sábado, 7 de novembro de 2009

a muda

De todas as histórias do Roger, a que mais nos fez rir foi a da muda. Isso mesmo, uma surda-muda! No passado, já tinha tentando ficar com uma menina que não tinha o dente da frente, já que nunca tinha encontrado uma assim. Mas, não conseguiu, pois a moça já tinha um namorado, o que quase causou uma briga.
Voltando ao caso da mudinha: Num sábado, chuvoso, Roger saiu pra dar uma volta de carro. Mas, como chovia intensamente desde quinta feira, quase um dilúvio, não havia ninguém na rua, tampouco com intenção em ir para alguma festa.
Já conformado com o insucesso da noite de sábado, a caminho de casa, percebe uma menina, na chuva, aguardando um moto táxi. Ela estava ao relento, aguardando uma moto retornar ao ponto. Ele fez a volta na quadra e para ao lado da moça, no ponto regulamentado para as motos.
- Oi. Quer carona? - oferece.
- ...
- Vem! Te dou carona! - disse, já todo molhado pelos pingos que entravam pela janela do veículo.
- ...
Percebera, então, que a moça não falava. Gesticula então um volante, voltando a oferecer carona. A muda entende e gesticula um guidão, como se fosse aguardar a moto. Mas, de fácil comunicação, Roger mostra a chuva incessante, e convence a moça a aceitar a carona.
Dentro do carro, lembra que deveria olhar para a surda-muda, para que ela pudesse entendê-lo:
- Qu-al é o te-u no-me? - perguntava pausadamente, sem olhar pra frente.
- ...
- Qu-al é o te-u no-me? - reiterou.
E nada. Um vazio nas respostas. No porta-luva pega uma caneta e escreve num anúncio de supermercado, que havia recebido a tarde no semáforo:
- Como tu te chamas? - escreve. A resposta não veio escrita.
- Ah... Duda! - responde com muita dificuldade, como se fosse uma fanha.
Por um momento esquece a caneta e o anúncio e volta a perguntar:
- On-de tu mo-ras? - soletra.
- ...
- Quan-tos a-nos tu tens? - tenta novamente.
Paciência tem limite, né! Sábado à noite, uma chuva infindável, e sem diálogo, volta a gesticular: eu (apontando para o próprio peito) e você (apontando para a moça encharcada), na minha casa (formando com as mãos um telhado, com duas águas).
- Aham! - responde a muda, para convencimento do Roger, que sentiu-se um professor de libras.
Um inconveniente foram os gemidos da moça bonitinha. Como era surda-muda, talvez não tivesse muita noção dos decibéis dos gemidos que acordaram os vizinhos. A vantagem é que não houve muito papo, diferente das outras com quem tinha que xavecar. Tampouco teve a obrigação de ligar no dia seguinte.

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