O Roger foi convidado para um swing. Na verdade, foi selecionado. Participar de um swing não é para qualquer um, como nós. A não ser que você vá em uma casa de troca de casais contribuindo financeiramente. Solteiros vão a swing, mas pagam muito caro por isso, e podem sair de lá sem comer ninguém.
Uma das principais regras desse mundo secreto refere-se ao poder da mulher. Num swing, quem decide é a mulher, com o consentimento do homem. Seja para o que for. Então, o cara solteiro acessa uma casa de swing e, caso as mulheres não se agradem da espécie, o deixam na mão. Por isso, muitas casas disponibilizam mulheres solteiras. Putas solteiras, melhor dizendo. Mas, putas não participam de swing. Logo, o cara entra numa casa de swing, e para não ficar literalmente na mão, empenhado, acaba com uma putinha qualquer, com preço de puta de luxo.
Alguém deve porventura pensar que eu já fui numa casa de swing. Pois é, já fui. Minha monografia da faculdade que trata do tema, foi adaptada e postada nesse blog. Triste fim para uma monografia tão interessante.
A troca de casais a que me refiro, onde o Roger foi convidado, era uma festa particular, fechada, para casais. Vou explicar: os casais se conhecem, geralmente, pela internet. Sites específicos para casais em busca do swing. Trocam mensagens, telefonemas e por último carícias. Mas, festa de casais swingeres em cidade pequena sofre alguma censura prévia. Os casais temem surpresas desagradáveis. Imagina se na mesma festinha com troca de casais você encontra a sua cunhada com a boca ocupada. Bem, o exemplo foi um fetiche. Mas, assistir sua irmã mais nova, que completara 18 aninhos ontem, com as mãos, boca e o resto ocupado, num gang bang alucinado é de vomitar.
Essas festas são capitaneadas por um casal mais experiente. O casal aluga uma casa, cobra certo valor para ajudar nas despesas, e ainda cobra por bebidas. O objetivo não é o lucro, e sim o sexo, por isso os preços são mais justos, mas acabam selecionando o público.
As mulheres costumam exageram deliciosamente nos decotes, nas costas de fora, coxas amostras. As langeries são sensuais, propícias para a ocasião. Os homens... Bem, os homens o Roger não soube me detalhar. Apenas disse que eram casais normais, de classe média, desses que esbarramos nos restaurantes e nos supermercados.
A própria entrevista de aprovação foi normal. Beijos nas bochechas, olhos nos olhos, papos de protocolo. O que fazia, de onde era, se tinha experiências anteriores, se estava preparado, se conhecia as regras. Pronto!, estava aprovado. O difícil foi agendar a entrevista. Festa concorrida, sabe como é.
Roger tinha uma parceira. No meu tempo, chamávamos de amizade colorida. Hoje tudo mudou. Ela era uma amiga sexual. Uma foda fixa. Ele era um pau amigo. Ela foi aprovada também. Era discreta como uma freira. Mas, na cama uma puta completa. O perfil procurado para a festa dos casais.
Não foram o primeiro casal a chegar na casa alugada, uma espécie de sítio. Também não foram os últimos. A lareira estava acessa, mesmo que estivéssemos na meia estação. Na entrada, o casal organizador recepcionava os convidados e colhia o dinheiro. Naquela noite, uma garçonete esculpida em pedra sabão servia as bebidas e apontava numa caderneta. Doses depois, Roger já tinha vontade de apagar o fogo da lareira. E das mulheres da sala também. Um casal puxa assunto, conversas frívolas. Roger foi ao banheiro, onde haviam muitas toalhas de papel e preservativos. Voltou e percebeu que o casal estava mais próximo da sua parceira, numa almofada gigante. Bebiam, riam e, aos poucos, deixam a timidez de lado. Outros casais faziam a mesma coisa. Uns cumprimentavam-se como velhos conhecidos. A música ao fundo era de bom gosto. Na sala de estar, casais assistiam um show internacional num DVD.
Roger já estava incomodado com tamanha seriedade do evento, quando a organizadora apresentou a grande atração da noite. Um show de strip-tease da garçonete esculpida por Aleijadinho. Ele jamais imaginou que aquela moça que olhava para o chão fosse capaz de excitá-lo num piscar de olhos. A moça só parou de dançar quando reparou que o volume das calças dos homens indicavam que a festa havia começado.
Vou poupá-los dos detalhes. A curiosidade costuma atiçar os desejos das pessoas. Quem quiser conhecer uma festa de casais que procure o Roger. Ele conhece os atalhos. Falando nele, se diz preocupado. Acha que depois de transar com inúmeras mulheres totalmente safadas na mesma noite, terá dificuldades para casar com uma apenas. Acha que depois de ver sua parceira fazendo coisas que jamais imaginou que uma mulher pudesse fazer na mesma noite, que está com um pouco de medo do que podem fazer as “mulheres modernas de hoje em dia”. O mundo nos esconde certas coisas que é bem melhor não sabê-las.
Mostrando postagens com marcador swing. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador swing. Mostrar todas as postagens
quarta-feira, 14 de março de 2012
quarta-feira, 1 de junho de 2011
o swing, o sofazão e uma monografia
Faz tempo que queria falar sobre a minha monografia. Pensei em postá-la no blog e talz. Porém, um trabalho acadêmico, por mais interessante que seja, é extenso e não combina com o blog, que dizem ter um cunho sexual. Se bem que a monografia foi sobre turismo sexual. Então, antes do conto sobre troca de casais, que virá em breve, segue parte da monografia.
Resolvi resumir e analisar de forma mais informal o trabalho acadêmico. Primeiro queria dizer que durante a faculdade fui um bosta de aluno. Trabalhava oito horas por dia, que somados as duas horas de almoço, e a deslocamentos de casa ao trabalho de uma hora, me roubavam onze horas do dia. Ou seja, metade do meu dia era dedicado a qualquer coisa que não fosse a faculdade. E pasmem!, eu dormia durante a faculdade. Em média, digamos, sete horas por dia. Dezoito horas por dia não dedicados aos estudos e ao descanso. As aulas eram a noite, três horas e meia. Restava pouco tempo para estudar. E eu preferia namorar. Aos sábados o tal do curso de inglês. Restava pouco tempo por semana para ser um bom aluno. E eu desperdicei.
Então pensei que seria importante fazer alguma coisa legal na faculdade. Meus colegas eram bolsistas, faziam estágios, participavam de programas de extensão. Eu não. Resolvi que a monografia poderia fazer com que minha passagem pela faculdade não fosse um breu total.
Assim decidi falar sobre turismo sexual. Não concordava com a conotação pejorativa que encontrava nos livros: Turismo sexual é algo negativo e ponto final. Como assim? Baseado em que? Claro que as referência bibliográficas tratavam de exploração infantil e de prostituição. Como se somente turistas fossem a puteiros ou que pedofilia acontecesse somente com viajantes. Precisava comprovar que turismo sexual pode ser bom, pode ser legal. Sem exploração sexual e sem exploração infantil.
Pensei em viajar num cruzeiro de estudantes. Só um pai inocente pode achar que num cruzeiro de estudantes o mais importante é conhecer os lugares que o navio atraca. Ou interagir com a comunidade do local visitado. Óbvio que foco é a azaração, as festas e, sim senhores, o sexo.
Lembro que uma vez fui convidado por um agente de viagem que me confidenciou que nesses cruzeiros o negócio é fifty-fifty. Metade homens, metade mulheres. Justo! Se houvesse desproporcionalidade, os próximos cruzeiros estudantis estariam comprometidos.
Mas, devido a minha não solteirice na ocasião optei por visitar o Sofazão, tradicional casa de swing de Porto Alegre. O dono, um ex-padre, me afirmou na entrevista que foi primeira casa de troca de casais do Brasil. Foi a única vez em que entrevistei alguém que o Jô Soares já entrevistou.
Parte 1 http://www.youtube.com/watch?v=m8ZY-diLsDU&feature=related
Parte 2 http://www.youtube.com/watch?v=dPYUfjPM8l0&NR=1
***
O Sofazão começou por acaso. Era um restaurante que ía mal das pernas. O Roque, dono do Sofazão, me disse que acrescentou a música ao vivo. Os casais começaram a dançar, e depois pediram um quarto emprestado. Depois outro. Até que o ex-padre percebeu que o pessoal queria sexo. Então propôs que emprestaria o quarto, mas não a chave. E os casais safadinhos aceitam transar com a porta aberta, para delírio dos amantes do exibicionismo.
O Sofazão eu conheci na Zero Hora. Repórteres disfarçados fizeram uma reportagem sobre o local, dias depois do Paulo Sant’ana ter falado da casa em sua coluna de ZH. Depois li em alguma revista, depois no Jô. E por último na internet.
Minha professora co-orientadora, uma antropóloga, adorou a idéia, principalmente por ser um ex-padre o dono do estabelecimento ligado a promiscuídade. Igreja e sexo. Polêmico. E o fato de contestar os conceitos bibliográficos existentes era o que mais me atraía. Iria contra os teóricos através da prática. Fui desaconselhado por colegas de faculdade, que achavam arriscado, que diziam que seria mais difícil fundamentar minha defesa, e temiam pela minha nota. Resolvi arriscar.
Lembro dos comentários nos corredores da faculdade. Muitos queriam assistir a defesa da “monografia da putaria“. Outros faziam piadas. Diziam que haviam transferido minha monografia, marcada inicialmente para 19h para as 22h, pois seria um horário mais apropriado para tratar do tema. Eu não ria, estava nervoso. Só quem já defendeu uma monografia sabe do que to falando. Não estava nervoso, não estava ansioso. Estava cagado mesmo! Iria desafiar as regras, na frente de todos meus colegas, da minha família.
A maioria que lotou a sala de aula queria mesmo era saber da putaria. Poupei os detalhes mais sórdidos durante a defesa, temendo ruborizar minha mãe e madrinha que assistiam a tudo orgulhosamente. Lembro que, depois que a banca saiu para decidir minha nota, fui elogiado por duas colegas, pela forma como tratei do assunto.
***
Aqui no blog, cabe comentários sobre o Sofazão, até então omitidos. Bom, primeiro, fomos - minha ex-namorada e eu - interessados em jantar no Sofazão, mas o restaurante não existe mais. Ela entrevistaria as mulheres, e eu os homens. Era uma forma mais fácil de criar uma intimidade com os swingers. Era necessários deixá-los a vontade.
E eles ficaram depois que as brincadeiras começaram. O Roque fazia as vezes de animador da festa. Justo ele que tinha sido notícia na Zero Hora daquela semana. Era ano eleitoral - 2006 - e ele queria concorrer a Deputado Estadual pelo Partido dos Trabalhadores. Mas, depois do mensalão, a cúpula do PT no RS resolveu melar a candidatura do empresário.
Abaixo, reproduzo parte da monografia..
2.2 Análise do Sofazão
“Em atividade há mais de dez anos na capital do Rio Grande do Sul, a casa de swing Sofazão já esteve localizada em diversos lugares da cidade Porto-Alegrense. Primeiramente, percebe-se não tratar apenas de um clube de swing, mas um local freqüentado também por praticantes de ménage a trois#, Voyeurs# e exibicionistas#. Seu proprietário, Roque Rauber, gaúcho de Bom Princípio do Sul, afirma ter sido a primeira casa de swing do Brasil. Com 65 anos de idade, Roque foi um padre da Igreja Católica, formado em Teologia em Burgos, na Espanha. Pelo Direito Canônico, no entanto, continua sendo um Padre. Antes disso, Roque já vendeu livros, remédios, casou-se três vezes, teve filhos, foi dono de restaurante. Aliás, foi deste restaurante “pouco lucrativo” que surgia o Sofazão. Nos fundos do restaurante, um espaço para bailes. Através da solicitação dos casais, os shows foram sofrendo alterações, com música ao vivo, shows de streep-tease e , enfim, sexo explícito. A excitação era tamanha que um quarto era cedido aos casais extravasarem seus desejos. Quando o proprietário resolveu cobrar uma taxa para utilização do quarto, a negociação ocorreu da seguinte forma: em troca da utilização da peça, os casais tinham de deixar a porta aberta. Assim, Roque percebera que vários casais gostavam de olhar e outros de serem observados. Foi nesta mesma época que o restaurante era locado para aniversários, casamentos e festas infantis.
O Sofazão abre suas portas de terças a sábados. Atualmente, localiza-se em um prédio, na Avenida Assis Brasil, em uma avenida de intenso fluxo de veículos que contrastam com uma fachada discreta, estampada com o desenho de um sofá, de lado a lado da do frontal.
O ambiente é constituído por duas áreas principais. A parte térrea é o local onde ocorrem as brincadeiras, as trocas de olhares. A parte superior, nas sextas e nos sábados, é onde os casais se dirigem para realização de suas fantasias. Porém, o acesso ocorre somente após a uma hora da manhã. É lá que se encontram outras suítes, com destaque para o quarto escuro, cujo nome torna desnecessária apresentações, e o confessionário – local para observação de casais através de uma divisória de madeira vasada, tal quais os confessionários utilizados pelos padres das Igrejas Católicas.
No hall de entrada, além dos banheiros bem cuidados – com trancas, inclusive – um peça com armários, onde os casais deixam seus pertences. A chave do cadeado permanece presa ao pulso do homem envolta a uma pulseira de borracha.
O ingresso custa R$ 20.00 por casal, enquanto que os solteiros pagam R$ 50.00. Elevado também é o preço das bebidas, aonde o custo de uma lata de refrigerante chega a R$ 5.00. Sigilo é o preço do sexo ofertado pelas mulheres que andam pela casa. Fato é que a prostituição de mulheres ocorre no mesmo recinto onde casais fazem sexo sem exploração.
A decoração é sempre temática, desde festas de aniversário, carnaval de inverno ou de verão, desfile de fantasias – ou da falta delas -, o corno mais feliz, a miss galinha, os destaques do ano e outros. Na ocasião, a decoração era com balões verdes e amarelos e bandeiras do Brasil, visto realização da Copa do Mundo de futebol na Alemanha.
(...)
2.3 As brincadeiras de salão
O ambiente gera expectativa. Percebe-se certa timidez, mesmo nos casais mais experientes. A movimentação deve-se a alguns casais que dançam discretamente nos cantos do salão e ao deslocamento em busca de alguma bebida. As músicas, em som ambiente, abrangem aos mais variados estilos. As portas abrem às 20 horas, embora o movimento tenha começado às 22 horas aproximadamente, com a chegada dos primeiros solteiros e casais. Às 23 horas desce o mestre de cerimônias de um espetáculo que durará cerca de oito horas. Trajando um terno alinhado, Roque cumprimenta todos os clientes, procurando deixa-los à vontade. Já com um número razoável de participantes, Roque dá inicio a uma série de atividades que buscarão desinibir os casais. A primeira brincadeira é a dança da cadeira, devidamente adaptada aos interesses dos participantes que no princípio são as garotas de programa e os solteiros, já que nenhum casal parece desinibido. Ao invés de cadeiras, uma mesa de madeira. Ao invés da eliminação precoce, o participante que não conseguisse sentar a mesa, tirava uma peça de roupa e quando estivesse nu, permanecia sentado aguardando o restante da brincadeira. A brincadeira acaba quando resta um único participante com alguma peça de roupa.
A segunda brincadeira acontece alguns minutos mais tarde. Roque a chama de “a escolha do pequeno e do maior”. Com muita descontração, os participantes, em troca de duas cervejas, são apalpados por duas garotas que circulam perante os sofás com uma lanterna na mão para eleger os maiores e menores pênis dentre os participantes.
Com a lotação maior, começa a terceira apresentação da noite. Através de uma pequena representação teatral, onde os “atores” são uma das garotas que faz programa e um solteiro que participava pela primeira vez naquela noite. A “peça” encenada na frente dos casais foi ensaiada verbalmente no hall de entrada. O “ator” representou um bêbado, enquanto que a “atriz” representava uma prostituta. O desfecho foi uma cena de sexo explícito, no meio do salão, a dois metros dos sofás onde estavam os casais.
A quarta brincadeira teve participação de praticamente todos os casais. A “dança da vassoura” ocorreu ao som de forró. A natureza da brincadeira consiste em uma troca constante entre os pares dançantes em substituição a uma vassoura. Duas músicas seguidas e os casais já estão prontos para acessar o andar superior onde ocorrem as “atrações sexuais”.
***
O que mais me marcou nessa experiência, nesse mundo da troca de casais foi que todas as pessoas que lá estavam eram pessoas comuns. Senhoras e senhores trabalhadores. Nenhuma gostosa estupenda, nenhum garanhão alado. Poderiam ser meus pais, meus tios, meus amigos. Não nego uma ponta de decepção após essa constatação. Bem, quem mandou eu imaginar um mundo fantasioso vivido por pessoas saradas?
Relativizar é um grande desafio na nossa sociedade preconceituosa e hipócrita. Achei os 9,5 uma nota excepcional, mas preferi os comentários da banca e dos meus colegas. Não tenho dúvida, que aquele aluno fraquinho que eu fui, fez um bom trabalho enquanto era tempo, comprovando que pessoas podem viajar para outros lugares em busca de sexo com pessoas que viajaram em busca de sexo, sem que haja exploração sexual ou exploração infantil. A teoria está equivocada.
Resolvi resumir e analisar de forma mais informal o trabalho acadêmico. Primeiro queria dizer que durante a faculdade fui um bosta de aluno. Trabalhava oito horas por dia, que somados as duas horas de almoço, e a deslocamentos de casa ao trabalho de uma hora, me roubavam onze horas do dia. Ou seja, metade do meu dia era dedicado a qualquer coisa que não fosse a faculdade. E pasmem!, eu dormia durante a faculdade. Em média, digamos, sete horas por dia. Dezoito horas por dia não dedicados aos estudos e ao descanso. As aulas eram a noite, três horas e meia. Restava pouco tempo para estudar. E eu preferia namorar. Aos sábados o tal do curso de inglês. Restava pouco tempo por semana para ser um bom aluno. E eu desperdicei.
Então pensei que seria importante fazer alguma coisa legal na faculdade. Meus colegas eram bolsistas, faziam estágios, participavam de programas de extensão. Eu não. Resolvi que a monografia poderia fazer com que minha passagem pela faculdade não fosse um breu total.
Assim decidi falar sobre turismo sexual. Não concordava com a conotação pejorativa que encontrava nos livros: Turismo sexual é algo negativo e ponto final. Como assim? Baseado em que? Claro que as referência bibliográficas tratavam de exploração infantil e de prostituição. Como se somente turistas fossem a puteiros ou que pedofilia acontecesse somente com viajantes. Precisava comprovar que turismo sexual pode ser bom, pode ser legal. Sem exploração sexual e sem exploração infantil.
Pensei em viajar num cruzeiro de estudantes. Só um pai inocente pode achar que num cruzeiro de estudantes o mais importante é conhecer os lugares que o navio atraca. Ou interagir com a comunidade do local visitado. Óbvio que foco é a azaração, as festas e, sim senhores, o sexo.
Lembro que uma vez fui convidado por um agente de viagem que me confidenciou que nesses cruzeiros o negócio é fifty-fifty. Metade homens, metade mulheres. Justo! Se houvesse desproporcionalidade, os próximos cruzeiros estudantis estariam comprometidos.
Mas, devido a minha não solteirice na ocasião optei por visitar o Sofazão, tradicional casa de swing de Porto Alegre. O dono, um ex-padre, me afirmou na entrevista que foi primeira casa de troca de casais do Brasil. Foi a única vez em que entrevistei alguém que o Jô Soares já entrevistou.
Parte 1 http://www.youtube.com/watch?v=m8ZY-diLsDU&feature=related
Parte 2 http://www.youtube.com/watch?v=dPYUfjPM8l0&NR=1
***
O Sofazão começou por acaso. Era um restaurante que ía mal das pernas. O Roque, dono do Sofazão, me disse que acrescentou a música ao vivo. Os casais começaram a dançar, e depois pediram um quarto emprestado. Depois outro. Até que o ex-padre percebeu que o pessoal queria sexo. Então propôs que emprestaria o quarto, mas não a chave. E os casais safadinhos aceitam transar com a porta aberta, para delírio dos amantes do exibicionismo.
O Sofazão eu conheci na Zero Hora. Repórteres disfarçados fizeram uma reportagem sobre o local, dias depois do Paulo Sant’ana ter falado da casa em sua coluna de ZH. Depois li em alguma revista, depois no Jô. E por último na internet.
Minha professora co-orientadora, uma antropóloga, adorou a idéia, principalmente por ser um ex-padre o dono do estabelecimento ligado a promiscuídade. Igreja e sexo. Polêmico. E o fato de contestar os conceitos bibliográficos existentes era o que mais me atraía. Iria contra os teóricos através da prática. Fui desaconselhado por colegas de faculdade, que achavam arriscado, que diziam que seria mais difícil fundamentar minha defesa, e temiam pela minha nota. Resolvi arriscar.
Lembro dos comentários nos corredores da faculdade. Muitos queriam assistir a defesa da “monografia da putaria“. Outros faziam piadas. Diziam que haviam transferido minha monografia, marcada inicialmente para 19h para as 22h, pois seria um horário mais apropriado para tratar do tema. Eu não ria, estava nervoso. Só quem já defendeu uma monografia sabe do que to falando. Não estava nervoso, não estava ansioso. Estava cagado mesmo! Iria desafiar as regras, na frente de todos meus colegas, da minha família.
A maioria que lotou a sala de aula queria mesmo era saber da putaria. Poupei os detalhes mais sórdidos durante a defesa, temendo ruborizar minha mãe e madrinha que assistiam a tudo orgulhosamente. Lembro que, depois que a banca saiu para decidir minha nota, fui elogiado por duas colegas, pela forma como tratei do assunto.
***
Aqui no blog, cabe comentários sobre o Sofazão, até então omitidos. Bom, primeiro, fomos - minha ex-namorada e eu - interessados em jantar no Sofazão, mas o restaurante não existe mais. Ela entrevistaria as mulheres, e eu os homens. Era uma forma mais fácil de criar uma intimidade com os swingers. Era necessários deixá-los a vontade.
E eles ficaram depois que as brincadeiras começaram. O Roque fazia as vezes de animador da festa. Justo ele que tinha sido notícia na Zero Hora daquela semana. Era ano eleitoral - 2006 - e ele queria concorrer a Deputado Estadual pelo Partido dos Trabalhadores. Mas, depois do mensalão, a cúpula do PT no RS resolveu melar a candidatura do empresário.
Abaixo, reproduzo parte da monografia..
2.2 Análise do Sofazão
“Em atividade há mais de dez anos na capital do Rio Grande do Sul, a casa de swing Sofazão já esteve localizada em diversos lugares da cidade Porto-Alegrense. Primeiramente, percebe-se não tratar apenas de um clube de swing, mas um local freqüentado também por praticantes de ménage a trois#, Voyeurs# e exibicionistas#. Seu proprietário, Roque Rauber, gaúcho de Bom Princípio do Sul, afirma ter sido a primeira casa de swing do Brasil. Com 65 anos de idade, Roque foi um padre da Igreja Católica, formado em Teologia em Burgos, na Espanha. Pelo Direito Canônico, no entanto, continua sendo um Padre. Antes disso, Roque já vendeu livros, remédios, casou-se três vezes, teve filhos, foi dono de restaurante. Aliás, foi deste restaurante “pouco lucrativo” que surgia o Sofazão. Nos fundos do restaurante, um espaço para bailes. Através da solicitação dos casais, os shows foram sofrendo alterações, com música ao vivo, shows de streep-tease e , enfim, sexo explícito. A excitação era tamanha que um quarto era cedido aos casais extravasarem seus desejos. Quando o proprietário resolveu cobrar uma taxa para utilização do quarto, a negociação ocorreu da seguinte forma: em troca da utilização da peça, os casais tinham de deixar a porta aberta. Assim, Roque percebera que vários casais gostavam de olhar e outros de serem observados. Foi nesta mesma época que o restaurante era locado para aniversários, casamentos e festas infantis.
O Sofazão abre suas portas de terças a sábados. Atualmente, localiza-se em um prédio, na Avenida Assis Brasil, em uma avenida de intenso fluxo de veículos que contrastam com uma fachada discreta, estampada com o desenho de um sofá, de lado a lado da do frontal.
O ambiente é constituído por duas áreas principais. A parte térrea é o local onde ocorrem as brincadeiras, as trocas de olhares. A parte superior, nas sextas e nos sábados, é onde os casais se dirigem para realização de suas fantasias. Porém, o acesso ocorre somente após a uma hora da manhã. É lá que se encontram outras suítes, com destaque para o quarto escuro, cujo nome torna desnecessária apresentações, e o confessionário – local para observação de casais através de uma divisória de madeira vasada, tal quais os confessionários utilizados pelos padres das Igrejas Católicas.
No hall de entrada, além dos banheiros bem cuidados – com trancas, inclusive – um peça com armários, onde os casais deixam seus pertences. A chave do cadeado permanece presa ao pulso do homem envolta a uma pulseira de borracha.
O ingresso custa R$ 20.00 por casal, enquanto que os solteiros pagam R$ 50.00. Elevado também é o preço das bebidas, aonde o custo de uma lata de refrigerante chega a R$ 5.00. Sigilo é o preço do sexo ofertado pelas mulheres que andam pela casa. Fato é que a prostituição de mulheres ocorre no mesmo recinto onde casais fazem sexo sem exploração.
A decoração é sempre temática, desde festas de aniversário, carnaval de inverno ou de verão, desfile de fantasias – ou da falta delas -, o corno mais feliz, a miss galinha, os destaques do ano e outros. Na ocasião, a decoração era com balões verdes e amarelos e bandeiras do Brasil, visto realização da Copa do Mundo de futebol na Alemanha.
(...)
2.3 As brincadeiras de salão
O ambiente gera expectativa. Percebe-se certa timidez, mesmo nos casais mais experientes. A movimentação deve-se a alguns casais que dançam discretamente nos cantos do salão e ao deslocamento em busca de alguma bebida. As músicas, em som ambiente, abrangem aos mais variados estilos. As portas abrem às 20 horas, embora o movimento tenha começado às 22 horas aproximadamente, com a chegada dos primeiros solteiros e casais. Às 23 horas desce o mestre de cerimônias de um espetáculo que durará cerca de oito horas. Trajando um terno alinhado, Roque cumprimenta todos os clientes, procurando deixa-los à vontade. Já com um número razoável de participantes, Roque dá inicio a uma série de atividades que buscarão desinibir os casais. A primeira brincadeira é a dança da cadeira, devidamente adaptada aos interesses dos participantes que no princípio são as garotas de programa e os solteiros, já que nenhum casal parece desinibido. Ao invés de cadeiras, uma mesa de madeira. Ao invés da eliminação precoce, o participante que não conseguisse sentar a mesa, tirava uma peça de roupa e quando estivesse nu, permanecia sentado aguardando o restante da brincadeira. A brincadeira acaba quando resta um único participante com alguma peça de roupa.
A segunda brincadeira acontece alguns minutos mais tarde. Roque a chama de “a escolha do pequeno e do maior”. Com muita descontração, os participantes, em troca de duas cervejas, são apalpados por duas garotas que circulam perante os sofás com uma lanterna na mão para eleger os maiores e menores pênis dentre os participantes.
Com a lotação maior, começa a terceira apresentação da noite. Através de uma pequena representação teatral, onde os “atores” são uma das garotas que faz programa e um solteiro que participava pela primeira vez naquela noite. A “peça” encenada na frente dos casais foi ensaiada verbalmente no hall de entrada. O “ator” representou um bêbado, enquanto que a “atriz” representava uma prostituta. O desfecho foi uma cena de sexo explícito, no meio do salão, a dois metros dos sofás onde estavam os casais.
A quarta brincadeira teve participação de praticamente todos os casais. A “dança da vassoura” ocorreu ao som de forró. A natureza da brincadeira consiste em uma troca constante entre os pares dançantes em substituição a uma vassoura. Duas músicas seguidas e os casais já estão prontos para acessar o andar superior onde ocorrem as “atrações sexuais”.
***
O que mais me marcou nessa experiência, nesse mundo da troca de casais foi que todas as pessoas que lá estavam eram pessoas comuns. Senhoras e senhores trabalhadores. Nenhuma gostosa estupenda, nenhum garanhão alado. Poderiam ser meus pais, meus tios, meus amigos. Não nego uma ponta de decepção após essa constatação. Bem, quem mandou eu imaginar um mundo fantasioso vivido por pessoas saradas?
Relativizar é um grande desafio na nossa sociedade preconceituosa e hipócrita. Achei os 9,5 uma nota excepcional, mas preferi os comentários da banca e dos meus colegas. Não tenho dúvida, que aquele aluno fraquinho que eu fui, fez um bom trabalho enquanto era tempo, comprovando que pessoas podem viajar para outros lugares em busca de sexo com pessoas que viajaram em busca de sexo, sem que haja exploração sexual ou exploração infantil. A teoria está equivocada.
Assinar:
Postagens (Atom)