quinta-feira, 9 de setembro de 2010

o puteiro

O salão nobre das festas dos homens é um puteiro. Um lugar peculiar. Gosto de puteiros, das músicas, do palco, da penumbra e até da fumaça do cigarro. Por incrível que pareça, o que menos gosto é da atitude das mulheres, que só me acham interessante apenas se eu tiver dinheiro. E dinheiro tem me faltado ultimamente. Feio fica lindo em puteiro, basta ter dinheiro ou um bom limite no cartão. A beleza do cidadão está diretamente ligado ao dinheiro que ele possuí na carteira, diga-se de passagem, muito parecido com a vida fora da putaria.
Ainda sobre os puteiros, me fascina um local que existe desde que o mundo é mundo, onde as pessoas vão em busca do proibido. E lá, no prostíbulo, nem tudo pode, nem tudo é permitido. Existem regras. Passar a mão em bundas e peitos só é aceitável mediante pagamento de doses. Não é permitido cortejar a puta do outro enquanto o outro estiver pagando suas doses. É um mundo muito regrado esse do meretrício.
Sou solteiro. Solteiros apenas gostam de puteiros. Agora, os casados amam putas e proxenetas. Costumam se apaixonar. A prostituta identifica o cara comprometido, mesmo que ele ouse tirar a aliança. Ocorre que não há motivos para tirar a argola, até mesmo porque elas preferem os casados. É sabido, putas não beijam na boca. No máximo dão bicotinhas, selinhos. Porém é comum ver casados enamorados às putas nos cantos, ainda mais, escuros das casas, aos beijos, daqueles de novela.
Foi num salão desses, de uma alcoviteira bastante conhecida, que o Roger fez a alegria da gurizada, com uma dessas histórias que não vemos por aí, em qualquer esquina, ou no caso, em qualquer casa do sexo pago.
Era uma despedida. Qual lugar melhor para uma despedida do que um puteiro? Desconheço. Tu não comes ninguém, mas ri muito. Entretenimento puro. Assim foi naquele dia.
- Oi. O nosso amigo tá indo embora. Quanto tu cobras pra dar pra ele? - perguntou o Roger, cercado pelo resto da gurizada. - Só que tem que ser na frente de todo mundo!
- Ah, na frente de todos não faço. - disse a puta bastante mona.
Dois detalhes fundamentais: toda puta é difícil sem ver a cor da grana, a menos que tenha se drogado muito; a puta em questão, sentada num mocho alto, aparentava uns cinqüenta e cinco anos, lhe faltava um dente, seus cabelos lembravam a os da cantora e atriz Cher nos anos 80, e o corpo, bem o corpo, digamos que já foi bonito um dia.
- Pensa bem, faz teu preço. Nós queremos pagar pra ele uma noite de sexo. Ele é virgem, inclusive.
- Vocês só vão ver?
- Sim. Nós só vamos ver.
- Então tá. Cem reais!
Era uma negociação. Negociamos todos os dias, na feira, no banco, no supermercado. Geralmente, cada um cede um pouco, e ambas as partes chegam num valor consensual. Não foi o caso. O Roger foi irredutível, usou argumentos convincentes e fecharam o preço, de acordo com as necessidades dela, e a capacidade dele.
- Dez reais, então. Mas, não vou dar o cu pra ele! - exigiu a moça, bem menos intransigente.
- Negócio fechado!
Agora, faltava o interesse do amigo que partia. Fomos até ele, que rechaçou aquele trambolho. E ainda acrescentou uma provocação:
- Aquela lá ninguém come!
- Paga que eu como! - disse o Roger, aceitando a provocação.
E assim foi. Nosso amigo foi até a donzela, que bebericava um Martini:
- Oi. Quanto tu cobras para transar com aquele meu amigo? Com um detalhe: tem que ser na frente de todo mundo!
- Cem reais! - cravou ela.
- Eu pago! - disse ele, sem negociação, para sorte da meretriz.
E assim, foram pro quarto. Ela na frente, depois o Roger, o amigo que bancava a brincadeira e nós. Éramos uns seis no quarto. Cabe comentar que a puta mor baixou o som da vitrola, para que todos pudessem ouvir e rir da festa que acontecia no quarto. Dentro do quarto, todos batiam palmas, davam gargalhadas, assoviavam e incentivavam o menino Roger. Particularmente não faço idéia se era mais difícil manter a ereção diante de tal algazarra ou perante a qualidade da fêmea. Mas, o Roger foi um guerreiro, cumprindo com suas obrigações. Não sem antes atender um pedido da puta, que ao colocar o pau na boca, o mandou para o banho, o que lhe rendeu o apelido de ‘relaxado‘.
Depois do ato, compadecido, fui conversar com puta velha. Nunca tinha visto uma puta tão velha em atividade, imaginei que ela teria histórias para contar:
- Faz muito tempo que tu trabalhas nisso?
- Não. Eu não sou puta.
- Não?! - me surpreendi.
- Não. Só faço isso porque preciso.
Fiquei abalado. De um lado fanfarrões. De outro, mulheres que precisam de dinheiro. Homens que mentiram e deixaram as suas mulheres e filhas em casa, de outro, mulheres que deixaram seus filhos em casa, passando necessidades básicas. E eu, com um copo de cerveja na mão. E elas juntando trocados para comprar leite.
Lembrei de uma vez, numa excursão de jogo do Grêmio, quando um vendedor ambulante correu duas quadras tentando vender cachorros-quente para os passageiros. Lembro que gritei pra ele:
- Que vontade de vender, hein!
E ele respondeu, rimando:
- Necessidade de sobreviver, sobreviver.
Comprei o cachorro-quente frio e mal prensado. Lembrei disso enquanto conversava com a puta velha - ou seria velha puta? -, escorado no balcão. Desacorçoado com a situação, pensei em encerrar o assunto, ir embora pra casa, abalado que estava, mas percebi que outro colega ainda continuava a conversa:
- O que tu faz, então?
- Sou traficante. - disse ela docemente. - Só estou aqui para juntar dinheiro para pagar a fiança da minha filha, que foi presa por tráfico também.

Um comentário:

  1. Bah! Essa história é muito boa!! Pior q não é história né! Lembro quando tu me contou o acontecido, numa das nossas viagens para Pelotas, e eu chorava de rir. Muito bom!!! Aliás, saudades das nossas viagens!!!! Beijão!

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