terça-feira, 2 de março de 2010

a mesária

Uma das primeiras “profissões” do Roger foi ser mesário, nas eleições. Fora convocado para trabalhar nas eleições presidenciais, justamente como, vejam só, presidente de mesa. Sentiu-se honrado, importante. Participou de reuniões antes da eleições, preencheu ata, instalou urna, fixou cartazes. Foi um digno representante da sociedade no processo democrático. Ganhou um vale alimentação e folga no seu emprego, para descansar durante a semana. Preço do vale alimentação: 10 pratas. Torceu pelo segundo turno.
Comandou mesários, secretários. Tudo isso aos dezoito anos. Estava orgulhoso. No primeiro turno, nervoso, fez a barba rala e foi até a sua seção. Colocou a melhor e única camisa que tinha. Não dormiu direito na noite anterior. Lera que poderia dar voz de prisão, caso alguém tivesse um comportamento inadequado no recinto.
- O senhor está preso! - sonhou. Acordou apavorado, rezando para que nada fora do contexto acontecesse.
Pela manhã, no café, releu as instruções. Foi cumprir sua tarefa. Chegou cedo. Esperou pela chegada dos mesários. Quem seriam eles? Tinha os nomes em mão, mas não fazia idéia de quem eram.
- Bom dia! - disse o mesário, único homem da lista, e primeiro a chegar.
Minutos depois, chega a secretária. Uma senhora, casada, com cabelos loiros amarelados, desses que até mesmo o Roger percebia não serem cabelos naturais. Dez minutos depois, chega a outra mesária. Uma mulher com cabelos crespos, casada, mãe de dois filhos. Já não tinha o corpo de uma menina, longe disso. As duas gravidezes foram implacáveis àquela morena de rosto bonito. Todos já se conheciam, já haviam trabalhado nas eleições municipais, dois anos antes. Roger era a única novidade, naquela equipe.
Eleição tranqüila. Seção mais tranqüila ainda. A mesária loira havia levado café, com um bolo feito nas formas redondas. O mesário, precavido, levou uma mateira. A mesária morena, levou chocolates. Roger não levara nada, talvez por que não tenha pensado nessas coisas, preocupado que estava com o andamento da votação. Aproveitaram o andamento da votação para conversar bastante.
Descobriu que a mesária morena, tinha dois filhos, que tinha 25 anos, que o relacionamento conjugal já não era como dantes. Carente, fazia críticas ao matrimônio. Tampouco fazia questão de esconder suas escapadelas. As conversas fluíram de forma impressionante, de forma a ruborizar a face do jovem rapaz. Na mesma hora, percebeu sua malícia, ao pedir carona, na hora do almoço.
- Tu tá de carro? - perguntou a mesária morena.
- Sim. - respondeu tímido.
- Me dá carona? Moro pelo caminho. - disse despudoradamente, com um sorriso safado no canto da boca.
Foram almoçar. Tinham menos de uma hora. Dentro do carro, ela ataca o rapaz.
- Nós não vamos pra casa direto, né?
A pergunta era a deixa para levá-la para uma estrada de chão, nas proximidades, onde tinha pouco movimento. Sem tempo para conversas, beijaram-se e despiram-se somente o necessário. Ele desabotoou a calça jeans, mais nada. Ela levantou o vestido cumprido que usava, baixou a calcinha, e mais nada.
As rapidinhas tem o seu valor. Ainda mais em uma situação como essa, onde a falta de tempo, somadas ao tesão da ocasião eram os fatores preponderantes. Ele não sabe bem precisar o tempo, mas crê em torno de 5 minutos, exageradamente falando. Depois, vestiram-se e foram almoçar.
A tarde, ela foi a última a sair da seção. Era uma mesária dedicada. Ela queria mais, queria marcar algo. Ele não queria rolos com mulheres comprometidas. E ainda tinha de levar o disquete até o Cartório Eleitoral. Mas, ambos queriam o segundo turno. E os candidatos ao governo do Estado proporcionaram um novo encontro e mais dez reais no bolso do jovem Roger.
No segundo turno, Roger já sentia-se um veterano em eleições. Até dormiu bem na noite anterior. O eleitor tinha de apertar dois botões, para colocar o número do candidato, e depois o verde. Pronto! Fácil. Não tinha como algo dar errado, e não deu. Seção vazia, pacata. Na hora do almoço, Roger ofereceu:
- Vai precisar de carona hoje, de novo? - perguntou faceiro, como um guri com uma bola nova embaixo do braço.
- Hoje não, meu marido vem me buscar.
Não seria daquela vez. A tarde passou de forma lenta, arrastada. Repensou sua participação na democracia brasileira. Pesou os dez contos que ganharia, enquanto que seus amigos jogavam bola na praça, perto da sua casa. Aquela negativa, por parte da mesária morena, soou como uma voz de prisão a um militante fazendo boca de urna. No final do dia, ela foi a última a sair. E deixou um bilhete, com o número de celular, com uma frase abaixo que dizia: “Me liga terça, depois das 6”.
Depois, voltou e perguntou:
- Tu gostas de leite condensado?
- Gosto.
Terça feira, seis hora da tarde, ele liga. Ela atende. Explica que o esposo saía pra trabalhar a tardinha, já que era vigia noturno e só voltava pra casa, no outro dia, pela manhã. Marcaram um encontro para quinta feira, já que na quarta ele folgaria. No dia combinado, na hora combinado ele a apanha, de carro.
- Oi.
- Oi. Passa naquele mercado, antes de irmos para o motel? - solicita ela.
- Claro.
Ela desce e volta com uma embalagem de leite condensado. Naquelas embalagens Tetra Pak.
- Vou te chupar como ninguém nunca te chupou antes. - diz ela, sabedora da pouca idade e experiência do guri.
De fato, ela tinha razão. Poucas vezes havia recebido sexo oral. Nunca havia recebido sexo oral com leite condensado. Ela espalhou a guloseima pelo corpo dele. Pelo peito, mamilos, barriga, umbigo. Espalhou também pelas pernas, coxas, virilha. Guardou uma dose generosa para o pau. Lambeu tudo. Tarada por sexo oral, tarada por leite condensado. Transaram o restante do tempo estipulado pelo motel. Na saída, Roger perguntou:
- Não vai levar o resto do leite condensado?
- Não. Deixa aí.
- Não. Eu vou levar.
Roger a deixou perto da sua casa. Viram-se somente mais uma vez, num evento. As crianças, o marido e ela. Pareceu um bom pai, o pobre marido traído. Cumprimentaram-se discretamente. Depois, nunca mais se encontraram.
No dia seguinte ao motel, a tarde, Roger fez pipoca, e, rindo sozinho, terminou de vez com o leite condensado e com aquela história. A história da mesária tarada por leite condensado.

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