! Eu já percebi que tu também tá de saco cheio daquele impertinente, que fica nos teus garrões, que fica te mordiscando o rabo, rolando na tua frente. Então, Billy, dá um jeito nisso, tu que és o mais velho aqui, desquartejado de tão velhusco, e acaba com esse pobre pulguento. Antes que eu faça uma loucura e tu me veja saindo num camburão algemado ali por aquele portão.
Foi então que o Billy levantou, olhou pra mim e falou, com aquele sotaque bem carregado de pastor alemão:
- O problema é que esse filhote acha que é um galo. Um garnizé!
- Sorvi meu mate, calado, matutando como pode um cão falar com um humano...

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